TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2023)
Imagine um casal com três filhos adolescentes morando numa residência onde cada um deles tem o seu quarto. O pai, representante comercial, passa a semana fora. A mãe, dona-de-casa, é quem controla o ambiente. Para tornar saudável esse ambiente a todos, criou algumas regras, o seu Código de Posturas local. Regras como, por exemplo: ao amanhecer, cada filho arruma a cama; no almoço, jantar ou lanche, cada um lava o que sujou; uma vez por semana, cada filho faxina o quarto. E se não cumpridas as regras, imediato corte na mesada. Vai daí que nenhum dos filhos cumpre as Leis; vai daí que nenhum deles é punido; vai daí que, óbvio, o ambiente familiar se transforma num caos.
Imagine agora um ambiente escolar. Lá também tem o seu Código de Posturas, que não é respeitado pelos alunos. Os dirigentes da escola, negligentemente, fecham os olhos, tampam os ouvidos e tapam as bocas. Qual o resultado? Cada aluno agindo do modo que lhe convier transformando aquele ambiente escolar num caos.
Falando em escola, por que não existe caos numa escola militar, como por exemplo, em qualquer unidade do Colégio Tiradentes? Como todas as outras escolas, lá também tem um regulamento, um Código de Posturas. A diferença é que no Colégio Tiradentes não existe mala por existir rigor no cumprimento das regras, e aluno que não cumpre regras não estuda naquela escola. Lá tem AUTORIDADE que se impõe. Para perceber a diferença, sem visitar nenhuma escola, é só acompanhar um desfile delas no dia 24 de Maio. Enquanto as outras, com exceção da fanfarra, mostram seus alunos desfilando sem compromisso algum, na base da diversão, conversando entre eles em meio a risadas, os do Colégio Tiradentes vão à Avenida Getúlio Vargas com um propósito estabelecido e se comportam dignamente, fruto da AUTORIDADE presente na escola.
Agora não imagine, entre suavemente na realidade gerencial de Patos de Minas. Faltam regras aqui? De maneira alguma, tem até demais. O que falta então? Falta justamente um poder público que faça essas regras serem obedecidas. E é justamente isso que não temos aqui em Patos de Minas há décadas: um poder público que faça as regras serem obedecidas. Há décadas somos comandados por gestores burocráticos que não têm atitude para tomar decisões drásticas, mas ao mesmo tempo simplórias, como exigir que o Cidadão cumpra a Lei e, não cumprindo, seja punido, tudo de acordo como determina a Lei. O poder público tem a Lei na mão, mas não tem iniciativa para exercer o seu direito de cobrar isso do Cidadão. Falta AUTORIDADE!
Vai dai que o mala, que representa mais da metade da população da cidade, sabedor que não existe ninguém que vá interferir na sua vontade de fazer o quem bem quiser pouco se importando com o outrem, faz mesmo o que bem quer, danando-se Código de Posturas, Lei Orgânica, Lei disso, Lei daquilo, tanto faz. Aliás, ele faz, e muito bem, rindo descaradamente de cada membro do poder público submisso e sem iniciativa para combatê-lo, pois falta AUTORIDADE!
O resultado disso são essas motos de barulhos insuportáveis, independentemente da potência, que não respeitam semáforos e faixas de pedestres e que trafegam em altíssima velocidade; carros com som insuportáveis e muitos com escapamentos adulterados como as motos, que, como no primeiro caso, não respeitam ninguém, e nos dois casos transtornando a vida do cidadão acamado, hospitalizado, autista e de gente que quer apenas sossego em seu lar e não consegue porque a cada minuto um desses desajustados o atormenta, isso tudo de manhã, à tarde, à noite e de madrugada, não importa a hora, estão sempre presentes e como sempre há espaço para pioras, agora surgiram umas bicicletas motorizadas que são igualmente infernais; lotes não murados que se transformam em depósitos de lixo, mictórios (foto¹), maternidades de aedes e outras pragas; caminhões e carretas pesadíssimas arrebentando a Rua Major Gote e outras muitas do Centro que, ano após ano, causam enormes prejuízos ao erário; estacionamentos particulares cobrando o que querem, inclusive com o próprio atual prefeito que é dono de um deles; toldos insanos no comércio central que são risco à saúde dos pedestres, e eu só não tive um olho perfurado por uma daquelas argolas que ficam dependuradas porque uso óculos; carroças nas vias do Centro em horários de pico; obras públicas que começam e a gente não sabe quando terminam; COPASA e CEMIG fazendo o que querem e o que não querem; saúde pública fragilíssima; passeios onde deficientes físicos não conseguem transitar e mesmo se tivessem cadeiras movidas a energia nuclear, além de comerciantes do Centro ocuparem os passeios com seus negócios, além de energúmenos depositarem nos ditos passeios todo tipo de tranqueira; loteamentos lançados aos montes sem as condições necessárias, com asfalto pífio e sem rede pluvial, o que gera, anualmente, inundações e uma série de problemas estruturais; imóveis comerciais com recuo da rua que usam o passeio como estacionamento particular e, pasmem, até o asfalto em frente; entra ano e sai ano, estradas rurais em péssimo estado… e tá bão porque, senão, haja páginas para destacar tudo.
Eis aí Patos de Minas − onde muitos viajam naquela de que Patos de Minas é linda com a sua Catedral de Santo Antônio e a sua Avenida Getúlio Vargas, principalmente à noite com suas luzes, e não têm a mínima noção da pobreza e/ou deficiência econômica-estrutural que domina a nossa periferia que representa quase a metade da Cidade e por isso ilusoriamente acreditam que Patos de Minas é linda demais com a sua Catedral de Santo Antônio e a Avenida Getúlio Vargas e igualmente difundem ilusoriamente essa imagem de que Patos de Minas é a Catedral de Santo Antônio e a Avenida Getúlio Vargas e não existe a pobreza ou deficiência econômica-estrutural que domina a nossa periferia que representa quase a metade da Cidade −, uma Cidade com um poder público que não tem AUTORIDADE para atacar esses gravíssimos problemas estruturais e até de saúde citados acima, portanto, sem comando, à deriva, onde cada Cidadão se considera no direito de fazer o que quer. E ele faz, e fica por isso mesmo.
Essa é a tal DEMOCRACIA DO VOTO, onde o eleito ocupante do cargo faz o que precisa só quando tem vontade. O problema é que ele não tem vontade, pois falta-lhe AUTORIDADE. E o pior de tudo: o CONTRIBUINTE mantendo financeiramente essa falta de AUTORIDADE. Isso há décadas! E que fique muito bem claro: a culpa não é exclusiva do atual poder público, pois, como o dito acima, o problema é antigo, e o atual poder público nada mais é do que a continuidade da falta de AUTORIDADE.
Só nos resta esperar que nas próximas eleições de 2024 nos surja um poder público que, a partir de 2025, tenha compromisso conosco, CONTRIBUINTES que cumprem seus deveres, e que nos livre de todos os malefícios citados acima. Entretanto, sinceramente, se você acredita nisso, recomendo um tratamento psiquiátrico, e continue votando, pois 2090 vai chegar! Quem sabe lá?
Enfim, o pior pesadelo para o CONTRIBUINTE que cumpre com os seus deveres é presenciar sua Cidade, seu Município, ser gerenciado por burocráticos que não têm AUTORIDADE. E como eu amo minha Terra Natal 480 mil vezes mais do que o poder público, sempre lido com a VERDADE, e por mim a VERDADE sobre o nosso Município é sempre exposta, sem subterfúgios, por mais cruel que seja, esperando sempre que o poder público, enfim, tenha AUTORIDADE!
Ah, temos agora que pagar o IPTU, né! Pois é…
* 1: Esse lote localiza-se na Rua Major Gote entre suas colegas Maestro Randolfo e Cesário Alvim, um dos trechos mais movimentados da Cidade. Entre gente de todas as idades passando, transitando a pé ou de carro, às 9 horas da manhã de um domingo, é apenas um exemplo do que representa um lote fora da Lei por falta de AUTORIDADE do poder público que é INCAPAZ de OBRIGAR o proprietário a murar o lote como determina a Lei.
* Foto (02/07/2023): Eitel Teixeira Dannemann.