TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1911)
Muito bem, Sr. Delegado¹, continue na sua campanha (tão honrosamente iniciada), tomando facas e garruchas a todos que aqui appareçam, passeiando cynicamente pelas ruas da cidade.
Cumpra a risca essa medida e sem distincção para empregados deste ou daquelle, que d’aqui lhe darei palmas.
Mas, Sr. Delegado, como cidadão brasileiro que sou, tenho o direito de apontar os seus erros e fazer os meus protestos; eis para que aqui venho.
Para os que ainda ignoram, passo a narrar um facto lamentavel que se deu aqui, que espero seja a ultima vez.
Domingo passado, justamente na hora da procissão de S. José, estando o povo agglomerado nas proximidades da Egreja, appareceu o Sr. delegado seguido de 4 ou 5 praças, tomando armas aos que as tivessem comsigo: duas ou tres facas apenas foram aprehendidas.
Muitos acharam bôa a ideia, mesmo bravura, e eu estaria com estes si não fosse a hora e o lugar escolhido para tal fim; pois tantas e tantas outras occasiões têm-se offerecido para isso, e o Sr. Delegado ainda não quiz ser mesmo um bravo, um heroe!
O que fez o Sr. Delegado foi um papel feio, triste mesmo, e uma affronta á nossa sociedade.
Agora pergunto − è permittido a essa meia duzia de soldados aqui destacados, andarem pelas ruas, á vista de todos, com a blusa desabotoada e de faca e garrucha à cintura?
Que o Sr. Delegado nos cerque de garantias e principalmente aos pobres roceiros! Pois estes senhores, sabendo que aqui na cidade, os presos, homens condemnados, assassinos perigosissimos, vivem fóra da Cadeia, passeiando sosinhos e livremente pelas ruas, hão de largar suas armas em casa? Em quem hão de confiar?
Estou certo, que si o digno Chefe de Policia passar os olhos por essas linhas e ponderar sobre a gravidade desses factos, tomará energica providencia.
Mande-nos um homem energico, que saiba cumprir suas obrigações e que não vá no cabresto da politica; então verá S. Ex. as miserias que reinam por aqui, e que só servem para desmoralisar-nos.
Por hoje, Sr. Delegado, é só.
UM PATENSE.
* 1: Capitão Euphrasio José dos Santos.
* Fonte: Texto publicado com o título “Coisas” na edição de 26 de março de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Primeiro e segundo parágrafos do texto original.