URGE A NECESSIDADE DE UM MERCADO MUNICIPAL

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TEXTO: EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES (1941)

Parece nossa terra, com certas mulheres nervosas, que só são carinhosas, para os namorados que as maltratam.

Aqueles que dizem mal de Patos pelas ruas e pelas esquinas em pouco tempo são postos nos cornos da lua.

Os fundibulários que tudo destroem, sem nada construirem fazendo trabalho de sapador, são os entes queridos de suas entranhas.

Aqueles que amam esta terra e para ela só tem frazes laudatorias, que gastaram sua mocidade e até a seiva de sua vida em prol deste povo, são hoje postos à margem.

Isto me entristece; a Justiça, porém, faz parte do fundo de minha indole, por isso vos digo, caros leitores, si em alguns de meus artigos, eu disser contra Patos, uma palavra que denote uma esquecimento, ou uma ingratidão, protesto desde já contra esta palavra tão amistosamente, como amistosa é a insinuação.

Disse em meu artigo do numero passado, que Patos tem tido progresso, tem agua canalisada, tem luz eletrica, tem estabelecimentos de instrução, tem linha de tiro, tem tudo emfim, que uma civilisação exige para uma cidade habitavel e boa; falta porém uma coisa, que é a base essencial, de uma sociedade bem constituida.

Falta o mercado. O mercado é o lugar onde se vê, qual a natureza do gênero, que o povo consome; a existência do pobre, vai se tornando cada vez mais precaria, pois que não ha estabilidade, no preço dos gêneros, mais essenciais da vida.

Os atravessadores estão atentos, cercam o lavrador, e compram o que a terra produz, por baixo preço, com o único fim de locupletar-se e estabelecer a alta do comércio; os leitores examinando bem, vêm que todos ficam lesados.

O lavrador, não tem estimulo, porque o lucro não corresponde, ao seu trabalho.

O povo fica lesado, porque compra muito caro, o gênero que abunda.

O fisco fica lesado, porque estas compras, quasi sempre, são clandestinas.

Olhemos, agora para a qualidade dos gêneros alimenticios.

A que fiscalização está subjeito o gênero alimenticio que o povo consome?

O arroz mofado, a farinha bolorenta, o feijão bichado, a batata podre, a mandioca ensuada, a aguardente com cal, a galinha com gôgo, o ôvo chôco, tudo isso é empurrado no pobre povo, por falta de um mercado.

Si houvesse um mercado, havia para o povo vantagens incalculaveis; primeiro havia a seleção do produto; segundo, o gênero de superior qualidade, teria maior cotação, o de inferior qualidade teria cotação inferior e o emprestável, seria posto à margem. A alimentação de um povo, é a base principal da higiene.

Os gêneros alimenticios vindos ao mercado, não poderão ser vendidos sem a inspeção fiscal, com o que muito lucrará esta população. Quanto a parte comercial vejamos a influência que o mercado tem.

Ouve-se dizer na cidade todos os dias: “O arroz subiu de preço”. Mas porque? perguntam logo; é porque só fulano é quem o tem e portanto dita a praça; ora como ninguem pode tomar a força, o arroz o do fulano, tem de se sujeitar ao preço pedido, ou passar sem arroz.

Vejamos agora, o que se dá havendo o mercado.

O arroz chega ao mercado; fulano não pode comprar para armasenar, porque o preço do consumo, não é o mesmo, que aquele, pelo qual ele costuma comprar a portas travessas. O vendedor reputa melhor o seu arroz principalmente porque vende a dinheiro e não a troco de outros gêneros.

Mencionamos isto, porque existem vendeiros, que trocam o arroz do lavrador por fumo ou cachaça, depois vendem ao consumidor, ganham na cachaça e duas vezes no arroz.

Um tal comercio, é pesadissimo para o proletariado.

Em nome do povo, venho pedir aos govêrnos estadual e municipal, estes govêrnos que tantos melhoramentos transcendentais têm feito para nossa urbs, a construção de um mercado, de que nossa querida terra tanto está precisando, acabando com uns negocios escuros feitos nas horas caladas da noite.

Diz-se por aí que o brasileiro, manda o café moca, para o estrangeiro e bebe a borra; manda o boi para abastecer os países em guerra, e come a vaca pesteada.

Dia virá em que hão de repicar jocundos todos os sinos, palpitarão de alegria os corações, ha de se ouvir o riso argentino das crianças rosadas, abençoando todos os seus benfeitores, pela alimentação sadia e reconfortante, que lhes foi ministrada, tornando-as aptas a tomar parte no festim da vida.

O Abelhudo¹.

* 1: Pseudônimo usado pelo Dr. Euphrasio José Rodrigues em vários de seus artigos.

* Fonte: Texto publicado com o título “As Lacunas do Progresso” na edição de 12 de outubro de 1941 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

* Foto: Colorir-desenho.com.

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