Antes da chegada da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFIPA) em 1970 e dos outros cursos que se transformaram no UNIPAM, os pais de família preocupados com a educação dos filhos não tinham saída a não ser bancarem os cursos superiores dos filhos em outras cidades, principalmente Belo Horizonte. Em 1980 o articulista Rafael Gomes de Almeida chegou a comentar: Estamos sentindo um esvaziamento de nossa juventude, seguindo para outras cidades, em busca de estudos. O curioso de tudo isto é que os jovens ficam loucos de saudade de nossa terra, mas é uma saudade que se mata com dois dias, porque os jovens já não mais se acostumam com o arrozal do asfalto patense¹. Hoje, Patos de Minas é um polo universitário e, portanto, o processo se inverteu.
Foi naquela época que a Gertrudes havia terminado o 3.º ano científico e queria de todo jeito ir para Belo Horizonte tentar o vestibular para Medicina, o que colocou os pais numa sinuca de bico, pois, se a filha passasse no tal vestibular, não seria nada barato mantê-la na Capital durante seis anos. Reinaldo, o pai, representante comercial de produtos veterinários, teria que aumentar em muito a sua clientela. Gláucia, a mãe, gerente de uma butique na Rua Olegário Maciel, não teria como ajudar muito, pois seu salário era fixo e só de vez em quando recebia gratificações financeiras. Mesmo assim, resolveram satisfazer a vontade da filha única. Ela fez o vestibular e passou. A partir daí, o Reinaldo teve que suar e muito a camisa.
Durante quatro anos, Gertrudes matava a saudade dos pais e de Patos de Minas nas férias escolares. Fato estranho aconteceu nas férias do quinto ano: ela ficou sem visitar os pais alegando que ia aproveitar o tempo para começar a se especializar em Dermatologia, seu ramo preferido da Medicina. Reinaldo e Gláucia ficaram tristes pela ausência da filha, mas tremendamente alegres pela sua preocupação em se formar com muito conhecimento.
Rápido como um raio, o tempo passou, Gertrudes se formou, especializou-se em Dermatologia e voltou para Patos de Minas para iniciar a profissão. Certo dia, Reinaldo e Gláucia estavam em casa com um casal de amigos quando um garotinho passou por eles e não disse nada. O avô logo ralhou:
– Diploma, sua mãe não te deu educação? Volta aqui e cumprimenta nossos amigos.
O garotinho voltou sorridente, cumprimentou os amigos e já voltando para o quarto a avó o chama:
– Diploma, peça pra Maria preparar o café pra nós.
O garotinho atendeu o pedido e voltou para o quarto, deixando o casal de amigos encucado com o nome dele. Não aguentaram e perguntaram quem era o garotinho e o porquê do nome. Numa boa, o avô respondeu:
– É nosso neto. Nós chamamos ele de diploma porque nossa filha Gertrudes foi fazer o curso de Medicina em Belo Horizonte e voltou com ele.
Ficou explicado o porquê a Gertrudes não visitou os pais nas férias do quinto ano.
* 1: Leia “Jovens Vão Estudar Fora na Década de 1970”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.