O hipertireoidismo é caracterizado por uma desordem hormonal que geralmente é causada por uma disfunção autonômica da tireoide. O primeiro registro dessa síndrome clínica ocorreu em 1979, mas estudos recentes apontam um crescimento contínuo na incidência do hipertireoidismo felino. No Brasil ainda há poucos estudos sobre a prevalência da doença. A afecção acomete, mais comumente, os felinos de meia-idade a idosos. A idade média está entre 12 e 13 anos. A doença é considerada rara nos gatos com menos de 8 anos de idade. Embora não haja predisposição de sexo, estudos indicam que as fêmeas podem ser mais acometidas.
A tireoide é responsável pela secreção hormonal da calcitonina, triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). Esses hormônios possuem funções primordiais para o bom funcionamento do organismo, sendo que a calcitonina auxilia na redução dos níveis de cálcio, enquanto o T3 e T4 regulam o metabolismo intermediário. A produção e secreção excessiva autônoma dos hormônios T3 e T4 pela glândula tireoidiana podem resultar no hipertireoidismo felino, que é uma enfermidade crônica que afeta um ou ambos os lobos da tireoide.
É considerada multifatorial, incluindo predisposição genética, fatores nutricionais e ambientais. Os principais fatores de risco para a patologia incluem: consumo de determinados alimentos enlatados ou úmidos; isoflavonas de soja; concentrações de selênio nos alimentos; excesso ou deficiência de iodo; bisfenol A (composto usado para fabricação de plásticos e alguns revestimentos); determinados tipos de areias para caixas sanitárias; exposição a substâncias goitrogenicas (que dificultam a absorção do iodo); exposição a disruptores endócrinos; exposição a PBDEs (éteres difenílicos polibromados); exposição a herbicidas e pesticidas. Pode estar ainda relacionado à hereditariedade, sendo mais observada nos gatos domésticos, cujo ambiente é exclusivamente interior. Estudos mostram que os gatos siameses e himalaios podem ter menor predisposição genética ao desenvolvimento da doença.
Dentre as principais manifestações clínicas estão a perda de peso (cerca de 90% dos casos apresentam perda de peso e de massa muscular acentuada em função do estado de catabolismo proteico), e a hiperatividade, mas também podem ocorrer: polifagia; poliúria; polidipsia; vômitos, diarreias e desidratação; defecação fora da caixa de areia; aumento de volume das fezes; alterações de comportamento (agressividade, irritabilidade, aumento na vocalização/miados); pelos com aparência opaca, sem brilho e irregular; bócio palpável; fraqueza muscular e fragilidade (tais sintomas são mais comuns nos casos graves); alterações cardiovasculares, como alterações de ritmo e na ausculta (taquicardia, arritmias, sopros/murmúrio cardíaco e ritmo de galope), hipertrofia ventricular e insuficiência cardíaca congestiva. O animal acometido também pode apresentar manifestações clínicas menos comuns, como hiporexia, alopecia irregular ou regional, letargia, aumento da temperatura corporal, taquipnéia e diminuição da atividade física.
O diagnóstico é composto pelo conjunto de uma minuciosa anamnese, presença de sinais clínicos, avaliação clínica (para verificar se há perda de massa muscular, aumento nas taxas cardíacas e respiratórias, hipertensão e aumento palpável da glândula da tireoide), além de exames complementares capazes de confirmar o diagnóstico. Diante da suspeita da doença, o Médico-Veterinário deve solicitar exames complementares, sendo os principais: dosagem do hormônio tireoidiano T4 livre; hemograma; análises bioquímicas; urinálise. Além desses exames, o Médico-Veterinário poderá solicitar outros, de acordo com cada caso, e também para fazer diagnóstico diferencial com outras doenças. Os exames ultrassonografia tireoidiana, radiografia torácica, ecocardiografia, eletrocardiograma e outros também podem ser solicitados, a depender das suspeitas diagnósticas, visto que os sinais clínicos também podem ser semelhantes a outras doenças e problemas de saúde, como: má nutrição; hipóxia hepática; diabetes mellitus; insuficiência cardíaca congestiva; infecções; efeitos tóxicos dos hormônios tireoidianos sobre o fígado; doença renal crônica; outras.
O tratamento é altamente recomendado para evitar que os sinais clínicos progridam ou surjam outras complicações mais sérias, como danos a órgãos vitais como o coração, rins e outros. Quando o tratamento é precoce e ocorre de forma adequada, o prognóstico tende a ser favorável na maioria dos casos. Atualmente existem quatro opções de tratamento: medicamentos antitireoidianos, como o metimazol ou carbimazol; iodo radioativo; dieta com restrição de iodo; tireoidectomia, técnica cirúrgica para remoção de parte ou de toda a glândula tireoide.
O Médico-Veterinário responsável por conduzir o caso deverá avaliar o caso de forma individualizada para, então, recomendar o tratamento mais adequado ao caso. Sabe-se que o acesso ao tratamento dietético com alimentos direcionados para o paciente hipertireoideo é restrito no Brasil. Porém, é extremamente importante ressaltar que para prevenir diversas outras enfermidades nos felinos o fornecimento de um excelente suporte nutricional se faz essencial. Um bom manejo alimentar auxilia no funcionamento adequado de importantes órgãos como rins e fígado, que são essenciais para que o indivíduo consiga metabolizar e excretar fármacos, respondendo melhor aos tratamentos preconizados não somente para o hipertireoidismo, mas também para diversas outras patologias.
* Fonte: portalvet.royalcanin.com.br.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: catvets.com/public.