O Edifício Alvorada é um marco na História de Patos de Minas. Foi o primeiro “arranha-céu” da Cidade com igualmente o primeiro elevador. De vários pontos ele era referência, juntamente com a Catedral de Santo Antônio. Foi inaugurado em dezembro de 1961. Era comum os meninos da época proporcionarem um trabalho danado ao zelador do prédio, pois a garotada adorava “viajar” na grande novidade do sobe e desce do engenhoca, principalmente alunos do ali pertinho Grupo Escolar Marcolino de Barros. Chegou-se até ser necessário os responsáveis pelo edifício conversar com a direção do estabelecimento de ensino no intuito de coibir a brincadeirinha nada agradável dos estudantes. E ficou estabelecido que qualquer aluno do Grupo que fosse pego no elevador sem a presença do pai ou responsável seria suspenso. Só assim a gurizada deu sossego ao elevador.
Enquanto isso, o Pedrinho, também estudante do Marcolino, mas que não participava das estripulias dos colegas, era filho do Nhô Nicolau, um dos carroceiros mais requisitados naquela época, época esta em que a carroça era um meio de transporte comuníssimo. E na profissão de carroceiro, Nhô Nicolau sustentava a família com esposa e cinco filhos com muita dignidade. No dia em que o Pedrinho contou ao pai sobre a novidade do elevador, ele, o pai, não acreditou. De tanto o filho falar da tal espetacular novidade na Cidade, Nhô Nicolau tomou coragem e resolveu averiguar. Na entrada pela Rua Major Gote estava o zelador que, coincidência, era seu conhecido. E isso facilitou demais da conta para o Nhô Nicolau que foi logo perguntando, baseado no que o filho havia lhe contado:
– Que disgrama de trem de quartinho sem janelas é esse que sobe e desce dentro das paredes carregando gente?
O zelador escancarou um largo sorriso porque sabia da simplicidade do homem. Com paciência, levou-o até a porta do elevador e danou a explicar como funcionava aquela disgrama de trem de quartinho sem janelas. O Nhô Nicolau escutou, mas não entendeu bulhufas, vendo várias vezes a porta se abrir escancarando o quartinho sem janelas e depois se fechar. Então arriscou uma pergunta:
– Quantos homens puxa esse trem de quartinho sem janelas lá de cima?
O zelador, desta vez com uma farta risada, já ia explicar quando chegou uma idosa de lá seus 90 nos de idade. Com educação, o zelador aconchegou a idosa no quartinho sem janelas, a porta se fechou e o Nhô Nicolau ficou boquiaberto, sem dizer uma palavra, assustado com o que tinha presenciado. Assim ficou uns dois minutos, imaginando o que tinha acontecido com aquela idosa. Quando o zelador estava para recomeçar a explicação, a porta do quartinho sem janelas se abriu e saiu uma morenaça aparentando pouco mais de 20 anos. De queixo caído, com os olhos encantados com a beldade, Nhô Nicolau, arfando, vociferou:
– Eita que esse quartinho sem janelas é trem do capeta!
Agarrou o Pedrinho pelas mãos, correu até a carroça e se mandou.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.