Digo sinceramente que não sou curiosa, apenas presto atenção nas vozes através de minhas paredes que teimam em ouvir com atenção tudo o que é dito dentro de mim. Não costumo perder uma palavra, por mais sem interesse que seja. Por exemplo, dia desses comentaram sobre um tal de Marcolino de Barros que dá nome a essa rua¹. Ouvi bem eles dizerem que foi muito importante para o desenvolvimento da Cidade. Sem lá quem foi esse sujeito, por isso nem liguei. Mais pra frente danaram a discutir sobre o nosso progresso e que por causa dele, pra tudo quanto é lugar, principalmente no Centro, as casas estão rapidamente cedendo lugar para os edifícios. Aí minhas janelas e portas, e até o telhado, arrepiaram. Eu, que nunca tinha pensado nisso, fiquei pasmada. Olhei pra trás e reparei no bitelo. Olhei pros lados e a ficha então caiu quando notei a quantidade de bitelos me rodeando. Credo em Cruz, Ave Maria, Nossa Senhora da Abadia, o perigo me rondando e eu até então na maior tranquilidade. Pronto, entrei num estado de apreensão danado e entra dia e sai dia não paro de pensar no perigo que me cerca, principalmente por eu, como todas as casas, não terem como fugir dessa atroz realidade. É como um ataque cardíaco fulminante nos humanos, quando chega, adeus vida. Assim, nesse baixo astral tremendo, vou vivendo, na inútil esperança de que sobreviverei fisicamente na História de Patos de Minas. Só me resta acreditar que, ao chegar a mim vez, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Dr. Marcolino entre suas colegas José de Santana e Farnese Maciel.
* Texto e foto (09/04/2023): Eitel Teixeira Dannemann.
