A pancreatite felina foi descrita pela primeira vez em 1989 e emergiu como uma doença importante e potencialmente fatal. É referida como uma infiltração de células inflamatórias localizada no pâncreas exócrino. De um modo geral é apenas classificada em aguda ou crônica. A forma aguda é basicamente caracterizada pela presença de necrose e/ou inflamação neutrofílica (supurativa) e pela ausência de alterações histopatológicas permanentes. Alguns autores classificam-na ainda em duas formas distintas: pancreatite aguda necrosante e aguda supurativa, baseando-se na necrose ou na infiltração neutrofílica, respectivamente, como a característica histopatológica predominante. A pancreatite crônica é caracterizada por alterações histopatológicas permanentes, como a fibrose e a atrofia. Alguns autores utilizam termos como pancreatite crônica ativa ou pancreatite ‘‘aguda-em-crônica’’ para descrever a combinação das alterações histopatológicas observadas tanto nas alterações agudas como crônicas.
Os sinais clínicos mais comumente são anorexia (37-97%), letargia (17-100%), vômito (26-62%), perda de peso (9-62%), diarreia (11-40%) e poliúria-polidipsia (PU/PD) (27%). Os achados mais frequentemente registrados no exame físico foram desidratação (33-92%), palidez das mucosas (30%), icterícia (11- 24%), dor abdominal (20-52%), dispneia (15-20%), hipotermia (36-68%) ou hipertermia (12%) e a presença de uma massa abdominal palpável (3-23%) ou ascite. Alguns felinos apresentam apenas anorexia e letargia, e nem sempre sintomas gastrointestinais. Ocasionalmente podem ser observadas complicações sistêmicas severas como a CID, tromboembolismo, choque cardiovascular e falência orgânica.
O diagnóstico conclusivo é um desafio, pois não existe um padrão ouro de validação clínica para a doença. Portanto deve ser realizado a partir da associação de histórico, exame físico e achados da patologia clinica de rotina com base nos testes enzimáticos de alta sensibilidade e especificidade para a doença.
O tratamento deve ser fundamentado no pressuposto de que todos os gatos apresentam uma doença grave e as recomendações são baseadas em três fatores principais: fluidoterapia e reposição de eletrólitos, manejo nutricional, terapia antiemética e analgesia. A utilização de antibióticos na rotina não acrescenta benefício, embora seja ainda alvo de controvérsias. São recomendados nos casos em que se verifica a presença de infecções secundárias (ex. abcesso pancreático e colangite neutrofílica), ou quando há suspeita de infecção (ex. neutrófilos tóxicos, febre persistente, melena). Em alguns casos o tratamento cirúrgico pode ser necessário. É de suma importância que os fatores de risco sejam investigados e manejados, mesmo que na maioria das vezes a etiologia seja desconhecida.
* Fonte: Pancreatite Felina − Revisão de Literatura, de Danitiele Almas Garcia e Karolina Pires Martins (discentes do curso de Medicina Veterinária UNILAGO); Alessandra Maria Cortezi e Deriane Elias Gomes (docentes do curso de Medicina Veterinária UNILAGO).
* Foto: Universodegatos.com.