GENEBALDO E O CHEVETINHO

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No final da década de 1970, o Chevette era o carro popular mais procurado pelos patenses. Um deles, o jovem Genebaldo, balconista na loja Imperatriz dos Calçados do Seu Freitas, chegou em casa todo satisfeito com um exemplar verde abacate. A mãe, felicíssima, declarou a si mesma:

– Agora sim, finalmente, ele vai arrumar uma namorada.

Feliz da vida, Genebaldo se esbaldava, consumindo seu parco dinheirinho em noitadas no Tabu. A mãe, preocupadíssima, alertava o seu queridinho:

– Filho, para com isso, você está gastando seu dinheiro com bobajadas, daqui a pouco não vai conseguir pagar as prestações.

E o Genebaldo, que passava horas admirando seu Chevetinho na garagem, dizia sempre que ia parar com as noitadas para economizar dinheiro. Pura impressão da Tita, pois ele não estava nem aí, e tome cervejada com os amigos e amigas. Não demorou muito as previsões da mãe se tornaram realidade: começou a atrasar as prestações do carro. Foi num crescente até que a concessionária entrou com um processo de busca e apreensão. A mãe entrou num processo de desespero, pois não tinha dinheiro para quitar a dívida e garantir o bem tão precioso e necessário do filho. Desesperada, foi ao Fórum procurar o Juiz responsável pelo caso que, compadecido, programou uma audiência de conciliação.

Na audiência, enquanto o filho permanecia mudo, a mãe chorosa expunha todo o sofrimento do filho por estar prestes a perdeu seu atual bem mais precioso. Minuciosamente, falou que o filho ficou deslumbrado, que por uns meses se perdeu nesse deslumbramento e que jurou encerrar com as noitadas para nunca mais atrasar as prestações e… por aí foi na ladainha. Até que o Juiz não aguentou mais e perguntou:

– Minha senhora, por que seu filho, que é a causa desse processo, não diz palavra alguma?

Foi então que a senhora escancarou seu coração de mãe:

– Por tudo quanto é mais sagrado nessa vida, pelo amor do Divino Pai, vocês não podem tomar esse carro do meu filho Genebaldo. Repare nele, Sr. Advogado, presta atenção nele, Sr. Juiz, olhem como ele é feio de rachar diamante, feio que dói, e assim, sem o carro, ele jamais vai arrumar uma namorada, e eu preciso casar esse menino, não quero morrer sem ele ter se casado.

Dizem alguns veteranos da época que o Advogado da concessionária ficou com tanta pena do rapaz que facilitou demais da conta ele pagar os atrasados e, desde que ele não mais atrasasse nenhuma prestação, poderia continuar de posse do querido e necessaríssimo Chevetinho.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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