Lá pela década de 1960 espalhou-se pelo Brasil afora uma técnica de assaltos em estradas vicinais ou de fazendas que estava causando pavor principalmente ao povo rural que sempre precisava ir até a sede do município, pavor esse semelhante ao hoje nas capitais e grandes cidades, onde a pessoa sai de casa já imaginando que será a próxima a ser assaltada, no mínimo, pois o risco de morte é grande. Naquela década, o costume era, à noite, um sujeito se fingir de morto bem no meio da estreita estrada de chão ou um toco ser atravessado na pista. Óbvio, que o primeiro automóvel a passar pelo local seria obrigado a parar. Enquanto isso, a quadrilha ficava escondida no mato, e quando o carro parava a bandidalha entrava em ação.
Aqui pelas bandas patenses, isso começou a acontecer na antiga estrada para Presidente Olegário. Certa vez, 10 horas da noite, nuvens encobrindo a Lua, José e seu filho Pedro, num garboso DKW-Vemag Candango, estavam voltando para a fazenda quando, nas imediações dos Trinta Paus, os faróis iluminaram um corpo estirado no meio da estrada, justamente num trecho bem estreito. Coincidência? Imediatamente, José parou o carro, manobrou, e voltou para a cidade, crendo que era o famoso truque. Lá pelas imediações onde hoje é o Bairro Alvorada, ficaram esperando pelo menos umas duas horas.
Voltando à estrada, o corpo continuava no mesmo lugar. E por falar em corpo, o José cismou que tinha visto um vulto atrás de uma árvore. Foi o suficiente para ele se manifestar:
– Eles vão nos atacar por trás também, não vou parar, vou passar por cima daquele bandido, ele que se dane…
– Não pai, faz isso não, dá pra passar bem rente às árvores sem precisar matar o cara.
– Tá bom, vou tentar, e se não der não paro por nada nesse mundo, pois tenho certeza que tem um bando escondido ali só esperando a gente parar e ainda tem outros aí atrás da gente.
Quando estavam a um metro do corpo, este levantou um braço, gesto que o José interpretou como o sujeito convocando a turma para o bote. Foi o suficiente para o José acelerar e mesmo quase raspando nas árvores, as duas rodas da esquerda passaram por cima dos dois pés do corpo. Aliviados por terem escapado de um assalto e sabe-se lá coisas piores, chegaram na fazenda e trataram de trancar portas e janelas.
Três dias depois, encontrou com um amigo na Cidade, que contou:
– Ficou sabendo do bêbado que apagou no meio da estrada lá perto da sua fazenda e que um carro que ninguém sabe qual foi passou por cima dos dois pés dele? Pois é, escapou por pouca da morte e agora, depois da ressaca, vai ficar um bom tempo engessado e depois sabe-se lá se não vai ficar aleijado. Quem sabe assim manera na bebida, né.
Até hoje, só e somente só a família do José sabe qual carro foi.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.