SOBRE A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA AGRÍCOLA − 6

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Por ocasião da visita do Secretário de Estado de Agricultura, Dr. Arnaldo Rosa Prata e sua ilustre comitiva a esta cidade, no último dia 22, foi-lhe entregue o documento que aqui transcreveremos.

Naquele dia, o Prefeito Arlindo Porto Neto, em companhia dos Deputados José Mendonça de Morais e José Maria Vaz Borges e de outras pessoas da comunidade, levou ao senhor Secretário e o Dr. Alberto Duque Portugal, representante do Presidente da EPAMIG − que não pôde comparecer − a Fazenda do Sertãozinho e com o mapa daquela fazenda nas mãos, mostrou-lhes “in loco” a faixa de terreno que se pleiteia para por fim à célebre novela.

Houve no início, certa resistência do representante da EPAMIG, o que nós particularmente, não acreditamos venha a acontecer com o Presidente daquela estatal, Dr. Miguel José Afonso Neto, nosso velho companheiro dos tempos de Instituto Gammon, em Lavras.

Já o senhor Secretário se comprometeu ali mesmo no local, a resolver a questão e também nós, não podemos conceber que sua palavra seja tão fácil como a do seu antecessor…

O Documento

Patos de Minas, 22 de julho de 1983.

Eminente Sr. Secretário de Estado de Agricultura Dr. Arnaldo Rosa Prata.

Exmo. Sr. Secretário,

Patos de Minas está inserida dentro do projeto CENTRO DE EDUCAÇÃO POLITÉCNICA, conforme concebido pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais para os CENTROS INTERMEDIÁRIOS. Tal projeto deverá converter-se em uma ação capaz de elevar os padrões culturais das comunidades a que se destina.

– Criando, inicialmente, escolas técnicas profissionalizantes a nível de 2.º grau para atender a preparação e a necessidade social do trabalho;

– Integrando, posteriormente, Núcleos de Ação Comunitária às atividades das escolas e respectivas oficinas;

– Espaços de Prática Pedagógica, no sentido de valorizar o trabalho como conteúdo pedagógico e como processo a partir do qual se desenvolvam atividades produtivas;

– Gerando novas alternativas de trabalho produtivo e renda para populações carentes, para atender demandas de bens e serviços da comunidade através do financiamento de estudo e desenvolvimento de tecnologia alternativa fundamental à melhoria da qualidade de vida da população de baixa renda;

– Entendido desse modo esperar-se que o projeto atenda as linhas básicas da educação do trabalho e do desenvolvimento comunitário. A integração social destas atividades deverá dar à escola uma dinâmica necessária à criação e manutenção de valores fundamentais e uma inovação e atualização do processo educativo.

Esta é uma síntese  do projeto CENTRO DE EDUCAÇÃO POLITÉCNICA para os CENTROS INTERMEDIÁRIOS.

Centro de Educação Politécnica

O projeto, em sua primeira fase, visa implantar o Centro de Educação Politécnica em três Centros Intermediários: Patos de Minas, Teófilo Otoni e Unaí.

Seus objetivos principais se resumem em propósitos, tais como:

– Ampliar as oportunidades educacionais a nível de 2.º grau para os estratos sociais de baixa renda, atenuando as desigualdades sócio-econômicas decorrentes das desigualdades de níveis de escolaridade;

– Adequar os conteúdos curriculares às necessidades da população de baixa renda e às condições de realidade sócio-econômica;

– Ampliar o mercado de trabalho local com a criação de novas opções produtivas e desenvolvendo tecnologias alternativas;

– Elevar a qualidade de vida das populações urbanas periféricas, uma vez que o projeto tem como “população alvo” os excluídos dos bens e serviços da economia e sociedade urbana.

Sr. Secretário, este Projeto Educação Para o Programa Estadual de Centros Intermediários, será executado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento − BID.

Logo que se iniciarem as conversações, para a implantação do projeto em Patos de Minas, entre a Coordenadoria de Programas Especiais, Gerência do Projeto Educação Para o Programa Estadual de Centros Intermediários, e a E.E. “Profa. Elza Carneiro Franco” − POLIVALENTE, fez-se necessário determinar quais seriam os cursos escolhidos que melhor se adaptassem à realidade patense. Para tanto a Escola realizou uma série de reuniões, contatos e pesquisas, ouvindo toda a comunidade, sobretudo aqueles aos quais o projeto interessava mais de perto: pais e alunos.

Agropecuária, um dos cursos apontados pela pesquisa

O resultado evidenciou três cursos: AGROPECUÁRIA, EDIFICAÇÕES e ECONOMIA DOMÉSTICA, sendo que o de Agropecuária foi o mais solicitado por razões óbvias − habitam uma região essencialmente agrícola.

No entanto, Sr. Secretário, a escolha trouxe consigo um sério problema: as necessidades de campo de estágio, treinamento para os alunos da disciplina de Agropecuária do Centro de Educação Politécnica, que gera a necessidade de incorporação de uma propriedade para tais atividades.

O projeto desta propriedade está elaborado no sentido de oferecer à Escola de Agropecuária de Patos de Minas, além de produtos para a alimentação de escolares, excedente para ser comercializado e reverter recursos para apoio à atividade da unidade escolar.

A possível propriedade será transformada em empresa agrícola, administrada cientificamente para permitir transferências de tecnologias agrícola, pecuária e administrativas a alunos e aos pequenos proprietários da região. A incorporação destas técnicas pelos alunos e pequenos proprietários tem como objetivo aumentar a produtividade do setor primário da região.

Este processo produtivo se dará a partir do envolvimento de alunos e comunidade na escola, onde receberão instruções e orientações sobre o uso das novas relações produtivas, produzidas ou existentes na escola. Entre estas estarão a produção de leite, de suínos, de aves de corte, ovos, uso de fertilizantes, equipamentos e máquinas, desenvolvimento de tecnologias apropriadas de plantio e serviços necessários à população estudantil e rural.

Montada dentro de técnica atualizada, a fazenda cumprirá toda a expectativa do projeto, tanto na concepção filosófica e científica, como capacidade de agregar aos alunos, treinamentos e estágios estruturados em condições de oferecer o desenvolvimento do processo produtivo.

Enfim, Sr. Secretário, diante da escolha principal − ampliação da Escola Polivalente para uma escola de 2.º grau ministrando Curso Técnico de Agropecuária − o impasse falta-nos o essencial, que é a fazenda-projeto.

Diante do impasse nos mobilizamos, Escola, Prefeitura, pessoas da comunidade e entendidas no assunto, para discutir uma possível solução.

Fazenda do Sertãozinho

Propôs-se, então, a possibilidade do uso de uma área de 100 hectares (área esta exigida pelo projeto) da Fazenda Experimental do Sertãozinho em forma de COMODATO.

A fazenda dista mais ou menos 20 Kms de Patos, é de fácil acesso por rodovia asfaltada e encontra-se, atualmente, em poder da EMBRAPA.

Neste sentido, rogamos a V. Exa., estudar a viabilidade deste comodato, o que viria tornar realidade um sonho patense de muitos anos.

Cremos que o uso destes 100 hectares em nada implicaria nas atividades do Sertãozinho. Pelo contrário, seria, isto sim um convivência muito benéfica − Fazenda/Escola − trocando mutuamente suas experiências.

Sr. Secretário, para reforçar ainda mais o nosso pedido, adiantamos a V. Exa., que todo ano uma revoada de jovens patenses se retira de Patos buscando em outras cidades, como Brasília, Uberlândia, Miguelópolis, Bambuí, etc., o seu tão almejado Curso de Agropecuária.

Ilustre Sr. Secretário, vamos permitir que esta juventude permaneça em sua cidade, promovendo o desenvolvimento da terra em sua própria terra.

Enfim, é esta, Sr. Secretário, a nossa solicitação; que V. Exa. se interesse pela nossa reivindicação, estudando uma forma de viabilizar o COMODATO de 100 hectares, de acordo com o croqui anexo, da Fazenda Experimental do Sertãozinho para implantação da Escola de Agropecuária de Patos de Minas, anexa à Escola Estadual “Professora Elza Carneiro Franco” − POLIVALENTE de Patos de Minas.

Respeitosamente,

Fernando Antônio de Melo
Diretor da E.E. “Profa. Carneiro Franco” − Polivalente

Arlindo Porto Neto
Prefeito Municipal

José Mendonça de Morais
Deputado Federal

José Maria Vaz Borges
Deputado Estadual

* Fonte e foto (Arnaldo Rosa Prata e Arlindo Porto Neto): Texto publicado com o título “Escola Agrícola novamente em foco” na edição n.º 73 de 31 de julho de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

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