PAZOLIANA − CAPÍTULO 32: DECISÃO DRÁSTICA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

“Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que curarão suas doenças.” (Hipócrates − 460 a.C. – 370 a.C.)

A mensagem do comandante Opas era mais do que sinistra, era tétrica. Havia contaminação entre eles. Estavam fazendo de tudo para isolar a criatura. Pela resposta da base lunar, ficou pasmo ao saber que também havia contaminação. Enquanto lá pelas paragens do aglomerado de Andrômeda a caravana espacial dava os seus pulos para se ver livre do insólito, nas paragens terráqueas os aliados se moviam como peças azeitadas. A cada humano eliminado, a cada construção demolida, as mentes privilegiadas dos Deuses elaboravam conjecturas, teorias e possibilidades sobre a possível causa da contaminação. Não conseguiam chegar a um diagnóstico. Com a rapidez do raio, coletaram sangue de todos os aliados. Muitos já estavam contaminados, desde o simples civil ao mais alto escalão do poder, o comandante Otap. Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas, pois nem todos, mesmo contaminados, apresentavam sintomas terminais, mas se convertiam em vetores. Etnaduja, soropositivo, ficou preocupado pelo contato que teve com os terráqueos. Será que ele fora responsável por contaminar o planeta Terra? Um Médico desceu e coletou sangue dos Mantiqueira. Quão enigmático é o Universo. Lá estavam as criaturas no sangue dos membros da família, desesperadas, acuadas, contidas pelo ataque fulminante das células de defesa, sendo eliminadas uma a uma.

O sistema imunológico tem como função reconhecer agentes agressores e defender o organismo da sua ação, sendo constituído por órgãos, células e moléculas que asseguram esta proteção. Entre as células do sistema imunológico, encontramos os glóbulos brancos, ou leucócitos. Existem vários tipos de glóbulos brancos, com funções imunológicas específicas e diferenciadas, nomeadamente os linfócitos, os neutrófilos polimorfonucleares, os eosinófilos, os basófilos e os monócitos. Por sua vez, os linfócitos podem ser de dois tipos: linfócitos T e linfócitos B. Os linfócitos B diferenciam-se em plasmócitos, em resposta a elementos estranhos e estes sintetizam anticorpos para combater os elementos invasores. Este tipo de resposta imunológica designa-se por Imunidade Humoral. Os linfócitos T são responsáveis pela resposta imunológica designada como Imunidade Celular. Podem ser linfócitos T4 (também conhecidos como células CD4) ou auxiliadores e são o elemento vigilante que alerta o sistema imunológico para a necessidade de lutar contra o visitante indesejado através da síntese de substâncias químicas (as citocinas); e linfócitos T8 (também conhecidos como células CD8) ou citotóxicos que são aqueles que destroem as células que estiveram infectadas. O sistema imunológico conta ainda com os macrófagos, que resultam da diferenciação dos monócitos. Os macrófagos digerem as células mortas e os elementos invasores, agindo sobretudo nos órgãos afetados. Os glóbulos brancos são produzidos na medula óssea, um dos órgãos primários do sistema imunológico, juntamente com o timo. Os órgãos secundários são o baço, as amígdalas, as adenoides e o sistema linfático, que incluiu os gânglios linfáticos¹.

Estava decifrado o enigma. Os Deuses, oh os Deuses, tão maravilhosamente equipados com a tecnologia do futuro, não possuíam no sistema imunológico armas de defesa suficientes contra as criaturas. Mas como, se possuíam dois timos, dois baços, mais amígdalas, mais adenoides e mais gânglios linfáticos? O que os humanos tinham que eles não tinham que os tornavam resistentes? Nos humanos, as criaturas, antes de serem totalmente eliminadas no sangue humano, causavam apenas um leve mal estar físico em alguns indivíduos, como se fosse um simples resfriado. Quão duro foi para os Deuses saberem que tão simplórios seres possuíam defesas próprias contra tão terríveis pequenas criaturas e eles, suprassumos da sabedoria e tecnologia, estavam sucumbindo. Enquanto cada humano e cada construção era eliminada pelas naves que não paravam de cuspir seus venenos divinos, o alto comando dos aliados decidia o que fazer.

– Doutor Lebon, queira-nos expor as suas conclusões – ordenou Otap. Atentem, pessoal, atentem para a cruel constatação do doutor.

– Antes de mais nada, que fique muito claro que ainda não temos a mínima ideia de como os microrganismos contaminaram a base e as naves, tanto aqui quanto na caravana do comandante Opas, apesar de todo o nosso cuidado. Ainda não conhecemos totalmente o seu ciclo. A resistência dos humanos pode ser facilmente explicada. Existe no planeta uma variedade imensurável de pequenos organismos, como bactérias, vírus, protozoários e fungos. No decorrer de milhares de anos, o contato diário dos humanos com estes microrganismos propiciou-lhes uma resposta imunológica em longo prazo, isto é, com o tempo o organismo foi adquirindo resistência. Vez ou outra acontecia uma aberração genética com o aparecimento de cepas resistentes, surgindo enormes epidemias. Com a descoberta de medicamentos e novas tecnologias na área de saúde, estas epidemias foram diminuindo. Este microrganismo que nos atacou é muito parecido com uma bactéria ciliada tipo bastonete comum aqui na Terra. Por isso o organismo dos humanos está reagindo normalmente ao invasor destruindo-o com facilidade. Quanto a nós, a verdade é que em nosso planeta de origem e depois no outro, não existiam estes microrganismos. E se não existiam estes microrganismos, não adquirimos uma resistência natural. Está explicado, então, o porquê um simples contato nos arruína. Portanto, o sistema sanguíneo dos humanos é altamente eficaz na produção de anticorpos contra eles. Ele ataca as células estranhas e microrganismos que caiam na corrente sanguínea, abrindo orifícios nas membranas plasmáticas dos invasores, provocando a sua lise e morte. Por causa disso, os humanos são praticamente imunes às criaturas microscópicas. Sem a resistência natural dos humanos, fica o nosso sistema imunológico enfraquecido, vulnerável, e acabamos por sucumbir. Asued e Sued Filho receberam geneticamente a capacidade de produzir estas células através da medula óssea, portanto, também têm resistência. Como medida de emergência aqui na base e nas naves, usei o medicamento Ocitoibitna, o mesmo acontecendo com a equipe médica da frota do comandante Opas. Estamos conseguindo atenuar os sintomas e a multiplicação acelerada dos microrganismos. Só há uma única maneira de evitarmos uma catástrofe a pequeno prazo, que seria a nossa eliminação total: desenvolvermos uma vacina. Só não sei quanto tempo levaríamos para desenvolvê-la. Ah, ainda quanto aos humanos, pelo que percebemos, uma carga maior de microrganismos talvez seja capaz de desestruturar as suas defesas, isto é, os microrganismos se multiplicarem mais rápido que as defesas. Se isso acontecer, os humanos também serão eliminados. Por enquanto, pela carga contaminante atual, não há perigo.

– O que você quer dizer com por enquanto não há perigo?

– O sistema imunológico da família Mantiqueira está dominando plenamente os microrganismos. Se houver uma contaminação maior, corre-se o risco dos invasores se sobrepujarem às defesas. Acontecendo isso, os humanos sucumbem.

– E como isto poderia acontecer?

– Se continuarmos tendo contato com eles.

– De acordo com a sua opinião médica nós não devemos mais descer à Terra?

– Exatamente, comandante, e por dois fatores intrínsecos. Em primeiro lugar, mantendo contato direto com os humanos estaremos contribuindo para contaminar a eles e ao ambiente. Podem ocorrer duas variáveis neste caso: uma carga alta de contaminação suprimir a resistência natural deles ou ainda uma mutação genética no ambiente que produza microrganismos super resistentes. Independente disso acredito que, mesmo se não houvesse a existência deste microrganismo que nos atacou, teríamos problema ao habitar a Terra. Vou explicar usando a história do país da Vila. Quando ele foi descoberto, era habitado por povos que viviam isolados com as suas características orgânicas. Quando os invasores chegaram, com suas miscigenações de séculos e mais séculos, introduziram naquele ambiente microrganismos que o povo local nunca havia tido contato. Isto resultou em grandes epidemias que aniquilaram com milhares de vidas. Imaginemos nós no lugar deste povo. Vivendo na Terra entraríamos em contato com seus infindáveis microrganismos. Nosso sistema imunológico não teria capacidade de derrotá-los. Seríamos, então, sumariamente aniquilados. O contrário, com certeza, já deve ter acontecido muitas vezes, isto é, povos de outros planetas sem a adequada condição de produzirem anticorpos chegaram aqui e tiveram problemas. Isso me lembra que Etnaduja contou-me uma vez a experiência que teve com umas das manifestações terráqueas que eles chamam de arte, um tal de cinema. Passo a palavra à Etnaduja.

– Isso foi, se não me engano, no ano terráqueo de 1953. O povo deste planeta tem o hábito de representar situações baseadas em histórias que eles mesmos criam. O tal cinema é uma espécie de arte terráquea, onde atores representam personagens que são gravadas em rústicas películas e depois, através de rústicos aparelhos, projetadas num imenso pano branco em salas escuras, o que eles aqui chamam de filmes. Numa ocasião, não me lembro aonde, vi um enorme cartaz anunciando um destes filmes e me interessei imediatamente, pois era sobre a invasão à Terra de seres do espaço. O nome do filme era Guerra dos Mundos. Neste filme, eles inventaram uma história de seres extraterrestres que invadiram a Terra. Só que, depois de algum tempo aqui, quando estavam em ataque maciço, começaram a sucumbir aos microrganismos do planeta. Todos morreram, as naves foram ao solo e a Terra se viu livre deles. Eis então, que, coincidência ou não, estamos vivendo o mesmo problema que a tal arte dos terráqueos criou.

– Prezado Etnaduja, esta sua experiência com a tal arte dos terráqueos não lhe propiciou nenhuma imaginação além de apenas perceber que os microrganismos derrotaram os fortes invasores? − perguntou um sedrev.

– Prezado sedrev, não entendi a pergunta?

– Meu caro siuza Etnaduja, você presenciou uma representação de seres extraterrestes invadindo a Terra e sendo derrotados não pelas armas dos terráqueos, mas por simples seres microscópicos. Naquele momento não passou pela sua cabeça que aquilo poderia acontecer a vocês?

– Não, e por dois motivos. Primeiro porque se tratava de uma imaginação terráquea. Segundo, o mais primordial, é que já havíamos, contando aí as nossas várias gerações, visitado vários planetas, vivendo ativamente com seus primitivos habitantes, e nunca tivemos problemas. Por isso, saí daquele espaço de exibição sem me preocupar com o que vira. Comentei a experiência com o Doutor, com o comandante Otap e com vários dos nossos e nenhum se preocupou com esta possibilidade. É isso.

– Se fosse comigo teria sido diferente.

– Como assim se fosse contigo teria sido diferente?

– Nosso povo é mais desconfiado e jamais teria anuído aquela representação como uma simples representação, porque quando se…

– Espera aí, prezado sedrev, você está querendo me dizer que fui negligente? O que isso tem a ver com vocês que nem aqui estavam?

– Muito boa colocação. Nesse tal ano terráqueo de 1953 não estávamos aqui. Mas eis que agora estamos vivendo com vocês as mesmas adversidades que aqueles invasores viveram na tal representação artística. Como você explica isso?

– Ora, meu prezado sedrev, acredito que você já esteja partindo para insinuações que…

– Parem, imediatamente – ordenou o comandante Otap. Não podemos, neste momento crucial, entrarmos em conflito por fatos do passado. Lembrem-se que os fatos do passado é que nos fizeram inimigos. Portanto, esqueçam as tais representações artísticas dos terráqueos e nos concentremos no que vamos fazer daqui para adiante. Por favor, Doutor, continue.

– Posso afirmar categoricamente que o nosso problema inicial de combustível foi a nossa salvação e o encontro com os sedrev foi a nossa redenção. Antes de qualquer pergunta, já vou explicar. Como não tínhamos combustível e naves suficientes para a invasão, executamos o plano da crença elaborado por Etnaduja. E antes do plano, não tivemos contato com os terráqueos. E quando começou o plano, os contatos foram poucos, o que não possibilitou problemas, fator corroborado por nossa ausência de cinco anos do planeta. Isso foi, literalmente, a nossa salvação. A tendência, depois que voltamos, seria um incremento nos contatos, mais frequentes a cada dia com o desenvolvimento natural do projeto. E a cada dia, mais e mais estaríamos sujeitos a encontros indevidos com os tais microrganismos. Então, se o plano tivesse ido em frente, seria a nossa ruína. O que impediu? O aparecimento dos sedrev. E o aparecimento dos sedrev nos propiciou o contato com aquelas criaturas lá em Marte, mudando todo o processo. Isso foi a nossa redenção, pois exatamente por causa do contato com aquelas criaturas é que descobrimos a nossa fragilidade frente aos microrganismos terrestres. Por isso afirmo que o encontro com os sedrev foi a nossa redenção.

– Tudo bem, Doutor, agora nos diga: se não podemos mais descer à Terra, como vamos dominá-la? – perguntou Otap.

– Trata-se de uma decisão do comando, que é seu. A minha opinião médica é a seguinte: devemos nos retirar do Sistema Solar, todos nós, a base e as naves, até que tenhamos dominado a criatura. Se ficarmos aqui, mesmo nesta distância, estaremos colocando a Terra em risco diariamente, pois, repito, ainda não conhecemos totalmente o ciclo da criatura. Precisamos nos retirar, e em primeiro lugar estudar a criatura até que tenhamos medicamentos totalmente eficazes contra ela. Depois, através do sangue de Asued e Sued Filho, estudá-lo para desenvolvermos um modo de ativar o nosso sistema imunológico como fazem o dos humanos. Somente assim, quando tivermos a solução para eliminar os dois problemas, aí poderemos voltar.

– Mas isso é inconcebível. Depois de anos e anos e quando estamos prontos a colonizar a Terra você me chega com esta opinião?

– É, parece até o filme Guerra dos Mundos que o Etnaduja assistiu – ironizou um sedrev.

– Por favor, meu caro aliado, sem zombarias. Continue, Doutor.

– Sou o Médico Chefe dos siuza e, concomitantemente, dos aliados. Cabe a mim apresentar o diagnóstico. Cabe a você, comandante Otap, determinar as nossas ações. Obviamente, que sejam de muita responsabilidade.

– Como assim, por um acaso está querendo dizer que nós do comando estamos agindo incorretamente?

– De maneira nenhuma, pois o comando ainda não determinou nenhuma ação. Estou apenas dando o meu parecer médico sobre a situação. Para confirmar: devemos nos retirar urgentemente do Sistema Solar para os devidos estudos e tratarmos os nossos infectados. Que o comandante Otap decida o que fazer antes que seja tarde demais.

– E quanto às naves que estão agindo no planeta?

– Que terminem o trabalho e subam imediatamente.

– E o nosso projeto?

– Comandante Otap, pela dedução do Doutor Lebon, não há alternativa para nós a não ser abandonar o Sistema Solar – atalhou Etnaduja. Temos que ter consciência de que qualquer um de nós pode falecer de uma hora para outra. Não nos resta alternativa a não ser abandonar o planeta. O negócio então e estabelecer as diretrizes finais do projeto e partirmos.

– Diga logo, Etnaduja.

– Pelo o que o doutor explanou, é fundamental que a nova raça tenha genética humana. Portanto, é fundamental que haja mais cruzamentos entre nós e os terráqueos. Asued e Sued Filho são o exemplo. A primeira coisa que temos a fazer, com urgência, para ontem, como dizem os humanos, é selecionar machos e fêmeas nossos que ainda não estejam infectados e enviar para a Terra para que formem famílias com alguns humanos selecionados, a começar pela família Mantiqueira.

– Mas há um problema que talvez o prezado Etnaduja não tenha percebido. O doutor acabou de nos relatar que nós não temos resistência contra os microrganismos da Terra. Não poderia aqueles escolhidos serem acometidos lá embaixo?

– É que o Doutor Lebon não tocou no assunto por ser inviável para uma grande população. Como ele disse, o medicamento Ocitoibitna é eficaz contra os microrganismos. Só não temos condições lógicas de passar anos e anos tratando milhares de pessoas por nossa incapacidade de produzir a quantidade suficiente. Por isso o doutor salientou que a solução definitiva seria a confecção de uma vacina, que, após um determinado tempo, erradicaria a mal de nosso meio. Para os poucos indivíduos que descerão, estes poderão viver seus ciclos biológicos sendo tratados diariamente, sem problemas. Dos cruzamentos, já nascerão filhos resistentes naturalmente. Nossos dois filhos já podem se cruzar. Muito bem, com todos devidamente aparelhados, e com as devidas orientações, podemos partir e que a vida siga, para eles e para nós.

– Mas é tão simples assim? Quer dizer, eles lá embaixo que se virem e nós longe daqui que nos viremos?

– Parece simples, mas não é. Temos, afinal de contas, de encarar a realidade. E a realidade nos foi exposta pelo Doutor Lebon. Não há como fugir dela. Sim, é dura, drástica, cruel, pois estávamos tão próximos da conquista. Mas o destino, o tal afamado destino, nos colocou em contato com estes seres microscópicos e tudo mudou.

– E lá em baixo, como vai ser? Exponha aqui como vai ficar a situação depois daquelas vintes explosões atômicas.

– Mais um ou dois dias terráqueos nossas naves terminam com o aniquilamento da quase totalidade da raça humana. Os escombros dominarão a face do planeta. Será um trabalho árduo para reduzir estes escombros em pó para que a natureza se regenere sem sequelas. Se usarmos todas as nossas naves, calculo mais uns sete dias terráqueos. Quanto à energia, não se preocupe, temos para este serviço e para a nossa saída. Quando passarmos por Netuno, seremos totalmente recarregados. Sobreviverão, juntamente com a família Mantiqueira, a população da Vila e os outros. Quanto às explosões, eu havia dito que seria remotíssimo que acontecesse. Sinceramente não contava com a capacidade insana dos terráqueos, que as detonaram por pura vingança. E foi um total de vinte. Conseguimos que nenhuma se fizesse presente neste país. Pois é, eu queria que não houvesse nenhuma, para que o planeta fosse 100% puro. Infelizmente, aconteceu. Agora só restará aos pazolianos se manterem afastados das áreas afetadas até que tudo volte ao normal. Devido a ações muito competentes de nossas naves, nenhuma se deu aqui. Menos mal, pois será difícil que a radiação chegue até a Vila. Este imprevisto não afetará o início da colonização. Alertaremos que nenhum deles deverá comparecer à Europa e Ásia sem a devida proteção. Dentro de 60 a 80 anos toda aquela região estará isenta de perigos.

– Prezado Etnaduja, você salientou que aniquilaremos a quase totalidade da raça humana. Quer dizer, além do pessoal da Vila haverá outros sobreviventes? E, se porventura houver sobreviventes, mesmo com as detonações atômicas, haverá risco destes sobreviventes serem afetados pelas radiações e gerarem raças geneticamente alteradas?

– Definitivamente não há como se proceder a uma aniquilação total. É impossível. As povoações, pequenas, médias, grandes e metrópoles, estas sim, serão 100% aniquiladas, não ficando um único sobrevivente, pois tudo será destruído. Haverá muitos sobreviventes em lugares ermos, principalmente em locais dominados por extensas florestas, ilhas remotas e montanhas de gelo, onde não temos condições de localizá-los. A radiação que se formou nos locais das explosões pode, realmente, afetar geneticamente possíveis sobreviventes. Há uma saída para as duas possibilidades. De acordo com o doutor Lebon, nas florestas tropicais abunda um tipo de inseto voador hematófago do gênero Haemagogus, que são vetores do vírus causador da febre amarela, que ainda hoje causa muitas mortes, apesar da existência de vacina desde 1937. Pois bem, antes da chegada de vocês, sedrev, já havíamos coletado uma infinidade destes espécimes, pois o que vou lhes dizer agora já fazia parte de meu plano. Nossos laboratórios cultivaram uma quantidade enorme dos vírus. Estes serão aspergidos por sobre todas as reservas florestais do mundo. Os vírus contaminarão os insetos e estes contaminarão os humanos sobreviventes. Simples, mas eficiente. A propósito, os pazolianos serão vacinados, obviamente.

– Mesmo assim, há a possibilidade de algum sobrevivente se safar desta fase, principalmente se porventura acontecerem alterações genéticas nos possíveis contaminados?

– Possibilidades, mas há, sempre há. Esperemos que não.

– E se acontecer? Não haverá o risco de sobreviventes em lugares remotos iniciarem uma nova civilização terráquea que futuramente possa colocar em risco os pazolianos?

– Teremos que correr o risco. Se acontecer, e se algum deles se deparar com os pazolianos, serão sumariamente eliminados, pois não terão a mínima chance contra as nossas armas. Não se esqueçam de que a nova era terá à disposição duas naves de exploração, que serão utilizadas constantemente para monitoramento do planeta. Bem, basicamente é isso. Peço licença ao comandante para elaborar mais precisamente o plano. Dentro de no máximo 24 horas o apresentarei para sua avaliação. Enquanto isso, enviem os outros adeptos para Vila do Córrego Dobrado.

– Só mais uma adendo, Etnaduja. Quando houve o nosso reencontro o comandante Otap sugeriu uma colonização de Marte, bastando para isso montar imensos geradores de energia suficientes para derreter as calotas de gelo, criando assim atmosfera adequada. Com esta problemática das explosões atômicas, não seria mais lógicos trabalharmos neste sentido? − assuntou um sedrev.

– De maneira alguma, colega. Para construirmos estes geradores consumiríamos longos e longos anos, e depois mais longos e longos anos até que se formasse uma flora adequada. O tempo para se dissipar a radiação aqui na Terra será muito menor.

– Ok, me convenceu.

– Bem, então vou me retirar para as demais providências.

– Sim, vá Etnaduja – falou Otap. Enquanto isso continuaremos a ouvir o Doutor Lebon e a discutir sobre a nossa retirada.

* 1: www.roche.pt/sida.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Desenho e montagem de Eitel Teixeira Dannemann.

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