TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1944)
A cidade viveu, mais uma vez, uma semana que não é como as outras. De domingo a domingo notou-se um alvoroço de cunho de grande religiosidade. Houve um momento diferente dos demais que sacodem a vida urbana em geral. Isto se verifica anualmente nêsses dias de especial convergência aos nossos templos sagrados, onde se vive um drama antigo sempre novo para os homens.
Foi a Semana Santa que passou. Teve seu inicio com palmas e flores, aquecendo com entusiasmo um domingo frio, de vespera chuvosa e cheia de tempestade. Terminou nas luzes da alvorada, numa apoteose matinal e num dia em que transluzia algum modo a alegria suave da resurreição de Cristo.
Os homens de todos os tempos não esquecerão jamais a tragédia sanguinolenta que o Calvário encerra. Mal grado outras tragédias terriveis tenham em todo tempo e agora afligido os humanos. E que Jesus Cristo-Redentor penetrou fundamente no coração humano cuja conquista amavel levou a cabo com o derramar do seu sangue divino. É a divida de gratidão que impele a todos a contemplarem com empenho cada vez maior a ação de valor infinito realizada no Golgota e perpetuada sempre.
Assim foi que verdadeiras multidões de cristãos se aglomeraram aqui para esse preito de lembrança e reconhecimento sagrados. Á luz palida na lua as procissões sairam. E as velas, pontinhos na mão de cada um, davam aos pretitos um aspecto desta sempre ardente, sempre viva, vestigio saudoso e atual duma tradição e culto sagrados que resplende na alma de todo brasileiro e de todo cristão sincero.
Bendito o povo que reconhece a força da palavra gratidão humana e do termo fidelidade. Dever é de todos nós sermos gratos a Deus pelo presente que nos fez. E constitui obrigação esta fidelidade sempre renovada aos ditames de sua igreja que nos fez despertar de madrugada, cedo, para, novamente, de pé, celebrar com ela a memória do maior acontecimento da cristandade − a resurreição de Jesus.
RESURREIÇÃO para todos! PAZ de novo aos “homens de boa vontade”. Fraternidade e liberdade verdadeiras a todos os filhos do Pae − eis a mensagem suprema de Cristo a terra naquela radiosa manhã de abril.
Resuscitemos e alegremo-nos com Ele. Aleluia.
* Fonte: Texto publicado e assinado por “Jó” na coluna Coluna Religiosa com o título “A Semana que Passou…” da edição de 19 de abril de 1944 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Foto: Tempo.com, meramente ilustrativa.