UM BANCO PARA PATOS DE MINAS

Postado por e arquivado em ARTIGOS.

BANCOTEXTO: OSWALDO AMORIM (1955)

Diáriamente, mais de uma centena de pessoas faz fila diante dos escritórios de gerente, nos diversos estabelecimentos bancários da cidade. No entanto, apenas uma ínfima parte é atendida em suas justas reivindicações, ou melhor, em suas solicitações de empréstimos. Poder-se-ia pensar que aquêles cujas propostas são recusadas, não satisfazem os requisitos mínimos de garantia exigidos pelos bancos. Mas não é assim. E quem o duvidar, que faça pessoalmente a experiência para disso certificar-se.

Já pensou-se, porém, em quanto montam os depósitos do povo de Patos nos vários bancos aqui existentes? Já calculou-se quantos por cento dessa quantia é aqui empregado? Ao que consta, os depósitos aqui feitos atingem somas astronômicas. No que tange aos empréstimos porém, o assunto muda um tanto; pois, pelo que apuramos, estes não vão além de vinte por cento sobre os depósitos. Por isso é que todas as semanas vemos bancários tomando o avião da Nacional, sobraçando enormes e gordas pastas de couro… Naturalmente, contendo alguns milhões de cruzeiros para serem entregues na Matriz do Banco para o qual trabalham. Como se o dinheiro aqui para nós estivesse sobrando; como se a Indústria, a Lavoura, a Pecuária e o Comércio não estivessem ressentindo-se demasiadamente da falta de capital para progredirem, para desenvolverem, ou – quando mais não seja – pelos menos continuar suas atividades.

Parece-nos que o interesse primordial dos bancos aqui existentes não é, como poderia supor-se, emprestar dinheiro; mas retirá-lo de Patos para empregá-lo em Belo Horizonte ou outros lugares. Daí a necessidade premente de construirmos o nosso próprio banco. E não se faça juízo apressado quanto à inexequibilidade da idéia, pois, para não irmos muito longe, Araxá já o tem, o que prova sobejamente que em Patos também – e com muito maior razão – o podemos ter. A criação dêste banco seria de imensa utilidade para a cidade, posto que reteria aqui o capital nele depositado, empregando-o totalmente em Patos de Minas. Seria um Banco atuando em função dos interêsses da cidade, ao mesmo tempo que proporcionaria bons lucros aos seus proprietários, acionistas e também aos depositantes.

Não nos iludamos quanto aos outros bancos, pois a maioria dêles visa tão sómente angariar dinheiro no interior do Estado para empregá-lo na Capital, em imóveis, geralmente. Não importa que centenas de indústrias, que milhares de lavouristas, que inúmeros pecuaristas e comerciantes fiquem prejudicados, que as suas atividades não tenham amparo nem estimulo no capital bancário, contanto que os poderosos banqueiros estejam vendo suas vastas áreas loteadas valorizarem e subirem de preço dia a dia. É a ganância pelo lucro fácil e exorbitante, ainda que de funestas consequências para a já paupérrima economia do país.

Já fundou-se muitas coisas em Patos de Minas, que hoje – de um modo geral – gozam de prosperidade e de sucesso. Funde-se, pois, também um banco. Entre outras coisas, êsse banco teria uma grande virtude, talvez mesmo a maior e a mais importante de tôdas: a de mudar radicalmente a politica dos outros estabelecimentos bancários com relação aos empréstimos; fazendo com que eles passem a empregar na cidade, senão a soma total, pelo menos, noventa por cento sôbre os depósitos aqui feitos. Êste, o nosso desejo. Esta, a nossa esperança.

* Fonte: Texto publicado na edição de 13 de fevereiro de 1955 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Familiahore.com.

Compartilhe