TEXTO: EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES (1908)
Acaba de surgir das brumas do levante, o anno de 1908 e com elle a nova phase do “Trabalho”; desejando a todos innumeras felicidades, lamentando aquelles, que dizimados pela epidemia¹, se foram sumir na mudez da morte, a redacção do “Trabalho” continuando no seu programma imparcial, sem orientação politica, pugnando pelos interesses do povo, desse povo, amante dos que produzem a luz, só deseja que mais auspiciosos augurios, accompanhem nesta terra a industria, o commercio e a lavoura, essa triade que é o sustentaculo, desta pequena sociedade, tão dilacerada pelas lutas intestinas.
Agora que temos quasi que em realidade, uma estrada de ferro, que temos um matadouro, que em breve teremos agua canalizada e uma fazenda modelo, é justo que nos esforcemos, para que tudo isto, seja amanhã uma realidade.
Avante e sempre, seja sempre a divisa deste povo, concitamos a todo cidadão, a todo pae de familia, para concorrer na medida de suas forças, para o engrandecimento desta terra; é preciso lembrarmo-nos das festas sociaes do mundo civilisado; ao lado das festas eclesiasticas, que dão tranquilidade ao espirito, precisamos das festas populares que são banquetes da civilisação; o carnaval que é a festa do commercio, em substituição em entrudo agreste de nossos avoengos, o 15 de Novembro, que é a festa da patria, o 21 de Abril, o 13 de Maio e outras não devem ser descuradas, pois representam a sagração aos vultos eminentes de nossa terra natal; que importa, que alguns carrancas tenham as suas idéas vetustas petrificadas na tradicção, se temos em deredor de nós a bella e feliz mocidade, que tem a faculdade de nos repor no passado. Vemos todos os dias uma porção de filhos familias sahirem desta terra constantemente, e nos collegios, nos gymnasios, nas faculdades, abrilhantando o nome de Patos ao seio de suas familias rodeados de maiores encomios, são estas as sentinellas avançadas da patria, capazes um dia de reerguel-a, da margem onde atiraram-na os odios politicos e as rivalidades velhas; portanto moços é preciso cerrar fileiras para que os inuteis desobstruam a trilha, e deixem passar avante a legião invencível dos proveitosos.
A mocidade instruida, já o disse alguem, vale uma casa cheia de ouro, quem dera podessemos ter sempre ao nosso lado esta mocidade, que daqui tem saído para os collegios, para as Academias, para o commercio, vivendo ao contacto das cousas illibadas, beijada pelo sopro das aspirações santas; assim como censuramos o que é digno de censura, elogiamos tambem o que é digno de encômios, hoje o pae de familia cura da educação dos filhos, mandando dar-lhe instrucção conforme os seus meios, e não faz delle como antigamente um camarada para a roça, por isso dizemos, que para o futuro nesta terra o professor ha de eliminar o carcereiro; fazendo minhas phrases de outrem devemos dizer a bem da verdade, que na idade em que o rapaz devia receber na Igreja a primeira communhão, recebia a primeira sentença de Tribunal do Jury.
Dr. Euphrasio Rodrigues.
* 1: Um anúncio do final de 1907 fala em seca e vários casos de febre de mau caracter, que nada mais é que a Febre Amarela. O citado anúncio informa que, até aquela presenta data, os casos fatais foram raríssimos. Quem sabe adiante ocorreram muitas mortes, daí a afirmação do Dr. Euphrasio. Leia “Calor e Seca − 1907”.
* Fonte: Texto publicado com o título “Ao Povo Patense” na edição de 20 de janeiro de 1908 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Início do primeiro parágrafo do texto original.