Uai, sô, cadê o povo daqui? Era um movimento até que razoável, entrando e saindo durante o dia e, chegando a noite, vinha o silêncio. No outro dia, tudo de novo, pois eu estava servindo como comércio. Voltando no tempo, quando eu era estritamente residencial nessa rua¹, era bão demais da conta, idos calmos, tranquilos, sem a barulheira de hoje, principalmente vinda dessas insuportáveis motos e carros com som. Esse povo não tem noção, é mais do que óbvio. O meu povo de antigamente escafedeu-se, não tenho a mínima ideia do que aconteceu com cada um deles. O povo que me usava como comércio também escafedeu-se, sei lá para onde foi. Agora estou aqui sozinha, comigo mesma, solitária, e pelo aviso de aluga-se, graças pelo menos por enquanto, a intenção do meu atual proprietário não é me demolir para que no meu lugar seja construído um edifício, a nova praga da Cidade. É, tô por dentro do que está acontecendo, estamos todas nós sendo ocupadas por edifícios. Tenho ciência de que um dia isso vai acontecer comigo, só não sei quando, só sei que se os humanos morrem, é claro que um dia morrerão os imóveis. Deixa estar, deixa a vida me levando, esperando pelos novos inquilinos. Pelo menos, importantíssimo, fui registrada para a posteridade. Daqui a sei lá quantos anos, quando eu for apenas uma foto na História de Patos de Minas, estarei eternamente grata por quem se dedicou um tempinho de sua vida para me incluir nessa História. Se mereço ou não, não importa, o que importa é que deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Olegário Maciel, entre suas colegas Tiradentes e Victor Barcelos.
* Texto e foto (12/03/2023): Eitel Teixeira Dannemann.