ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO (KAKAY): O ADVOGADO DE MEIA REPÚBLICA

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digitalizar0001 - CópiaO celular “apita” indicando notificação do WhatsApp. Na tela do aplicativo do músico Di Brasil, surge a foto do amigo ao lado do “Rei” Roberto Carlos. Di Brasil e o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, se conhecem há oito anos e, nesse tempo, criaram uma cumplicidade que só as longas amizades são capazes de construir. “Quando ele está em uma festa, abraça a todos da entrada até os fundos. Ele trata todo mundo por ‘querido’. É assim, natural. Com toda franqueza, pelo que o conheço, sei que é um cara amigo de todos, e, além disso, todo mundo gosta dele”, resume o mineiro de Buritizeiro e com carreira consolidada em Brasília.

Traçar o perfil de um dos mais conceituados criminalistas do Brasil, principalmente quando o entrevistado carrega a fama de “advogado de meia república”, num primeiro momento, parece não ser tarefa fácil até que o entrevistado se mostra totalmente acessível e não faz qualquer restrição em atender a imprensa.

Mineiro de Patos de Minas e cruzeirense apaixonado, Kakay mantém um escritório enxuto, na Asa Norte, em Brasília. Em sua equipe estão outros quatro advogados e uma fila de candidatos a clientes, que não para de crescer. O slogan “Quando a casa cai, procure o Kakay” já virou brincadeira nos bastidores da política. Mas o mineiro nem sempre está disponível. De cada 30 casos que chegam a seu escritório, apenas um é escolhido. “Tenho vários critérios. Basicamente, busco um caso com defesa técnica boa”, explica o “salvador” da República.

Agora, no escândalo da Petrobras, pelo menos oito políticos procuraram por Kakay. Entre eles, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que teve o pedido de investigação arquivado. “Seria uma grande injustiça ter aberto inquérito contra o Aécio. Não existe absolutamente nada contra ele”, comenta o criminalista.

O bom trânsito com políticos dos mais diversos partidos rende situações curiosas que o próprio Kakay revela, como o dia em que estava em reunião com Aécio e recebeu ligação do ex-ministro petista José Dirceu, seu amigo. “Interrompi a reunião e expliquei que precisava atender o Dirceu”, conta com bom humor.

O prestígio de Kakay também vem do tratamento que dá aos clientes. “Para ficar à vontade”, revela ele, o escritório tem uma “estrutura física boa” com biblioteca e uma adega. “Trato o cliente como se fosse o meu único. Cada caso é único. Se, por acaso, encontrar meu cliente na rua, estou inteiramente informado sobre o processo dele”, diz o advogado, que faz questão de assumir todas as sustentações orais das causas.

“As pessoas o procuram não simplesmente porque ele ganha causas, mas pelo seu poder de resolver as coisas”, comenta um colega. O desfecho do episódio do vazamento de fotos íntimas da atriz Carolina Dieckmann, representada por Kakay, não foi apenas causa ganha, mas uma lei para coibir crimes cibernéticos.

Mas ele não abre mão de alguns hábitos. Só sai da mansão onde mora, próximo ao lago Paranoá, uma das áreas mais nobres de Brasília, á tarde. Pela manhã, lê jornais e tem o costume de ouvir clássicos de Bach.

Longe das tensões dos tribunais, Kakay também é famoso pelas grandes festas que promove. “Brincamos que Alcione, Bruno e Marrone e eu abrimos o show principal, que foi do Kakay”, lembra Di Brasil sobre uma das confraternizações oferecidas pelo amigo no ano passado. Nas festas, o próprio Kakay costuma cantar. No repertório, sempre estão músicas de Robertos Carlos, um de seus clientes e hoje mais um amigo.

Kakay costuma não cobrar honorários para defender “algumas causas”. “Tenho boa parte de pro bono (voluntário), que não sai na imprensa”. Um exemplo foi processo de danos morais movido por um professor contra estudantes de arquitetura de uma faculdade de Brasília. A causa foi ganha. “Foi muito engraçado, porque o professor foi condenado a pagar R$ 3.000 em honorários. Nós pegamos o dinheiro e fomos a um bar com os estudantes tomar uma cerveja”, conta.

digitalizar0002 - CópiaCriminalistas destacam o carisma e a competência do colega de profissão. Defensor do operador do mensalão Marcos Valério, Marcelo Leonardo lembra que o colega é proprietário do tradicional restaurante Piantella, em Brasília, reduto de políticos. “É excelente advogado, com atuação marcante em Brasília, onde tem excelente relacionamento em todos setores do Poder Judiciário e da política.

Advogado da secretária de Marcos Valério, Simone Vasconcelos, Leonardo Yarochewsky também destaca a atuação de Kakay. “Além de ser preparado intelectualmente, é uma pessoa carismática, com personalidade marcante. Com sua competência inegável, ele acabou se destacando. Advocacia não está ligada à questão partidária. Ele circula por todos os partidos. Advocacia criminal é apaixonante, e as pessoas que se entregam de corpo e alma, como Kakay, acabam se destacando, se diferenciando”.

Advogado do petista José Dirceu, José de Oliveira Lima também destaca a simpatia, o bom trânsito e a lealdade do mineiro no círculo profissional.

MINIENTREVISTA

Qual sua maior conquista?

Ter meu próprio escritório de advocacia.

Tem algum trauma?

A morte do meu pai. Tem 12 anos, e é a pessoa que eu mais amei na vida.

Qual sua principal qualidade?

Eu gosto de ser amigo, gosto de amizade, sou um bom ouvinte, até porque advogado tem que saber ouvir.

E defeito?

A vaidade é um dos defeitos maiores que o homem tem.

Tem medo de quê?

Ranger de dentes. Li na Bíblia que no inferno tem ranger de dentes.

Qual seu maior orgulho?

Ter uma família extremamente unida, pais, irmãos, filhos. Tenho trinta e tantos afilhados. Somos cinco filhos.

E uma decepção?

O PT frustrou minhas expectativas. Devemos aprender com as decepções.

Pode citar uma paixão?

Cruzeiro é uma paixão. Não marco reunião na hora do jogo do Cruzeiro.

Qual seu maior sonho?

Ter um país mais igual, mais justo, aquilo que eu pregava na época de estudante: igualdade social, mais solidariedade. O sistema penitenciário é indigno. Lula teve a vantagem de inserir 30 milhões de brasileiros na economia, mas a economia anda mal, patina.

Tem religião?

Fui criado no catolicismo. Não acredito na instituição da igreja, mas tenho minha fé.

Alguma superstição?

Tenho uma beca que gosto de usar em julgamentos grandes como o do mensalão. Superstição faz um charme na vida da gente.

* Fonte: Matéria de Denise Motta publicada na página oito da edição de 22 de março de 2015 do jornal O Tempo.

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