UMA PALAVRA DE APOIO À CONSTRUÇÃO DA ESCOLA AGRÍCOLA

Postado por e arquivado em ARTIGOS.

ESCOLATEXTO: ZAMA MACIEL (1944)

Realizou-se, no salão do Hotel Rodovia, no dia 20 do mês p.p., uma reunião de pessoas diretamente interessadas no progresso de nossa terra. Eram quasi todos fazendeiros, e ali compareceram a convite de dois jovens agrônomos. Estes dois rapazes desejavam expor os planos que têm elaborados da criação de uma escola destinada ao ensino agrícola da mocidade de nossa região. Da exposição feita resultou o compromisso moral dos presentes de auxilia-los na consecução do alto objetivo a que têm em mira.

E este compromisso moral derivou, não resta duvida, de leitura feita do projeto de estatutos que deverá reger a futura escola. Lidos os primeiros artigos, concluiu-se que quem se apresenta com um programa bafejado por tal dose de idealismo não pode deixar de ser um sonhador grimpado no mais sadio proposito. Quem redigiu o Capitulo Primeiro do citado documento, por onde se vislumbra profunda compreensão dos problemas humanos, é certamente pessoa que conhece as picadas que se abrem em meio ao matagal da ignorancia e da supertição presentes para se construir a larga e clara estrada do futuro.

Ali se estabelece que “a escola tomará tanto quanto possivel o aspecto de estabelecimento de assistencia social” e promoverá dissiminação dos principios de “higiene dentro de uma vivenda bonita e alegre, em que se revelem os habitos e conhecimentos necessarios à elevação do padrão de vida na comunidade rural”.

A escola cogitará de alargar o seu ciclo de influencia “promovendo a criação de um corpo de trabalhadores sociais bem selecionado e preparado para a assistencia de menores na zonas rurais do país” e de formar um corpo de meninas e moças, instruido na “técnica de trabalhos caseiros e rurais, ao lado de solida educação religiosa, artistica e civica”.

O artigo 6.º, merece transcrição integral. “Baseada exclusivamente nas realidades nacionais e não em vagos sonhos de inovadores sem escrupulos, esta Escola cuidará seriamente da cultura civico-espiritual de seus educandos. Ela não terá por fim adextrar seres humanos para a produção em massa, como maquinas ressequidas e sem alma, mas terá por finalidade primordial amoldar homens para o convívio da civilização”.

Nestas palavras está concretizado todo um programa educacional, inspirado em uma nova concepção de vida.

Esta nova vida a que assistimos aos albores e que desponta nos campos de batalha, e cujo nascimento é precedido do ronco dos canhões necessario a espantar os duendes e deuses que têm sido o grande pesadelo da humanidade.

Se estas palavras se tornassem o lema de todas as escolas, talvez, dentro de uma centuria a humanidade teria mais luz e viveria mais feliz.

Infelizmente fundam-se ginasios com os quais se mercadeja com a criança, ou nos quais se objetiva molda-la a uma determinada ideologia.

Molda-se a criança para defeza de tal ou qual principio religioso ou politico, incuntindo-se-lhe na alma um odio cego ao pensamento contrario, o que fatalmente provocará os atritos que faz do homem o mais barbaro de todos as animais.

A escola que os dois agronomos se propõem a fundar encontrará muitos e muitos obstaculos nacedoiro, mas como traz este cunho idealista, talvez, conseguirá medrar. Três idealistas se comprometeram a ajuda-los. Flausino Pacheco Lou, Jonas de Bessa Ribeiro e Moacir Viana de Novais. Se Lou é o idealismo em ação, Jonas de Bessa o é da medida e do equilibrio. O Moacir do trigo, o sonhador e fantastico Moacir dos sonhos dos trigais, é o exemplo vivo do quanto pode um homem movido por uma nobre ideia.

Destas colunas o meu incentivo aos dois jovens agronomos drs. José Marcones e Daniel Antpoff.

Estarei com todos, ajudando-os a trazer munição para a grande bateria que ha de derrubar a casamata do indiferentismo e da ignorancia.

NOTA: O historiador Geraldo Fonseca, em seu livro “Domínio de Pecuários e Enxadachins”, comenta sobre a “Escola Agrícola do Sertãozinho”: Nos limites do Sertãozinho com a Mata dos Fernandes funcionou uma escola ou aprendizado agrícola, sob a direção do professor José Marcondes Filho. Chegamos a visitar o estabelecimento, por volta de 1946, quando pudemos constatar o zelo e dedicação do mestre e alto grau de aproveitamento de seus alunos.

* Fonte: Texto publicado com o título “Uma Palavra de Apoio” na edição de 04 de junho de 1944 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Pt.wikipedia.org, meramente ilustrativa.

Compartilhe