Nono presidente: José Ilídio Pereira, filho de Ilídio Pereira da Fonseca e Alcena Gonçalves Fonseca. Nasceu em Patos de Minas no dia 09 de agosto de 1915. Se estivesse vivo hoje, estaria celebrando 103 anos de existência. Foi o primogênito de oito irmãos, sendo: José Ilídio, Eunice, Francisco, Adelaide, Alexina, Ilídio Júnior, Dácio e Lídia Márcia.
Zezé como era conhecido por todos, era uma pessoa de bem com a vida. Muito elegante e vaidoso usava sempre ternos de Tropical Inglês e Linho 120. Cortês, brincalhão, super bem humorado e muito querido entre as pessoas. Adorava viajar, adorava a vida.
Fazendeiro e comerciante bem sucedido, pé de valsa e certamente cobiçado pelo público feminino. Gostava de contar piadas e ele próprio achava graça delas. Sócio proprietário com seu pai, construíram o Edifício Ilídio Pereira na Rua Major Gote, esquina com a Rua Olegário Maciel. Neste prédio eles tinham uma grande loja destinada à venda de diversos produtos: materiais de construção, ferragens e muitas outras mercadorias. Havia de tudo na loja. Também foi proprietário da primeira bomba de gasolina da cidade, segundo a informação do seu contador Eurípedes Gonçalves Martins. Foi o primeiro a construir na Rua Major Gote com a Cesário Alvim, uma série de 10 casas, quando naquela época, lá era puro brejo. Até hoje ainda existem algumas destas casas, testemunhas da época de progresso e modernização urbana¹. Numa dessas casas funciona hoje a Padaria Elis Marina.
Casou-se com Dália Olímpio de Melo em 04 de julho de 1945. Construiu uma residência luxuosa para os padrões da época na Rua General Osório, onde residiu com sua família pela primeira vez. Nesta casa nasceram os três primeiros filhos do casal: Eduardo, Helena e Heloísa. Dália conhecia José Ilídio de longa data, pois eram vizinhos. O amor de Dona Dália pela Recreativa, tem um motivo importante. Foi no salão do clube num baile de 1944 que eles começaram a namorar, sempre muito bela (alguns afirmam que naquela época era uma das moças mais bonitas da Sociedade Patense).
Seu legado na família: sete filhos, vinte e um netos, quinze bisnetos e mais três a caminho. Dizem que ser avó é ser mãe duas vezes. Pois ser bisavó é ser mãe três vezes. Todos os filhos formados. São quatro engenheiros: Eduardo, Frederico, José Olímpio e Marcos; uma pedagoga, Helena; Heloísa, funcionária pública aposentada e Eula (in memorian), formada em Letras. Estão espalhados por este Brasil afora, somente Helena ficou em Patos de Minas. A família se reúne pelo menos uma vez por ano para uma festa de confraternização.
José Ilídio foi gerente da Cooperativa Agropecuária, era católico, vicentino, ajudando sempre a Conferência São Vicente de Paulo. Presidiu o Aero Clube de Patos de Minas. O clube era considerado pelos registros das atas, como uma entidade coirmã da Sociedade Recreativa Patense. Ambas as associações representavam os sinais de progresso da cidade e aglutinavam em torno delas as lideranças e os destaques dos empreendedores da época.
Presidiu a Recreativa por cinco vezes, nos anos de 1951, 1955, 1958, 1965 e 1967. Assim como a maioria dos presidentes, foi, em sua época, um dos empresários de grande destaque no comércio de Patos de Minas. A história da Recreativa foi, em grande parte de sua existência, o fio condutor da vida social das famílias proprietárias do comércio da cidade. Não só do comércio como da política local. No caso de José Ilídio, Dona Dália assegura que ele não era ligado à política.
Com entusiasmo, Dona Dália diz como José Ilídio era uma pessoa dinâmica e capaz de muitas realizações. Zelosa com os documentos da época, ela lê o texto: “Zezé foi presidente da Sociedade Recreativa Patense por muitas legislações. Remodelou e modernizou o clube, comprou eletro hifi (eletrola) e ventiladores. A Recreativa teve seus tempos áureos, com orquestras famosas, como Cassino de Sevilla e Alegria de España”.
Vieram então os grandes bailes. A eleição da primeira Rainha da Recreativa, Dilza Queiroz, hoje esposa de Dr. Benedito Alves de Oliveira. Muito curioso como eram denominados os bailes, com suas versões temáticas, levando as pessoas a se vestirem de acordo com o tema escolhido. Todos os sábados havia a Hora Dançante, animada pelo conjunto Orlando Rabelo, composto por Formiguinha e pelo Caroca. Também vinha o Conjunto do Baim, da vizinha cidade de Patrocínio, irmão do Binga (Sebastião Alves do Nascimento). Segundo Dona Dália, Baim tocava saxofone muito bem.
Baile dos Casados, quando os senhores quase todos vestidos de roupa escura e as damas de branco ou de roupas claras. Baile das Margaridas, Baile das Debutantes, Baile da Pipoca, Baile do Poá, cujo tema era o tecido de bolinhas. O Baile do Xadrez, da Chita e do Tento. Este por exemplo fazia com que as pessoas viessem de vermelho e preto. Os homens não entravam sem gravata, em quaisquer bailes de gala.
Naquela época não havia decoradores. Dona Dália era o braço direito de seu marido, na organização das festas. Ela comenta que houve um baile de São João em que as Casas Pernambucanas emprestaram 50 peças de tecido de chitão para a decoração do salão. Ela avalia como as pessoas eram mais liberais nesta época, no sentido do desprendimento em relação a bens materiais. Nesse baile houve a presença de Adelaide Chiozzo, excelente acordeonista e seu marido Silvinho. Fato interessante foi o desfile patrocinado por Tecidos Bangu, quando houve a eleição da Missa Elegante Bangu e a eleita foi Helena Pereira de Melo, filha do casal. É importante ressaltar que a Recreativa concentrava a nata da sociedade de Patos de Minas naquela época, que era constituída pelos empresários do comércio, políticos e pelos profissionais liberais, tais como os farmacêuticos e os médicos. Ser presidente da Recreativa era símbolo de status.
Os carnavais foram os mais inesquecíveis, pois havia a batalha de confetes. A diversão começava às sete horas. O conjunto se posicionava na sacada da Recreativa. As pessoas ficavam nas sacadas do prédio da Recreativa de um lado da Rua Major Gote e do outro lado na marquise do Hotel Magnífico. Então era serpentina para lá, serpentina para cá e em baixo, na rua, era a batalha de confetes. Os carnavais eram muito animados, inclusive com muitas fantasias bonitas. Na época o lança-perfume era permitido e o Dodô, frequentador assíduo dos carnavais na Recreativa, trazia o produto, armava a barraquinha e vendia na porta de entrada do clube, juntamente com o confete, serpentina e outras mercadorias. Os homens se fantasiavam de marinheiro, de pirata e também havia os blocos que agitavam a folia. Na terça-feira a folia parava à meia-noite, em respeito à quarta-feira de cinzas.
Sua gestão fez com que a Recreativa cumprisse verdadeiramente sua missão de entretenimento das pessoas. Ele mesmo uma pessoa festeira, deixou a marca da diversão e da alegria no clube. Promoveu, enquanto presidente, o glamour da sociedade e foi indiscutivelmente uma figura expoente em sua época. A diretoria que tomou posse no seu primeiro mandato foi: João Borges de Andrade, Vice-Presidente; José Pereira Borges, 1.º Secretário; José Alonso dos Santos, 2.º Secretário; José da Rocha Filgueira Filho, Tesoureiro; Comissão de Contas: Djalma Caixeta de Melo, José Eunápio Borges e Virgílio Caixeta de Queiroz; Suplentes: Elpidio de Melo Ribeiro, Ibrahim Pereira da Fonseca e José Alonso Queiroz.
Zezé, como era conhecido carinhosamente por todos, faleceu em 06 de abril de 1999, com quase 84 anos de vida. O legado de seu trabalho e de sua existência ecoa até os dias de hoje pelo formato de alegria característica que acontece em cada baile da Recreativa. Dona Dália é o elo que garante esta continuidade e autenticidade do passado com o presente, para que o clube não perca sua verdadeira identidade. Mais ainda, legou para nós sua filha Helena, que dá prosseguimento à alegria e animação de seu pai.
* 1: Leia “Casa da Família de Luiz Gonzaga de Souza” e “O Estilo José das Chagas”.
* Fonte e foto (1944): Livro “Recreativa: Uma Jovem Acima de 80 Anos” (2018), de Dennis Lima.