NECESSIDADE DA VELHA, A

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Nos anos de 1950 e 1960 o futebol patense era repleto de ótimos jogadores nativos ou adotados. Foi o seu apogeu com craques que, com certeza, hoje seriam astros nos melhores times do país e, quiçá, no mundo afora. Mesmo com tanta abundância naqueles idos tempos, vire e mexe algum atleta de fora era contratado. Assim, em meados da década de 1960, a URT contratou um jovem de Araxá que fazia certo sucesso na equipe de lá. O rapaz chegou, olhou, gostou do que viu na nossa Cidade e imediatamente previu que ia se dar bem, pois ele considerava, fundamentalmente, que tinha futebol para tal e aqui criaria raízes. Entretanto, como naquela época o esporte não era bem remunerado, considerou por bem procurar outra ocupação para lhe garantir uma renda mensal mais substanciosa, como era hábito referente a todos os outros jogadores. Inclusive, também era hábito os jogadores contribuírem com as despesas dos clubes.

Com a ajuda de seus novos companheiros de time, foi apresentado ao Joãozinho Andrade. Como ele não tinha a necessária Carteira de Trabalho, não exigida para jogar futebol, pois o vínculo era na base do Contrato, o Joãozinho lhe indicou onde consegui-la. Lá, foi informado:

– Dois retratos 3 x 4, Certidão de Nascimento e Título Eleitoral. Como é uma Carteira nova, você precisa apresentar a velha.

Com tudo anotadinho e pretendendo resolver logo a situação para estar em condições de trabalhar na loja do Joãozinho Andrade, pediu licença ao José Carvalho, então presidente da URT, para viajar até Araxá e ajuntar o que lhe foi solicitado. Foi num pé e voltou no outro, como diz o ditado, isto é, foi num dia e voltou no outro. E sem perder tempo se apresentou na repartição pública para entregar os documentos e ter em mãos a tão necessitada Carteira de Trabalho:

– Aqui estão os dois retratos 3 x 4, Certidão de Nascimento e Título Eleitoral.

– Mas eu te avisei que para tirar uma Carteira nova tinha que também trazer a velha. Cadê a velha?

E o jogador, numa demonstração eufórica de satisfação, respondeu em alto e bom som:

– Como me foi solicitado, aqui está ela.

E apresentou a sua distinta mãe!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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