Paulo Piva, cuja morte trágica chocou toda a cidade, foi o grande líder da fantástica transformação do outrora desprezado Chapadão de São Pedro da Ponte Firme, hoje coberto por um verde mar de plantações. Plantações que cada vez mais se espalham pelas áreas vizinhas, pela ação dos Pioneiros Gaúchos ou pela indução de sua poderosa influência, que já alcança muito além daquela região.
Para quem, como eu, que tantas vezes cruzou por aquela antes desolada região, espécie de terra de “fazer longe”, na jocosa e depreciativa expressão de nossa gente, é ainda mais admirável a estupenda metamorfose ali operada, até mesmo do ponto de vista plástico, pois a região ganhou um esplêndido embelezamento.
O quase deserto transformou-se num gigantesco oásis.
Além de sua excepcional contribuição para o desenvolvimento econômico da região, reconhecido por todo mundo, Paulo Piva foi também um ativo participante de vários setores de nossa vida comunitária, como mostra sua atuação nos clubes de serviço, como o Lions, e no esporte, como Diretor da U.R.T.
Espírito aberto, participante e prestativo, Paulo Piva, integrou-se muito bem em nossa sociedade, superando rapidamente o mal estar causado por uma entrevista sua a um jornal Paulista, há alguns anos¹. Dai o extraordinário destaque alcançado entre nós e provado pela também extraordinária demonstração de pesar de nosso povo quando de sua morte.
Para realçar seu espírito prestativo, gostaria de lembrar que na mesma manhã em que morreu, colhido pela tragédia que também levou seu filho Vinícius, os meninos Leonardo e José Mário, (filhos do Gerente do BDMG em Patos, José Mário de Souza), e o mecânico José Vicente, ele voou seguidamente 2 horas e meia carregando dois fotógrafos, para servir à Prefeitura de Presidente Olegário, em função das ilustrações para o livro sobre o município, que está sendo preparado pelo historiador Antônio Oliveira Mello. Tudo a leite de pato.
Não é certo que o desastre aéreo que o vitimou tenha tido certa dose de imprudência, como tanto se comentou nos primeiros dias. Mas é possível. Afinal, a ousadia era uma das marcas de seu caráter. Foi ela que o ajudou a fazer dele, juntamente com sua determinação e capacitação como agricultor e empresário, um dos maiores produtores individuais de grãos do estado, além do Rei da Soja no Brasil, em produtividade – como registrou “O Globo”, um dos maiores jornais do país, na notícia de primeira página sobre sua morte. Na verdade, era preciso ousadia para tentar o que ele fez no Chapadão de São Pedro da Ponte Firme. Sem esquecer que o notável sucesso que alcançou não seria possível sem um bom conhecimento do ramo nem uma grande capacidade de trabalho e liderança, e até mesmo do apoio do Polocentro, com a orientação do nosso Libêncio Mundim.
Sem um mínimo de ousadia ele sequer deixaria sua Não Me Toque no distante Rio Grande do Sul, onde ele tinha um bom emprego e a proteção de um pai poderoso, para lançar-se de corpo inteiro numa aventura num lugar distante e tido como impropriado para a agricultura pelo povo da região.
Gostaria de destacar outro ponto. Se o ideal do adventista sempre foi chegar, enriquecer e voltar, para Paulo Piva isso não valia. Como César, ele chegou, viu e venceu. Mas, diferentemente de César, deixou-se vencer pela terra onde se tornou vencedor. Pela sua integração com o nosso povo, com os nossos anseios e ideais, ele se tornou um dos nossos. E tão enraizado já estava que, ao contrário do forasteiro – que só pensa em voltar, depois de enriquecer – ele, já riquíssimo, só pensava em ficar. Tanto que estava concluindo na cidade uma grande mansão, certamente a maior e melhor casa residencial jamais construída na região.
Paulo Piva, por tudo isso, já era um dos nossos. Certamente, se mais vivesse, mais contribuiria para o nosso desenvolvimento. E a certeza disso faz ainda mais viva sua lembrança na memória de todos nós.
* Fonte: Texto de Oswaldo Amorim publicado na coluna Política com o título “Homenagem a um Gaúcho-Patense” da edição n.º 85 de 31 de janeiro de 1984 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Arquivo de Guilherme Piva.
* 1: Leia o texto “Paulo Madar Piva – Polêmica”.