A iniciativa dos nossos fazendeiros, criadores e negociantes de gado, batizados pelo nome de “cascas-grossas”, de irem à Capital da República entender-se com o Chefe do Govêrno e pedir a sua atenção para o nosso município, merece aplausos.
E êste jornal, fiel ao programa que se traçou no seu reaparecimento, não os regateia.
A Comissão Organizadora do movimento já está ultimando as providências para a viagem que se deve iniciar no dia 1.º de outubro próximo.
Sabemos que a caravana será constituida de um avultado número de representantes das nossas classes conservadoras e que pretende fazer uma exposição completa da nossa situação em face do problema de transportes.
Será acertado que essa exposição seja acompanhada de dados exatos colhidos nas fontes oficiais e que evidenciem o volume da nossa produção, a sua variedade, inferindo as imensas possibilidades do municipio.
O momento é oportuno. O nome de Patos projetou-se recentemente no cenário nacional, mercê do copioso noticiário publicado em grandes órgãos a respeito do trigo, serviço prestado pela Moinhos Minas Gerais S.A. e devido à larga e segura visão do seu Presidente, dr. Luiz Amaral.
Os “cascas-grossas” vão decerto encontrar um ambiente favorável, pois já se operou assim a preparação do terreno.
Si a embaixada, já de entrevista concedida pelo Presidente da República, souber encaminhar o importante trabalho, vai convencer o preclaro Chefe do Govêrno de que a estrada de ferro é elemento indispensável à propulsão do nosso progresso e ao nosso desenvolvimento econômico.
E vai conseguí-la, embora o momento talvez dificulte ao Govêrno a execução de obras do gênero.
Será de muita fôrça, no caso, lembrar, na exposição a ser feita, a situação deplorável em que se vê o país por falta de ferrovias que ponham em comunicação, pelo interior, o Norte e o Sul. O fato de termos no Sul escassez de produtos do Norte, e vice-versa, é argumento de alto valor que evidencia perfeitamente deverem todos os esforços da nação ser orientados no sentido de estabelecer uma rede completa de vias de transporte internas. Ainda somos um corpo cujo sangue, isto é, as riquezas, precisa de circular pelo exterior…
O Estado Novo tem encarado de frente a realidade brasileira e pretende dar solução aos seus vários problemas. Deles, um dos mais importantes é a falta de vias de comunicação que unam as partes do grande todo.
A iniciativa em apreço, pondo em foco o momentoso problema, concorrerá não só para a solução de um caso particular como para o encaminhamento de uma questão que interessa vitalmente à nacionalidade.
* Fonte: Texto publicado com o título “Estrada de Ferro em Patos” na edição de 26 de setembro de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Foto: Do livro “Domínios de Pecuários e Enxadachins”, de Geraldo Fonseca.