Devia voltar hoje à temática urbanística, da qual me venho ocupando há meses neste minifúndio de papel, na esperança de contribuir para o melhor desenvolvimento da cidade. Mas creio necessário, até − ou sobretudo − por razões didáticas, focalizar de novo a lamentável investida contra as magníficas paineiras da Avenida Paranaíba e da Rua Major Gote¹ (nesta, felizmente estancada depois de meu grito de alerta). E faço-o sem sair do primeiro objetivo, pois a arborização é essencial em todo projeto urbanístico. Basta lembrar o lema universal do moderno urbanismo: “Ar-Sol-Vegetação”.
Meu propósito, porém, não é seguir lamentando o atentado contra nossas árvores, por todos os títulos infeliz, mas principalmente o de evitar a repetição de fatos deste tipo que, a par de empobrecer a cidade, projeta uma imagem pouco lisonjeira sobre nosso grau de civilização.
Quero fazê-lo, não apenas alertando as autoridades sobre a enorme importância da arborização para Patos − em termos de embelezamento, amenização do clima e purificação do ar −, mas principalmente o povo, a quem em última análise, cabe defender um patrimônio que é seu e existe em seu benefício.
A árvore dá a sombra que refresca, o fruto que apetece, as flores que perfumam e a beleza que encanta, na sua esplêndida composição de tronco, galhos, folhas e flores. A arborização urbana, além de tudo, atua positivamente sobre o ânimo dos habitantes. A propósito, disse a escritora Maria Thereza Cavalheiro: “A arborização age também, psicologicamente, sobre o ânimo das criaturas. O verde tranquiliza o espírito. Um ambiente florido concorre para a boa disposição interior de cada um. Nas crianças, as plantas despertam bons sentimentos e o gosto pela arte”.
Portanto, as árvores e as plantas concorrem para tornar as cidades mais agradáveis. Na verdade, quanto mais verde tiver, mais bonita será a cidade. E quanto menos verde dispuser, mais triste se apresentará. É a vegetação que ameniza o árido cenário de paredes e muros − dando vida a uma paisagem morta. Assim, enriquecer a arborização, ampliando-a em quantidade e qualidade, é enriquecer a própria cidade.
Por isso, o dever da Prefeitura é investir na arborização (e nunca contra a arborização), para tornar a cidade cada vez mais bonita e agradável. E o dever da comunidade é o de defender essa arborização, como algo vital para todos. Como disse alguém, “Cada árvore plantada na rua é como uma criança e deve crescer sob o carinho da coletividade”.
O plantio de árvores, entretanto, não pode ficar restrito às nossas vias públicas: impõe-se também a criação de parques, com vistas a uma maior humanização da cidade por oferecerem magníficas áreas de verde e lazer para todos.
Sob este ponto de vista, foi uma pena, uma enorme pena a destruição da antiga Mata do Juca Santana² que, se preservada, poderia funcionar hoje como um esplêndido Parque Municipal. Mas há outras matas ou restos de matas que poderão ter esta destinação e às quais, por isso mesmo, cumpre preservar para este fim. Este é o caso do Bosque do Trevo³, que deve ser tombado o quanto antes. E o verbo vai aqui no sentido registrado pelo “Aurélio”: algo que o Estado inventaria e põe sob sua guarda para conservar e proteger. Mas há também a mata que se estende da fazenda do Hélio Amorim à antiga fazenda do Afonso Queiroz4, a matinha na encosta do chapadão, à direita do acesso à rodovia Patos-Presidente Olegário5, e dentro da cidade, o resto da antiga Mata do Juca Santana − que deveria ser rapidamente declarado de utilidade pública, para evitar sua total extinção. Quanto mais cedo a Prefeitura puder desapropriar esta área melhor. O ato seguinte seria o replantio da área em volta, com essências nativas − sob orientação de um técnico do Instituto Estadual de Florestas.
Como disse em outro artigo, as lagoas do Trevo e da Vargem Fria e outras, deveriam ser circundadas por uma densa arborização com essências da região e que incluísse boa quantidade de frutíferas silvestres para a tração da fauna alada6.
Várias praças também poderiam ganhar uma arborização mais densa, com grandes árvores copadas − que fariam sombra generosa e, ao mesmo tempo, liberariam o chão para a brincadeira das crianças, o namoro dos jovens, o bate-papo dos adultos e o descanso dos velhos.
O que eu proponho é encher a cidade de árvores, é vestir Patos de verde.
* 1: Leia “O Caso das Paineiras da Avenida Paranaíba” e “Destruíram as Paineiras da Avenida Paranaíba”.
* 2: Leia “Pela Criação do Parque do Juca Santana”.
* 3: Leia “Bosque e Lagoa do Patão Agonizam”.
* 4: Parte dessa mata cedeu lugar ao Bairro Sebastião Amorim e adjacências.
* 5: Hoje a Rodovia do Contorno.
* 6: Leia “Preparando a Grande Patos de Minas de Amanhã” e “Réquiem Para Seis Lagoas”.
* Fonte: Texto publicado na edição de n.º 73 de 31 de julho de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.