ESTRESSE DO CAZENRIQUE, O

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A semana foi dura para o Carlos Henrique, o Cazenrique, gerente de departamento de uma empresa do Distrito Industrial I. Uma série de problemas no trabalho o deixara estressado, e foi por isso que num sábado de manhã resolveu passar o final de semana na casa dos pais, na tranquila comunidade de Arraial dos Afonsos. Antes de descer a serra, parou num posto de gasolina quase ao lado do trevo da Avenida Marabá com a Rodovia do Contorno para tomar uma caprichada talagada de cachaça, para aliviar os nervos. E lá foi ele em direção ao aconchego dos progenitores.

Depois de três quilômetros percorridos, reparou num pasto ao lado da estrada um senhor de lá seus 70 anos tocando 10 vacas do tipo holandês, cinco pretas e cinco vermelhas e brancas, que ele considerou muito bem cuidadas. Curioso, parou para puxar papo com o idoso:

– Bom dia, senhor, essas dez vacas estão muito bem tratadas, parabéns. O senhor tira delas quantos litros de leite por dia?

– As pretas dão vinte litros por dia.

– E as outras?

– Também dão vinte litros por dia.

– Pra essa pequena propriedade até que está muito do razoável. O senhor alimenta elas com o que?

– Para as pretas é o trivial, pasto, ração e sal mineral.

– E as outras?

– O mesmo.

– Tem no pasto aguada boa pra elas?

– Pras pretas tem.

– Uai, pras outras não tem?

– Tem também, do mesmo jeitim.

– Senhor, que papagaiada é essa se é tudo igual pras dez vacas, porque esse negócio de primeiro dizer que é pras vacas pretas e depois o senhor me informar que é o mesmo pras outras, tá zombando de mim?

– Nunquinha, longe disso, seu dotô, é que eu aprecio demais da conta as vacas pretas, que são minhas.

– Tudo bem, as vacas pretas são suas, o senhor tem um carinho muito grande por elas, trata elas da melhor maneira possível, e então, de quem são as vacas vermelhas e brancas?

– Ora, do jeitim que as vacas pretas, eu trato com muito carinho as vacas vermelhas e brancas porque elas também são minhas, sô.

Muito do enfezado, o Cazenrique entrou no carro e se mandou para o Arraial dos Afonsos, mais estressado do que nunca.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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