Ele invocou que queria um drone. O pai, veterano empresário abastado, que costuma fazer as vontades do filhinho de 19 anos que prefere passear pela Rua Major Gote sempre com o carro do ano do que meter a cara nos estudos para ser alguém na vida pois confiante no poderio financeiro familiar sabendo muito bem que não precisa nada disso porque um dia tudo será seu, o que, como já aconteceu com vários empresários patenses quando seus negócios caíram nas mãos de tais tipos de filhos a bancarrota foi inevitável, é claro que comprou o drone mais moderno do mercado, daqueles que voam como avião.
Lá na saudável fazenda, geralmente acompanhado por uma patota de inúteis que nem ele, o filhinho gosta mesmo é de zoar o coitado do Zé Colibri, 16 anos, filho de um peão, que tem esse apelido porque adora o minúsculo pássaro e as muitas garrafinhas de água açucarada com uma flor na base que ele dependura por tudo quanto é lugar na modesta residência da família.
Certo dia, lá estava o filhinho com sua patota tradicional num descampado próximo à sede da fazenda. Ele, o filhinho, mostrava aos amigos a sua habilidade em lidar com o pequeno veículo aéreo não tripulado. De longe, avistaram o Zé Colibri chegando, mansamente, humildemente, receosamente. O filhinho falou:
– Lá vem aquele coitado do filho do peão, tenho certeza que está morrendo de inveja de ter um drone como esse. Vem, Zé, vem ver como sou o melhor do Brasil com essa máquina.
E o filhinho pôs-se a escancarar a sua destreza com uma infinidade de acrobacias, mergulhos fantásticos numa velocidade de quase 30 km/h. O Zé Colibri não tirava o olho, nem do aparelho e nem do piloto, parecia deslumbrado com aquilo, nem piscava. E o filhinho lá, só faltando urinar nas calças de felicidade pela admiração do pobre. Depois de uns 30 minutos de exibicionismo, o drone pousou. Quando o filhinho percebeu que o Zé Colibri vinha em sua direção, comentou com a patota:
– Lá vem ele, vislumbrado, vai chegar e fazer um monte de perguntas, vai me elogiar pra caramba, com uma baita de uma inveja, vai querer saber a fortuna que paguei pelo drone, olha só o tipo de pidão dele, vai…
E o Zé Colibri, que só estava esperando o espetáculo terminar, chegou e sem pestanejar disse ao filhinho:
– Seu pai está querendo falar contigo.
Dito, Zé Colibri se afastou sem mais delongas, para desesperança do filhinho.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.