PLANTÃO MÉDICO DEFICIENTE EM 1983

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TEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1983)

Eu gostaria que, além dos leitores, a classe médica patense entendesse a minha apreensão, porque, ainda que não queiramos, somos uma cidade que converge a assistência médica de uma vasta região. Além do corpo médico mais numeroso, noutras cidades que nos circundam, muitas vezes, falta a assistência médica previdenciária, ao passo que em nossa cidade este tipo de assistência é muito frequente.

Ocorre no entanto, que por uma falta de esquematização, o sistema dos plantões médicos é altamente deficitário e quando se precisa de um cardiologista, vamos encontrar um pediatra, quando se precisa de um pediatra vamos encontrar um ortopedista e assim sucessivamente.

Para uma cidade que além do Hospital Regional, possui mais quatro Casas de Saúde¹, entendemos, salvo melhor juízo, que a Associação Médica devesse sugerir um plantão global, ainda que este plantão não ocorresse numa mesma Casa de Saúde.

Assim, só como sugestão, ficariam um pediatra e um cardiologista numa Casa de Saúde; um clínico geral e um urologista na outra; um ortopedista e um otorrino na outra; um ginecologista e um cirurgião na outra, isto de tal forma que qualquer paciente que chegasse necessitando de socorros, tivesse uma assistência completa.

Julgamos que num sistema como o sugerido, ou outro que atinja o mesmo objetivo, será salutar para todos os pacientes e servirá para que os médicos tenham o seu descanso semanal sem maiores turbulências.

Lamentavelmente, o que temos visto ultimamente, está longe, muito longe de nos colocar como cidade polo da Medicina no Alto Paranaíba, pois quando chega na sexta-feira, os médicos seguem para o seu descanso e não há controle perfeito de atendimento.

Existe uma necessidade muito grande de se compreender que as Casas de Saúde deverão estar atentas para prestarem os esclarecimentos necessários, utilizando os meios de divulgação e até mesmo fornecendo os serviços médicos que serão oferecidos no plantão, assim como acontecem nas farmácias, no tocante a seus plantões.

Infelizmente, a doença não avisa a hora em que vai chegar e nada mais angustiante que ficar atrás de um recurso, sabendo que o recurso existe, principalmente, porque o paciente se sente constrangido e o médico, cortando o seu descanso, não fica psicologicamente, pronto para o atendimento.

Chego a admitir que este assunto devesse ser tratado com mais técnica, mais conhecimento de causa médica, no entanto, como outra pessoa não se sensibilizou com o assunto, eu peço perdão se escrevo numa linguagem que pode ser até vulgar, mas no jornalismo a vontade de acertar deve estar acima de qualquer linguagem ou técnica. Acredito que os médicos poderão encontrar uma solução muito mais prática, muito mais lógica, mas a grande verdade que alguma coisa deve ser mudada, para que o paciente de fim de semana não fique marginalizado, como igualmente, se respeite o descanso médico no fim de semana.

Se nós chegarmos a um denominador comum, unindo o trabalho dos médicos e conciliando-o com o atendimento das Casas de Saúde, Patos estará lucrando e os médicos serão beneficiados.

Pode que eu esteja enganado, mas falta um pequeno retoque e espero que os médicos compreendam que a minha intenção é valer-me do jornalismo para servir à coletividade, sem com isto desgastar o conceito da classe.

Se minha sugestão não for ouvida, não faz mal, porque a mim me basta ser compreendido e eu tenho certeza de que o povo e os médicos  irão me compreender.

* 1: Hospitais Nossa Senhora de Fátima, Imaculada Conceição, São Lucas e Vera Cruz.

* Fonte: Texto publicado com o título “Semana Inglesa” na edição n.º 67 de 15 de abril de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Wallacyatlas.com, meramente ilustrativa.

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