PAULO MADAR PIVA − A HOMENAGEM QUE NÃO SE FEZ

Postado por e arquivado em ARTIGOS.

TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1984)

Nem sempre são tributadas homenagens nos momentos oportunos. Nem sempre se diz a verdade quando ela deve ser dita. Muitas vezes homenagea-se açodadamente a uma pessoa, no impacto de um momento de emoção e outras tantas se deixa de fazê-lo a quem merece durante muitos anos.

Particularmente, sou daqueles que preferem o meio termo, daí ser bastante contrário à grande maioria dos títulos honorários de cidadão patense concedidos ao longo dos anos pela Câmara Municipal, fazendo dele, que deveria ser motivo de orgulho, uma recompensa quase que vulgar, como aliás, vem acontecendo de um modo geral, nas outras cidades brasileiras.

Considero precipitada a concessão de uma homenagem por serviços prestados, a quem quer que seja, antes que decorram muitos e muitos anos dessa atividade. Pela mesma forma, não gosto das homenagens tardias que poderiam ter sido feitas ao longo da vida de uma pessoa e que somente são lembradas após a sua morte. E nós aqui, temos sido pródigos em fazê-lo a quem chegou há pouco, deixando de lado aqueles que deram a vida em seu trabalho, ainda que modesto.

Sempre reconheci a importância do trabalho desenvolvido na área da Agricultura, pela colônia gaúcha aqui radicada há menos de uma década, da qual foi pioneiro o Engenheiro Agrônomo Paulo Madar Piva¹. E apesar da transformação sofrida pelo Chapadão de São Pedro da Ponte Firme, através do trabalho desses abnegados cidadãos que vieram do sul, com reflexos altamente positivos na economia de Patos e da região, não me passou ainda pela cabeça, a possibilidade de se prestarem homenagens de vulto a qualquer deles, por considerar ainda cedo.

Mas não foi por isto que A Debulha tenha deixado de manifestar sua opinião sobre eles e já na sua edição de número 5, de 15/07/80, publicamos uma entrevista com o jovem e arrojado pioneiro², que por sua impetuosidade, iria logo depois , se ver em dificuldades perante a comunidade, por declarações feitas, ou segundo ele, mal interpretadas por um repórter de um dos jornais paulistas. E mais uma vez, em nossa edição de número 9 de 15/09/80, ao refurtar-mos algumas das declarações a ele atribuídas, ressaltamos a importância do trabalho dele e de seus companheiros, concedendo-lhe ainda na mesma edição, a oportunidade de publicar uma nota explicativa³.

Recentemente o seu nome voltou à tona, em virtude de sua produção de soja por hectare, igual às maiores médias do mundo, como prova inequívoca de seu valor, mas ainda assim, considerei ser cedo para conceder-lhe títulos e homenagens. Seu tempo haveria de chegar.

Entretanto, pelos desígnios insondáveis de Deus, na ensolarada manhã do último dia 20, o jovem empresário e fazendeiro, de apenas 32 anos de idade, juntamente com seu filhinho de apenas 7 anos e mais duas crianças e um adulto, tiveram cessadas suas vidas aqui na terra, em um brutal acidente de avião4.

Carbonizado. Irreconhecível. Lá se foi Paulo Piva, o pioneiro (não do plantio da soja, que já era cultivada na região, mas do desbravamento dos chapadões de São Pedro da Ponte Firme). Sem títulos, sem homenagens, sem troféus e nem medalha.

A manifestação do povo patense e da região os substituiu, creio eu. O reconhecimento de todos pelo trabalho por ele iniciado, foi o tributo que lhe haveria de ser rendido mais tarde.

A maravilhosa paisagem das amplas planícies do outrora inútil Chapadão de São Pedro da Ponte Firme e a efetiva participação dele na produtividade nacional − atestado eloqüente de sua passagem por entre nós − haverão de perpetuar a sua memória.

* 1: Leia “Paulo Madar Piva − Um Gaúcho Patense”.

* 2: Leia “Paulo Madar Piva − O Gaúcho Pioneiro”.

* 3: Leia “Paulo Madar Piva − Polêmica”.

* 4: Leia “3.º Acidente Aéreo”.

* Fonte: Texto publicado com o título “A homenagem que não se fez” no Editorial do n.º 85 de 31 de janeiro de 1984 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Arquivo de Guilherme Piva.

Compartilhe