MARIQUINHA E O DOUTOR

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Lá pelos tempos da Discoteca, a Mariquinha, nos seus salutares 19 anos, veio do Distrito de Pilar para trabalhar como doméstica na residência de um Médico por demais afamado pelos acertos dos diagnósticos. Ele, 47 anos, se encantou com a esbelta jovem. Ela, a esposa, mesma idade, proprietária de uma loja de roupas chiques no Centro, não percebeu os anseios sexuais do marido. E a vida seguiu célere com o Médico tendo sucesso nos diagnósticos nos dois grandes hospitais da Cidade e a esposa fazendo bons negócios em sua butique.

A adaptação da Mariquinha foi a melhor possível e o casal cada dia mais agradando da moçoila, principalmente, mais do que óbvio, o marido, que não perdia tempo em elogiá-la por demais da conta nas situações oportunas. A vida continuou seguindo seu rumo e o doutor tentando de tudo quanto era jeito, na técnica, conquistar secretamente a beldade. Ela, a beldade, não é que começou a gostar dos galanteios e até a considerar o doutor um coroa enxuto? Mas não demorou muito caiu o semblante da manceba no dia em que a patroa tinha um compromisso noturno. Era a deixa para o doutor. Nesse dia, saindo para o trabalho, o fera em diagnósticos se despediu da esposa e no alpendre se despediu da Mariquinha. Imediatamente, ela, a Mariquinha, entrou correndo casa adentro e foi para o seu quarto. A patroa, estranhando a correria, foi lá verificar:

– O que houve, Mariquinha, por que você está arrumando as malas?

– Ó, patroa, uma desgraça, uma enorme desgraça, eu preciso ir imediatamente pra Pilar, preciso estar com meus parentes no meu final de vida.

– Final de vida, que doideira é essa, garota?

– Por um acaso o patrão já errou algum diagnóstico?

– Claro que não, por isso ele é hoje um dos Médicos mais respeitados na Cidade.

– É por isso, patroa, é por causa do diagnóstico dele a meu respeito que preciso voltar agora pra morrer no meio da minha família.

– Gente do céu, o que o meu marido te disse?

– Eu estava lá no alpendre limpando as cadeiras quando ele veio se despedir de mim. Aí ele chegou pertinho de mim, alisou os meus cabelos e deu o diagnóstico. Por isso preciso ir embora, quero morrer lá com a minha família.

– Meu Deus do céu, o que ele te disse?

– Depois de alisar os meus cabelos ele falou: − Nessa noite você vai morrer de prazer nos meus braços! Ó patroa, se vou morrer de prazer, quero morrer de prazer nos braços de minha família lá no Pilar.

Ela, a Mariquinha, foi mesmo embora e, sobrevivendo, ficou lá pelo Pilar e lá se casou. Quanto ao doutor e a butiqueira, saiba que um mais um nem sempre são dois.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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