PEDRO E O PSICÓLOGO − 4/5

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

– Sério? É seríssimo, ela simplesmente está grávida. Quer mais?

– A Janaína, a menor, está grávida de você?

– Ê, vê lá o que está dizendo, doutor, por um acaso o senhor está pensando que a Janaína é vagabunda?

– Mas jamais passou pela minha cabeça este conceito sobre a Janaína.

– Ah! não? Então por que está me perguntando se ela está grávida de mim?

– É isso mesmo. Ela está grávida de você?

– É claro que é de mim, né? Tá pensando que a Janaína anda me traindo?

– De jeito nenhum, Pedro. Quando você soube disso?

– Pelamordedeus, e agora? Aquela filha de uma…, você sabe o que quero dizer, me enganou direitinho.

– Por que você acha que ela te enganou?

– Para ela ter ficado grávida é evidente que não estava tomando as pílulas direitinho.

– A Janaína tomava pílula?

– Que espanto é esse? O doutor esta achando que ela estava tomando guaraná para evitar gravidez?

– Mas Pedro, pílula?

– Sim, pílula. Por que não?

– A resposta a meu espanto está bem caracterizada na gravidez da jovem. Pedro, sou obrigado a dizer que você cometeu um grande erro ao confiar este tipo de responsabilidade a ela. A Janaína tem apenas 17 anos e pertence a uma família de parcos recursos financeiros. Num belo dia, como num conto de fadas, conhece um homem bem apessoado, rico e realizado profissionalmente, significando um estado de bom modo de vida, e que se interessa por ela. A cabecinha da jovem começou a funcionar a mil por hora. Ela já frequentou a sua casa?

– Mas o que isto tem a ver com o caso?

– Ela já frequentou a sua casa?

– Bem, ela já foi lá um monte de vezes.

– E nestas vezes em que ela foi até a sua casa vocês já estavam se relacionando amorosamente?

– É claro que sim, eu mesmo a levei a primeira vez para ela fazer faxina, e olha que a Daura ficou encantada com o serviço.

– Esta aí o motivo da gravidez. A Janaína, com seu interesse por ela, ficou maravilhada com todo aquele conforto e por isso, vamos dizer assim, tratou de fisgá-lo. Entendeu?

– Explique melhor esta história, doutor.

– A Janaína se deslumbrou com a possibilidade de ter uma vida totalmente diferente das agruras que estava enfrentando. Ao perceber que você, digamos assim, virou suas asas para o lado dela, percebeu imediatamente que um relacionamento sexual contigo poderia ser a garantia de seu futuro. Quando então você confiou a ela a responsabilidade de evitar uma gravidez, sua cabecinha deve ter entrado em parafuso pela grande chance aportada à sua frente de lhe garantir um futuro melhor. Primeiramente ela tomou as pílulas todo dia para você não se preocupar. Quando percebeu que você estava totalmente tranquilo, deixou de tomá-las. A gravidez foi o fecho de ouro. Meu prezado Pedro, como é que você, um especialista em mulheres, foi cair numa dessas?

– Não, não acredito mesmo que a Janaína fez isso comigo.

– Pois pode acreditar que ela fez mesmo.

– E agora, o que vou fazer? Doutor, minha vida acabou. A Daura não vai me perdoar. E a Marlene. E o Cláudio? Vão me odiar. Meu Deus! Se descobrirem, vai ser um escândalo. Vou ser preso!

– Pois é, Pedro, relações sexuais com uma menor é crime gravíssimo. Com gravidez, então! Neste momento, é preciso ter muita calma.

– Como ter calma com uma bomba dessas, doutor?

– É isso mesmo, calma. Não adianta você se descabelar todo agora. O leite já está derramado e pronto. O negócio e raciocinar sobre a melhor atitude a ser tomada.

– Mas é claro, a melhor atitude a ser tomada é descarregar um 38 na cabeça daquela ordinária.

– Pedro, imaginar besteiras como essa é péssimo nesse momento. Sensatez é a palavra chave. E a sensatez nos mostra que você está com um grande problema na mão que precisa ser solucionado. Não adianta querer tapar o sol com a peneira, você caiu numa cilada, por descuido seu. Agora é encarar e resolver a situação.

– Muito bonito, doutor, é simples, resolver a situação. Mas como? O que o senhor quer que eu faça: assumir o filho, a Janaína e largar a Daura e meus filhos? E a Candinha? E a Soraia? E as outras?

– Mas Pedro, como é que você, com um baita problemão deste nas mãos, ainda pensa em Candinha e Soraia?

– É claro que eu penso nelas sim, pois quando elas ficarem sabendo vão querer me largar e até aprontar alguma pra cima de mim.

– Vou perguntar mais uma vez, mas desta vez, por favor, sem escândalos. Você tem certeza de que o filho é seu mesmo?

– Êpa, lá vem o senhor de novo com essa baboseira. Eu já…

– Pedro, sem escândalo, a pergunta é séria e tem muita lógica.

– Que lógica coisa nenhuma, onde já se viu desconfiar da Janaína. Ela pode ter feito esta sacanagem comigo, mas é uma menina muito direita, esta ouvindo?

– O Jorge também acha que a Candinha é uma mulher muito direita, não é? A Daura, sua esposa, acredita que você é o homem mais fiel do mundo, não é?

– O que isto tem a ver com o caso?

– Tudo. Não se pode garantir, em hipótese alguma, que a Janaína seja o modelo de mulher fiel que você acredita. Quando eu disse que sua esposa o considera muito direito, a realidade está aí para provar que a coisa não é bem assim.

– Mas doutor, será que a Janaína… se for isso, estou salvo.

– Preste bem atenção, Pedro, não estou afirmando categoricamente que a Janaína possa estar gerando um filho de outro homem. O que eu quero é que você ponha na cabeça que existe essa possibilidade.

– Mas doutor, e aquela história de que ela tramou esta gravidez para me fisgar?

– Está no contexto, Pedro. Você está vendo que existem possibilidades, não apenas uma.

– Pois bem, mas como vou ficar sabendo se o filho é meu ou não? Doutor, sinceramente, não dá para acreditar que a Janaína tenha me traído, por isso estou lascado e pronto. Ah!, eu vou matar aquela desgraçada.

– Vamos raciocinar um…

– Já sei o que vou fazer. Puxa vida, como não pensei nisso antes, é tudo muito simples.

– Pedro, espero que não esteja passando pela sua cabeça provocar um aborto na menina.

– Pô doutor, que língua o senhor tem, hêim? Foi na mosca. É tudo muito claro e…

– Pedro, por favor, jamais tente fazer uma coisa dessas.

– Como jamais tente fazer uma coisa dessas? Você fala isso porque não é contigo. Eu queria só ver se tudo isso estivesse acontecendo contigo, eu queria só ver a sua reação ao enxergar que por causa desta gravidez sua vida pode estar caindo numa desgraça tremenda. Você bem sabe como o povo de Patos de Minas adora um escândalo. Falar é muito fácil, doutor.

– Justamente! Falar é muito fácil, assim como você está falando em aborto, mas este pensamento é inadmissível para um homem que tem que assumir responsabilidades. Pedro, a realidade é que a Janaína está grávida. Ao se confirmar que o filho é mesmo seu, você terá que ter hombridade para assumir, pelo menos, o filho.

– Doutor, pode acreditar, a Janaína pode ter sido esperta no caso, mas infiel, nunca. Conheço muito bem aquela menina, o filho é meu mesmo.

– Se você tem tanta certeza assim vou aceitar o fato. E fato aceito, temos que começar a raciocinar numa saída honrosa para você.

– Presta atenção, doutor, eu não posso simplesmente chegar em casa e dizer pra Daura que a Janaína vai ter um filho meu. Esta louco, cara? Meu casamento vai pro beleléu e minha vida vai se desfigurar todinha Já imaginou o escândalo em Patos de Minas? E além do mais, quando a Candinha ficar sabendo, o rolo vai ser enorme. Ela vai aprontar o maior escarcéu. Aí o Jorge vai ficar sabendo de tudo e… minha nossa, estou mesmo lascado.

– É Pedro, você tanto procurou que achou.

– Pô doutor, o senhor vai me condenar ou me ajudar?

– Claro que vou lhe ajudar e já tenho dados suficientes para isso. Só preciso saber se o seu aparelho reprodutor está em perfeitas condições e por isso lhe solicito que faça uma consulta com…

– Gente do céu, lá vem você de novo com essa ladainha. Já falei e repito que não vou mesmo a este tal de andrô não sei o que e fim de papo.

– Pedro, ou você vai se consultar com o colega ou está livre para procurar outro Psicólogo.

– Como é que é?

– Você ouviu bem e entendeu melhor ainda.

– Se eu entendi bem mesmo, o senhor está querendo me dizer que se eu não for me consultar com o tal Médico eu não preciso mais voltar aqui?

– Parabéns pela dedução.

– Mas isto não é justo, é sacanagem mesmo, é falta de ética profissional. O senhor não pode me obrigar a fazer isso.

– Perfeitamente. Não posso lhe obrigar a fazer nada, mas tenho o direito de lhe solicitar os exames que achar convenientes. Em não atendendo minha solicitação, tenho todo o direito ético e profissional de não atendê-lo mais. Está dito!

– Bem, então, se é por falta de adeus, até logo, passar bem!

Muito chateado com a atitude do Psicólogo, Pedro saiu do consultório bastante contrariado. Uma confusão enorme pairava sobre sua cabeça. O que fazer? Como resolver esta situação? Caminhando, rumou até o Parque do Mocambo. Sentou num banco debaixo de uma frondosa árvore e começou a maquinar possíveis soluções. Contar para a Daura? Nunca! Provocar um aborto na Janaína? Poxa, mas é meu filho, pensou ele. E o tal do Andrologista? Seria tão importante assim? Mas o que o tal do Andrologista tem a ver com a Janaína e o filho que estava por vir? E a Candinha? E a Soraia? E a Marta? E os meninos, como poderiam encarar o fato do pai que eles tanto glorificam ter gerado um irmão fora do casamento? Fechando os olhos, se deparou com a cândida figura de sua esposa Daura. Daura, uma mulher especial que o tratava com todo o carinho do mundo. Por que, afinal de contas, ele estava fazendo tudo aquilo com ela? Não, de forma nenhuma a Daura merecia isso. Mas, ao mesmo tempo, ela não o satisfazia sexualmente. O que poderia ser feito para manter o bom relacionamento com a esposa em associação com suas escapulidas sem que isso causasse nenhum transtorno? Mas agora, com a gravidez da Janaína, tudo ficou complicado. O que fazer? Com esta pergunta na cabeça, ele se levantou, respirou profundamente, e tomou o rumo da empresa.

Passados quarenta dias, várias atitudes foram tomadas, e o paciente, todo prosa, resolveu voltar ao consultório do Psicólogo. Após a secretária ter lhe arranjado um horário de emergência, ele esperou por longos 30 minutos na recepção. Mas, desta vez, com resignação.

– Que grande satisfação revê-lo.

– Digo a mesma coisa, doutor.

– Que envelope é esse?

– Abra e veja o senhor mesmo.

– Mas que maravilha. Estou muito satisfeito por ter conseguido mudar seu modo de pensar. Muito bem, vejamos o que diz estes exames.

– Mas não foi fácil não, viu doutor. E falando sinceramente, esse negócio de homem ficar manuseando a ferramenta da gente é muito esquisito. Sei não, mas aquele seu amigo leva jeito, viu.

– Ora, nada disso, Pedro, meu colega é um homem muito sério e muito bem casado, é apenas o trabalho dele.

– Pode ser sério, bem casado e ser o trabalho dele, mas que ele pegava com gosto isso ele pegava.

– E você gostou?

– Qualé, doutor, vê se me respeita, meu negócio é mulher, tá legal?

– Não se trata disso, estava me referindo à consulta. Gostou?

– Gostei porcaria nenhuma. Já falei que não sou chegado a homem ficar pegando na minha ferramenta. Só fui lá porque o senhor conseguiu me convencer que era importante. Só por isso. Agora, nem o Presidente da República vai me fazer voltar lá.

– Tudo bem, Pedro, vamos ao que importa. Anatomicamente, seu aparelho reprodutor está em perfeitas condições. Ótimo, posso agora começar a decifrar o seu enigma.

– Que papo é esse de enigma, doutor?

– Por um acaso a Candinha foi o seu primeiro caso após o casamento com a Daura?

– Foi, e o que isso tem a ver?

– Por que você resolveu ter esse caso?

– Ora, já te falei que foi por causa da Daura que quase sempre arruma uma desculpa para evitar sexo.

– Na sua infância e adolescência você se dava bem com seus pais?

– Pra falar a verdade não, principalmente com meu pai. Ele era muito mandão e levei muita surra pelas artes que praticava.

– E os negócios, como vão?

– Bem, graças a Deus, mas é muito, muitíssimo estafante e muitas vezes me dá uma preguiça danada de ir direto do trabalho pra casa e encontrar a Daura emburrada.

– Quando você saiu a primeira vez com a Candinha, como foi?

– O trem mais bão do mundo, doutor.

– Remorso, nenhum?

– Pra falar a verdade, só um pouquinho, mas depois nem me preocupei mais, e quando surgiram a Soraia, a Marta, a Janaína… é, aí viciei.

– Resumindo, te acalmava.

– Na bucha, doutor… mas, peraí, por que essas perguntas?

– Adiante você vai entender o porquê delas. A propósito, durante sua ausência de quarenta dias você conseguiu solucionar algum de seus problemas?

– Doutor, olha pra mim, está reparando nalguma coisa?

– Estou notando que você está com um semblante mais sereno.

– O senhor está querendo dizer que está me achando mais calmo?

– Isso mesmo. O que houve?

– Muita coisa. Em primeiro lugar, solucionei o caso da Janaína.

– Espero, sinceramente, que não tenha optado pelo caminho mais drástico e desumano.

– Pode ficar tranquilo, não precisei usar meu revólver.

– Que coisa maravilhosa. Como você resolveu a situação?

– Dinheiro, doutor, a mola mestra do mundo. Se não fosse o vil metal eu não sairia desta com tanta facilidade.

– Mas o que você fez?

– Comprei a Janaína e o pai dela.

– Como assim?

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Wdrfree.com, meramente ilustrativa.

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