SOFRÊNCIA DO TORCEDOR DA URT

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O Geraldo, se não é o maior, é um dos mais apaixonados torcedores celestes, daqueles que não perdem um jogo sequer no Zama Maciel e faz o possível para estar presente em todos os treinos. No final do ano passado, como sempre, fez questão de conhecer todos os jogadores contratados e desejar uma boa campanha no Campeonato Mineiro. Chegado o ano de 2022, a angústia pelo começo do torneio aumentava a cada dia. Até que finalmente veio a estreia.

Decepção para o Geraldo na derrota de 3 a 0 para o Cruzeiro. E a cada jogo, uma nova decepção. Na última partida, derrota em casa para o Democrata de Governador Valadares por 2 a 1, a triste constatação: após 11 jogos, uma única vitória − que, incrível, foi sobre o Atlético por 1 a 0 −, quatro empates e seis derrotas e o rebaixamento para a segunda divisão em 12.º e último lugar.

Foi duro para o Geraldo. Mas logo animou novamente quando soube que o clube havia firmado uma parceria com a empresa AIR Sports Agency, comandada por Anderson Ibraim da Rocha, para, inicialmente, a disputa do Campeonato Brasileiro da Série D. E animou mais ainda com a chegada dos novos jogadores, pois a coisa é assim mesmo: a cada competição um novo time cujos jogadores de aluguel não têm identidade alguma com a camisa e com a Cidade.

A estreia aconteceu na cidade de Araraquara-SP contra a Ferroviária. O Geraldo não perdeu tempo e se preparou. Quando o juiz apitou o início do jogo, ele, feliz da vida, estava confortavelmente sentado no sofá de sua casa com o rádio ligado na narração do Adamar Gomes e saboreando uma geladíssima cerveja. Mas a alegria durou pouco, pois logo o adversário fez um gol, depois outro, depois outro, depois mais um, depois mais outro e assim foi até parar em oito. O mundo desabou para o Geraldo, que nunca havia sofrido tamanha humilhação com o seu Trovão Azul. Perder de 8 a 0 foi demais. Nem a esposa conseguiu acalmar os prantos do marido, que se enfiou debaixo dos cobertores não querendo mais sair de lá. Carinhosamente, a patroa preparou um forte chá de maracujá, mas o Geraldo não aceitou, não queria nada, apenas ficar deitado ruminando a derrota acachapante.

A noite foi tétrica. Geraldo rolava para lá e para cá imaginando em sua mente os oito gols. Quando conseguia cerrar os olhos um pouquinho, lá vinham os oito gols. E assim foi durante toda a madrugada. E assim foi no alvorecer do dia. No exato momento em que ele acabara de imaginar o oitavo gol, sua esposa o cutucou dizendo:

– Levanta, Geraldo, já passa das nove.

Sobressaltado, bruscamente ele se pôs sentado na cama e com os olhos arregalados e lacrimosos, bradou aos céus:

– Não, pelamordedeus, basta oito, mais de dez não, não vou aguentar tamanho sofrimento!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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