Início da década de 1950, época em que o Padre Tomaz Olivieri mantinha a sua Cidade dos Meninos¹. Época em que a Lagoa da Vargem Fria era esplendorosa com seu espelho d’água de um quilômetro de diâmetro e 2 metros de fundura². Lá pras bandas onde se localiza hoje indústrias como a CEMIL, havia um fazendeiro muito devoto a Santo Antônio cuja filha foi batizada pelo Padre Tomaz. Passado um tempo, o fazendeiro teve um problema sério de saúde e, de acordo com suas rezas, foi curado. Sensibilizado, solicitou ao Padre uma hora de orações, o que o sacerdote concordou em atender. Foi então marcado o dia.
Hoje, para se chegar aonde era a dita fazenda é muito fácil: Avenida JK, Trevo da Pipoca, BR 365 à esquerda e adiante entrada para o Distrito Industrial, tudo no asfalto. Entretanto, naqueles idos tempos, as estradas eras as típicas rurais, que, como hoje, sofrem deverasmente nas chuvas. E uma semana antes da dita marcada reza choveu muito, o suficiente para deixar as estradas praticamente intransitáveis. Aquilo preocupou o Padre Tomaz. No dia, então, caiu uma aguaceiro medonho. Mesmo assim, o Padre manteve a intenção de cumprir o seu papel apostólico. Mas como ir?
Foi então que ele teve uma ideia. Chamou seu assistente e planificou:
– Vamos cavalgando até a casa do Sr. Geracindo, pegamos a canoa dele, atravessamos a Vargem Fria e chegamos ao nosso compromisso. E voltamos do mesmo jeito.
Dito e feito. Após um lanchinho caprichado oferecido pelo Sr. Geracindo, Padre Tomaz e seu assistente, este nos remos, evidente, começaram a singrar as outrora vultosas águas da Lagoa Vargem Fria. Após as primeiras remadas, eis que veio uma ventania forte, as águas começaram a se revolver bruscamente, o que assustou o Padre. Mesmo assim, foram em frente. A ventania foi aumentando, a canoa começou a balançar de modo nada agradável. Enquanto o assistente remava tranquilamente, o Padre rezava. Já no meio da lagoa, uma rajada de vento violenta desequilibrou o Padre, quase o lançando n’água. Padre Tomaz se segurou e ordenou ao assistente que continuasse, ele rezando e o assistente tranquilamente remando. Até que um raio atingiu uma árvore no outro lado da lagoa. Imediatamente, nervosamente, Padre Tomaz ordenou ao assistente:
– Vamos voltar, vamos voltar agora.
O assistente, tranquilamente, retrucou:
– Padre Tomaz, o senhor não pode faltar a essa reza, estão te esperando lá, vamos em frente que o nosso Deus é forte.
Padre Tomaz, mais pra sereno do que pra nervoso, mais para a realidade do que para a eternidade, desabafou:
– Deu é forte, mas eu sei como essa canoa é fraca. Vá, voltemos, reme, força, reme…
E voltaram, antes que um baita temporal assolasse a Cidade.
* 1: Leia “Padre Tomaz Olivieri e Sua Obra Assistencial”.
* 2: Leia “Vargem Fria: Foi-se Outra Lagoa” e “Réquiem Para Seis Lagoas”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.
