PREPARANDO A GRANDE PATOS DE MINAS DE AMANHÃ

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TEXTO: OSWALDO AMORIM (1983)

Quando prego a necessidade de um planejamento urbanístico de largo alcance para nossa terra, como fiz no último artigo¹, não falo de uma planta totalmente detalhada, com todas as quadras e ruas, mas de um planejamento que defina hoje as nossas grandes avenidas de amanhã, riscadas em todas as direções, de modo a assegurar uma perfeita ligação entre todos os pontos das áreas expandidas e da cidade como um todo, bem como da indispensável reserva de espaço para praças, parques e todos os equipamentos necessários aos futuros moradores, como escolas, igrejas, campos de esportes, postos de saúde, creches, edifícios administrativos, bibliotecas, teatros etc.

Quanto às grandes avenidas do futuro, evidentemente estou falando das linhas mestras de nossa futura malha viária, capazes de interligar, com eficiência, todos os pontos das áreas expandidas e da cidade como um todo.

Se não fizermos isso agora, com os espaços livres que ainda dispomos à nossa volta, ficarão muito difícil mais tarde, pela fatal necessidade de se recorrer a desapropriações para a passagem dessas avenidas, através de áreas então edificadas. Ora, se simplesmente abrir-se uma grande avenida já custa muito dinheiro aos cofres públicos, claro que os gastos se multiplicam quando há que se somar a isso as pesadas despesas com as indenizações de casas e prédios. Tão pesadas, que uma prefeitura de interior normalmente nem se animaria a levar adiante a empreitada − com que a cidade, deixaria de ter uma via-tronco essencial para o bom desenvolvimento de certo setor da cidade.

Tomemos um exemplo: se a diretriz de uma dessas avenidas cruzasse alguns quarteirões construídos, a prefeitura enfrentaria imensas dificuldades para abri-la, tendo de desapropriar dezenas de casas e de desalojar dezenas de famílias para isso, com os conseqüentes problemas sociais.

Agora raciocinem comigo: se a Av. Brasil, por exemplo, fosse apenas uma rua, de igual comprimento, mas estreita, que condições teria a prefeitura de dar-lhe a largura atual, tendo de desapropriar centenas de casas e vários prédios para esse fim? Isso sem falar nos custos de natureza social, representados pelos problemas e até dramas provocados pela remoção compulsória.

Pior ainda, se amanhã a prefeitura tiver de abrir uma avenida por entre uma seqüência de quarteirões edificados, teria de desapropriar casas de um lado e outro e numa largura maior, precisamente por não contar com o suporte de uma rua. Isto porque, quando a rua existe, a tarefa quase sempre fica facilitada, pela possibilidade de se promover o alargamento de um lado só e em menor escala (por se tratar de uma complementação), reduzindo muito as despesas com as indenizações.

Para maior clareza, imaginemos que a avenida pretendida tenha 30 metros de largura. Se se tratar de uma rua a ser ampliada e essa rua tiver, por exemplo, 15 metros de largura, a faixa a se desapropriar será de apenas 15 metros. E, em princípio, de um lado só. Sem o suporte de uma rua, a faixa de desapropriação corresponderá à largura total da avenida. No caso 30 metros.

Dessa forma salta à vista a vantagem do planejamento urbanístico prévio, capaz de evitar um sem número de desapropriações e uma série de outros problemas, cuja solução exige alto custo econômico e social.

Por todas as razões, portanto, impõe-se o planejamento urbanístico de Patos de Minas, sob a coordenação de um competente urbanista e sua oficialização para todos os efeitos legais conseqüentes. Pois isso facilitará extraordinariamente a abertura de nossas grandes avenidas de amanhã, bem como a criação de amplas praças e parques públicos.

A propósito, um planejamento dessa ordem, deve necessariamente incluir as lagoas vizinhas da cidade, como a do trevo da pipoca e da vargem fria, um pouco à esquerda², bem como as matas ou restos de matas existentes, entre elas a do Hélio Amorim (se zangue não, meu irmão) e, principalmente, o bosque do trevo, que deve formar um conjunto com a lagoa ao lado³. Sem esquecer, é claro, o que restou da bela mata do Juca Santana, que deveria ser o nosso Parque Municipal. Mas isso eu sei que o Arlindo, em boa hora, está providenciando. Outro (dentre outros) resto de mata a preservar é aquela à direita da saída para Presidente Olegário, na encosta do Planalto adiante e que, como a mata do Hélio, também fica na antiga fazenda de meu pai, Sebastião Amorim.

No futuro − alguns mais cedo, outros mais tarde − todos deverão ou, pelo menos, deveriam funcionar como parques da grande Patos de Minas de amanhã.

No caso das lagoas, sua preservação deve incluir uma faixa circundante, com vistas ao plantio de uma orla de mata, formada por essências escolhidas e inseridas no nosso universo ecológico como paineiras, gameleiras, sibipirunas, cedros, jatobás, angicos, perobas, jequitibás, pau ferro etc., além de árvores frutíferas, principalmente silvestres, para atrair a fauna alada.

Deverão ser preservadas também as nascentes e os terrenos com alta declividade, com vistas ao seu aproveitamento como reservas ecológicas e áreas de lazer − e para evitar a sua inconveniente urbanização, também deverão ser preservadas jazidas minerais por ventura existentes na área de expansão da cidade, para permitir o seu aproveitamento futuro.

Um planejamento assim abre uma tranqüila perspectiva de desenvolvimento para a cidade, ao garantir um crescimento ordenado e inteligente. Com ele, Patos de Minas se tornará cada vez mais humana e bonita à medida que se expandir − ao contrário da maioria das grandes cidades brasileiras, cada vez piores à medida que crescem.

Voltando ao início, após a exposição feita, creio que todos entenderão porque prego um planejamento urbanístico amplo e abrangente, sem chegar ao detalhamento de ruas e quarteirões.

Afinal, garantidas as linhas mestras de nossa futura malha urbana e os espaços para as praças e parques de amanhã e toda a série de equipamentos comunitários, indispensáveis ao dia-a-dia dos futuros moradores, o detalhamento pode consumar-se através de loteamentos bem feitos e rigorosamente articulados com o planejamento geral − para o que deverão passar sempre pelo crivo de técnicos competentes.

Com planejamento assim, estaremos preparando hoje a grande Patos de Minas de amanhã.

* 1: Leia “Pelo Nosso Planejamento Urbano”.

* 2: Leia “Réquiem Para Seis Lagoas”.

* 3: Leia “Bosque e Lagoa do Patão Agonizam”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Preparando a grande Patos de amanhã” no n.º 70 de 15 de junho de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

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