TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1941)
O “O Jornal”, em seu número de 6 do corrente, traz o croquis das novas linhas aereas que a Panair do Brasil pretende comercialmente explorar, para o que foi autorizada pelo Governo da República. Lá está Patos figurando entre as cidades beneficiadas. E o leitor do matutino carioca lerá o nome de nossa terra emparelhada aos dos mais importantes centros do país. Os patenses sentimos intima satisfação por vermos que esta pequena cidade, a mais nova de tôda a região, construida pelo nosso esforço dentro do Sertão do Brasil imenso, estará, dentro em breve, ligada por uma linha aerea regular a Belo Horizonte e Goiânia, e destas capitais a tôdas as grandes metropoles do continente.
Ninguem discute mais entre nós da importância que tem para o progresso o estabelecimento da citada carreira de aeroplano. O povo compreendeu o alcance do fato, e sonha jubiloso com os pássaros de prata indo e vindo, descendo e subindo no grande campo da lagoa¹. No ronco trepidante de seus motores, todos pressentem que a buliçosa cidadezinha de província se transformará. Na planície tão quieta e dona dos mais soberbos pôr de sol e que fora o recreio encantado dos namorados, ouvir-se-ão línguas extranhas, discutir-se-ão sobre câmbios ou se inquirirá o que se passa em Trinidad ou em Assumpcion del Paraguay. A nossa vida social se confundirá com a dos grandes centros, recebendo deles o bafejo renovador e mandando-lhes a certeza de nossa comunhão espiritual.
Os patenses não devemos tão somente limitarmos ao orgulho de nos vermos incluidos na trajetória das grandes rotas aereas que entrelaçarão o Brasil e a America, possibilitando o convivio e conhecimento mutuo das populações e maior surto civilizador. Torna-se necessário correspondermos e estes gestos de simpatia e de confiança na nossa capacidade de trabalho. Como tal, tôdas as facilidades deverão ser dadas a grande companhia de transportes aereos. Questiunculas denonadas devem ser afastadas. Ninguem por um interesse pessoal deverá crear obstáculos ao empreendimento que a tôdos virá beneficiar. Os poderes públicos municipais devem tomar a dianteira.
O aeródromo, somos de opinião, deve ser um patrimônio da Prefeitura, e instalado por esta e por ela dirigido na parte que lhe competir. E como a instalação de um aeroporto requer construções de caráter permanente, vem logo a baila a questão de sua localização. O local em que está construido o atual campo de aterrissagem de aviões¹ é o mais apropriado? Consulta ele os interêsses futuros da cidade? Julgamos que não, e por que? Por estar situado quasi dentro da cidade, e na direção em que ela é obrigada a crescer. Todas as ruas serão interrompidas pelo campo com prejuizo do traçado futuro. As imediações da cidade se prestam admiravelmente para a construção de enormes campos de pouso, como a imensa chapada da Lagoinha e Sobradinho, os campos nas proximidades do Estreito ou o espigão da margem esquerda do corrego do Monjolo².
A Prefeitura entrando em combinação com os proprietários dos terrenos, dando-lhes uma indenização razoavel ou recorrendo ao direito de desapropriação que lhe dá a lei em vigor, construiria em um desses locais excelente porto aéreo. Vários aviadores que nos têm visitado censuram a localização do atual campo¹, que, para as necessidades do momento basta, mas que no futuro terá de fatalmente ser mudado.
Convinha, pois, construir em logar² se pudesse definitivamente instalar-se nossa sala de visitas. E necessitamos de uma sala de visitas digna de nosso progresso e do apreço com que teremos de receber visitantes ilustres.
Os patenses não devem cometer o erro em que têm incidido várias outras cidades, criando obstáculos àqueles que, de boa vontade, querem colaborar conosco na nossa evolução para o porvir. Unidos num desejo único, sejamos dignos de um brilhante futuro.
* 1: O campo de aviação localizava-se entre a Lagoa Grande e o PTC. Toda aquela região era conhecida por Chapada.
* 2: Leia “Nosso 2.º Aeroporto”, “Estação Aeroportuária Comandante José Portinho” e “Avenida Maria Clara da Fonseca: Aqui Era o Nosso Aeroporto”.
* Fonte: Texto publicado com o título “A Nova Linha da Panair – Belo Horizonte-Patos-Goiânia” na edição de 17 de agosto de 1941 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.
* Foto: Do livro Patrimônio de Santo Antônio: Do Sítio ao Templo, de Sebastião Cordeiro de Queiroz, publicada em 20/01/2017 com o título “A Chapada na Década de 1940”. Em destaque, entre o PTC e a Lagoa Grande, o antigo campo de aviação.