ENCHENTES DO RIO PARANAÍBA: NOSSOS PIONEIROS FORAM MAIS INTELIGENTES

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TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2022)

Essa atual enchente do Rio Paranaíba me leva historicamente aos idos tempos de 1770, quando Afonso Manoel Pereira de Araújo chegou por aqui¹. No imaginário, é certo que ele procurou um lugar adequado para se instalar. É certo que ele deve ter admirado o Rio Paranaíba. E mais certo ainda que sua inteligência o impeliu a não se estabelecer às margens do então caudaloso curso d’água. Assim registra a História. E a História também registra que o tempo foi passando, outros chegaram e surgiu o Sítio “Os Patos”. Às margens do Rio Paranaíba? Não! Tão inteligentes quando o nosso prezado Afonso Manoel Pereira de Araújo, resolveram se acomodar à beira de uma esplendorosa lagoa, longe do rio caudaloso².

Enquanto os nossos pioneiros resolveram não iniciar uma povoação às margens de um rio, pelas Minas Gerais, Brasil e Mundo afora outros pioneiros não foram tão inteligentes como os nossos: iniciaram povoações às margens de rios. Naquela época, é certo acreditar, que muitas enchentes ocorreram no Rio Paranaíba, assim como em todos os rios de Minas Gerais, Brasil e Mundo afora. Enquanto por aqui as enchentes do Rio Paranaíba em nada afetavam os nossos inteligentes pioneiros, por Minas Gerais, Brasil e Mundo afora inúmeras povoações à beira de rios foram afetadas por enchentes.

E assim o tempo foi passando. Por aqui, o lugarejo então se desenvolveu de cima para baixo, longe do Rio Paranaíba, substancialmente após a doação de um terreno para a construção de uma Capela³, transformando-se em Vila e depois em Cidade4. Em Minas Gerais, Brasil e Mundo afora, inúmeras Cidades se desenvolveram de baixo para cima, com os rios aos seus pés. Enquanto todas se desenvolviam, as enchentes dos rios acompanhavam. Por aqui, sem problemas. Nas outras às beiras dos rios, a cada enchente, a Natureza deixava bem evidente a escolha errônea dos seus pioneiros. A vida seguiu, com muitos prejuízos materiais e de vidas para eles.

Deixando Minas Gerais, Brasil e Mundo afora de lado, concentremos em Patos de Minas, pois os outros que resolvam seus problemas. Então, por aqui, depois da emancipação em 1868, o lugarejo cresceu. Foi crescendo, crescendo, e um ou outro morador, por necessidade, se aventurou a ocupar alguma faixa alagável do Rio Paranaíba. E assim o lugarejo deixou de ser lugarejo e se transformou numa Cidade. E assim, enquanto a Cidade crescia, uma leva de desprovidos economicamente tentavam ocupar espaços para moradia. Aonde? Lá no alto, na parte nobre com cada centímetro quadrado tendo dono, onde o Rio Paranaíba não chega nunca? Nunquinha! Só restou aos coitados as baixadas alagáveis do Rio Paranaíba. E assim, pouco a pouco, as baixadas alagáveis do Rio Paranaíba foram ocupadas, primeiramente com a criação da Vila Operária.

Quando a ocupação das áreas alagáveis do Rio Paranaíba teve início, o nosso visionário Oswaldo Amorim bradou, e como bradou ao poder público para não permitir a ocupação das áreas alagáveis do nosso Rio-Mor. Ele chegou a sugerir, em 1975, a criação do Parque do Paranaíba5. O problema, o enorme problema, é que o nosso prezado Oswaldo se esqueceu do básico em se tratando de poder público: ele é cego, mudo e surdo. Vai daí que, contrariamente aos nossos pioneiros, irresponsavelmente, liberaram e continuam liberando loteamentos a torto e a direito sem as mínimas condições de serem loteamentos. Como exemplo recente, vá lá agora no final da Avenida Carlos Nogueira Júnior, no Bairro Copacabana. Está lá uma casa com água no teto e um loteamento pronto para ser ocupado.

O passado transpareceu o fato. Nada foi feito. No presente o fato tornou-se banal. E o futuro vai se presenciar tétrico, visto que, quando as águas de hoje baixarem, quando daqui a pouco tempo não se falar mais nisso, voltarão a surgir loteamentos nas áreas alagáveis do Rio Paranaíba. Afinal, para um poder público que libera a aberração da Rua Ceará6 e outras mais, liberar loteamentos nas áreas alagáveis do Rio Paranaíba é procedimento normal. E tem um forte chamariz: IPTU!

Não vai demorar muito toda a área alagável do Rio Paranaíba estará ocupada com o aval do poder público. E nessa entra os três macacos sábios: primeiramente o executivo libera (o cego); segundamente o legislativo se cala (o surdo); terceiramente o ministério público vai estar afugentando pardais (o mudo).  Preparem-se, então, para as próximas tragédias, sucessivamente, cada vez mais trágicas. E aí, como sempre, inevitavelmente, os irresponsáveis três poderes vão culpar a Natureza!

* 1: Leia “Afonso Manoel Pereira de Araújo: Nosso 1.º Dono” e “Carta de Sesmaria de Afonso Manoel Pereira de Araújo”.

* 2: Leia “Povoação Os Patos”, “Panorâmica na Década de 1940 com a Lagoa dos Patos”, “Panorâmica na Década de 1940 com a Antiga Matriz, a Cadeia, a Igreja do Rosário e a Lagoa dos Patos” e “Lagoa do Sítio Os Patos”.

* 3: Leia “Escritura de Doação Feita por Silva Guerra e sua Esposa” e “Sobre Luíza e Silva Guerra: Homenagem da Câmara Municipal em 1976”.

* 4: Leia “Roteiro de Textos: Dos Pioneiros à Emancipação”.

* 5: Leia “Parque do Paranaíba”.

* 6: Leia “Aberração no Passeio − 10: Atentado à Vida do Pedestre”.

* Foto: Do arquivo do MuP, via Geovane Fernandes Caixeta, publicada em 20/05/2016 com o título “Enchente do Rio Paranaíba em 1965”.

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