MANIFESTO DA MULHER MINEIRA

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O Manifesto da Mulher Mineira ao Presidente João Goulart, contra a balbúrdia do seu govêrno, veio a lume em 8 de novembro de 1963. Não poderíamos omitir documento tão precioso, prenúncio do movimento e dos resultados de 31 de março de 1964, pois foi redigido pelo patense Dr. Geraldo José de Santana, advogado em Belo Horizonte, de tradicional família patense, sendo filho do Capitão José de Santana. Vai mais ainda, ao lado de milhares de assinaturas de Mães Mineiras, dentre as primeiras se encontram as de Maria Aparecida Santana e Geralda Froes de Santana, a primeira, irmã do autor do manifesto e, a segunda, esposa.

Eis a íntegra do mesmo:

Sr. Presidente: a mulher mineira sempre atenta aos magnos problemas do Brasil, com perfeito conhecimento da calamitosa situação que ora atravessa a nossa infortunada Pátria, movida pela incontida vibração de brasilidade, no resguardo das mais caras tradições da terra de Tiradentes, não podia omitir-se ante o desenrolar dos atuais acontecimentos. Para tanto, vem ela, por suas classes mais representativas, trazer ao seu elevado discernimento o que se segue:

CONSIDERANDO − em breve e perfunctória análise − o que tem sido o seu govêrno, desde a anormalidade de sua posse, quando poucos grupos se obstinaram a não lhe conceder o investimento do cargo, contrários aos preceitos constitucionais, repelidos, contudo, politizado povo de nossa terra, a fim de que V. Ex.ª não se visse privado e esbulhado nos direitos que o povo lhe conferira;

CONSIDERANDO que, mais tarde, em memorial plebiscito, em tôda plenitude, que lhe foram restituídos os podêres constitucionais, mas que até a presente data, nada de positivo V. Ex.ª apresentou ao povo brasileiro, à frente de um govêrno que não inspira a menor confiança, govêrno inerte, sem planejamento, conduzindo a País a lugar incerto e naturalmente perigoso, sem vislumbre de melhores dias, pelo contrário, prenunciando cataclismo;

CONSIDERANDO que o tumulto, o caos, a baderna, o desmando, a falta de autoridade tomaram lugar de destaque na atualidade brasileira, como se fôssem “Instituição Nacional”, onde as greves estapafúrdias, canhestras e ridículas, pré-fabricadas nas oficinas escusas e totalitárias a sôldo de potencias estrangeiras, que ante a omissão de V. Ex.ª gravitam e se multiplicam, trazendo no seu rastro danoso o ônus de suas terríveis conseqüências, e as tenazes da corrupção aumentando, substancialmente, o índice inflacionário;

CONSIDERANDO que a mulher mineira, e bem assim a totalidade das mães brasileiras vivem atualmente um clima de ansiedade e apreensão, aguardando apenas momentos tormentosos no que tange à sua prole, sua sobrevivência e educação dos filhos, na terra da promissão, onde se morre de fome;

CONSIDERANDO que a economia doméstica vem sendo estrangulada pela desenfreada inflação que nos assoberba, sem que V. Ex.ª encontre meios adequados e positivos − quando não para exterminá-la − pelo menos para contê-la, levando em conta que os atos mais sérios são transformados em mitos anedóticos como aconteceu com o Estado de Sítio;

CONSIDERANDO que o alto custo de vida, vem gerando em nossos lares incontroláveis neuroses alarmistas, anunciando a eclosão de males que se avizinham, sem ter o povo o clima de paz reclamado e exigido pelo trabalho construtivo, desde que V. Ex.ª vem pecando por omissão ou conveniência;

CONSIDERANDO que os democratas e cristãos não podem mais procrastinar a defesa das instituições democráticas de nossa Pátria, compromisso que temos para com Deus e os pósteros, de vez que a mulher mineira não tem a menor vocação para a escravidão, mesmo que a liberdade lhe custe a própria vida ou a de seus familiares;

CONSIDERANDO, acima de tudo, ser V. Ex.ª, um verdadeiro patriota, além de chefe de família extremoso e dedicado, cujos princípios cristãos jamais podem ser desmentidos;

CONSIDERANDO, finalmente, ser V. Ex.ª capaz de maiores sacrifícios para dar ao povo o bem-estar comum, em detrimento do seu próprio bem-estar, deixando de todo o orgulho, a vaidade governamental, a ambição de mando de o incenso dos áulicos;

CONSIDERANDO tudo que está inserido neste manifesto, vem a MULHER MINEIRA SUPLICAR A V. EX.ª QUE RENUNCIE AO CARGO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, consoante foi feito por seu antecessor, só que êsse o fêz, movido pela vaidade e pelo malabarismo, e V. Ex.ª o fará com os olhos voltados para a felicidade de seu povo e para a grandeza de nossa terra, terra essa que V. Ex.ª jurou honrar e defender sob pena de crime de responsabilidade. V. Ex.ª, assim procedendo, sairá mais engrandecido do poder do que quando assumiu o curul presidencial, dando, dêste modo, exemplo de desambição e renúncia aos políticos omissos e carcomidos, que, por sua inércia, outra coisa não querem que entregar a Pátria aos nossos ferrenhos inimigos. Que Deus ilumine a V. Ex.ª e lhe indique o caminho da felicidade de nossa Pátria.

* Fonte: Livro Patos de Minas: Capital do Milho (1971), de Oliveira Mello.

* Foto: Slideshare.net, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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