Os católicos já não vivem a Semana Santa com a mesma intensidade de antigamente. O clima de luto e a sensação de que o tempo parava já não mais existem. As pessoas mostravam-se compromissadas com Deus, participando das cerimônias religiosas até com certo temor. Alteraram-se os costumes e muitos dos rígidos rituais católicos tornaram-se flexíveis, adaptados aos tempos modernos. Havia um sentimento cristão enraizado no comportamento dos fiéis que lamentavam e choravam a morte de Cristo por uma semana. A vida normal do povo dava lugar a um sentimento de tristeza e lamentações. Todas as igrejas da Sede, dos distritos, povoados e até as oradas de fazendas promoviam procissões com intensa participação da comunidade. Era um verdadeiro rio de velas que iluminava a escuridão. No Sábado de Aleluia tinha a Malhação de Judas, ansiosamente esperada pela garotada. A Praça dos Boiadeiros (Abner Afonso) foi sede dessa tradição durante muitos anos. Centenas de pessoas se concentravam na praça onde o boneco de pano ficava pendurado na enorme e bela gameleira. Era uma tarde inteira de festa e agitação até que o traidor ficasse inteiramente desfigurado. E tudo terminava no Domingo de Páscoa.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Anúncio publicado na edição de 23 de fevereiro de 1913 do jornal O Commercio, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.