TEXTO: CIDADE DE PATOS (1916)
De domingo a quinta, um chover constante e impertinente trouxe tudo e todos resfriados, mofados e moles.
Um dos nossos habitués do cinema apanha um resfriamento e é atacado de uma tosse rouca e pertinaz que o atormenta e aos circumstantes por dez minutos; a gente o ouvindo a tossir como que está sentindo ou vendo os bichinhos que na guella o martyrisam e tem-se vontade de tossir tambem.
Felizmente na quinta-feira suspende-se esse estado de sitio celestial, brilhando o rei da natureza com fulgor.
Só então, depois de escovado o mofo do nosso fato sahimos a percorrer a cidade a procura de novidades da semana.
Muros desabados, enchente do Paranahyba, um enxame de viajantes e um representante de jornal paulista, a camara em reunião extraordinária, a machina de beneficiar arroz montada e a entrar em funcção, uma jogatina desenfreiada, a venda de algumas boiadas gordas, a interrupção do correio da Capital do Estado desde o dia 10 de Março e foi só.
Quem já vio um povo mais carneiro do que este de Patos?
Vinte oito dias sem correspondencia da Capital do estado!! Que cousa escandalosa e ninguem se mexe; tudo na maior resignação sem reclamar.
Ficamos adimirados como os Snrs. funccionarios publicos podem cumprir os seus deveres, sem estar em communicação com os seus superiores; como o commercio se conserva indiferente a esta falta.
Pois nos também, se escrevemos isto, é por falta de outro assumpto mais attrahente e seja tudo pelo amor de Deus.
9 Abril 1916
Indiscreto
* Fonte: Texto publicado na edição de 09 de abril de 1916 do jornal Cidade de Patos na coluna “Chronica da Semana”, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Eucapricho.com.
