PAZOLIANA − CAPÍTULO 23: ÓDIO CÓSMICO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

As batalhas são ganhas ou perdidas por generais, não por oficiais ou soldados”. (Ferdinand Foch − 1851-1919)

O comandante geral dos siuza fez questão de deliberar ao conselho sobre as reais intenções dos sedrev. Tinha certeza absoluta de que eles não arredariam pé do objetivo de domínio total do planeta Terra à base da força. A oferta de sociedade era um engodo, para atraí-los a uma emboscada. O plano de conquista dos siuza estava por um fio, pois haveria a necessidade de uma batalha com o inimigo e esta batalha poderia causar sérias consequências à Terra, como se dera há muitos e muitos anos com o pequeno planeta de seu antigo sistema solar. Por medida de segurança, a nave de Sued retornou à base lunar. Acreditava o comandante que os sedrev poderiam arriscar um ataque surpresa.

– Algum sinal? – perguntou Sued.

– Nenhum, comandante.

– Energia?

– Bastante para toda a frota por três meses terrestres em constante atividade.

– Suprimento arriscado. Notícias de Netuno?

– A Atoirtap II chega em uma semana. Com isso, teremos seis meses de suprimentos para toda a frota em intensa atividade.

– Ótimo, fico mais tranquilo. Nosso povo está devidamente resguardado?

– A base toda está em estado de alerta Alfa, como ordenou.

– Ótimo. Etnaduja, exponha o plano de defesa.

– Estamos todos de acordo quanto às ações dos sedrev quando lhes respondermos não à proposta de domínio em conjunto do planeta Terra. Assim que ouvirem a resposta negativa, o comandante Opas ordenará o ataque à nossa base. A estratégia de lutarmos na base elimina os riscos ao planeta. Os sedrev só invadirão a Terra caso nos derrote, pois não a querem dividir conosco coisa nenhuma. Obviamente, se formos derrotados não restará alternativa a não ser abandonar o Sistema Solar com o máximo possível de sobreviventes, acarretando a falência de nosso plano de domínio. Mais obviamente ainda é que não contamos com uma derrota, pois acreditamos que nossa tecnologia atual de escudos é superior à deles. Como veem na representação gráfica, formaremos três círculos em volta da base. O círculo do meio terá espaço livre para atirar, não havendo risco de atingir alguma nave do círculo externo. O círculo interno ficará de plantão para substituir a posição de qualquer nave abatida dos outros dois círculos. Todas as naves estarão com os escudos inflados. Contamos com o nosso raio Latrom¹.  Nosso revide em Marte usando-o pôs a nave deles em fuga. Acreditamos que eles não possuem uma arma tão destrutiva como a nossa. Temos que ser bastante rigorosos com eles. Quando estiverem em debandada, temos que persegui-los no intuito de provocar o máximo possível de baixas em sua frota. Se obtivermos êxito, é certo que teremos tranquilidade para prosseguirmos com nosso plano na Terra e durante muitos anos o prazer de não nos avistarmos com os sedrev. Basicamente, é este o plano de defesa.

– Não há certeza de ataque à Terra por parte deles.

– Não sabemos o poderio de sua frota. Se for baseada com a nossa, acredito que não ousarão desviar naves ao planeta. No entanto, ao contrário, haverá o risco de incursões à Terra. Para tanto, seria necessário destacarmos algumas naves à entrada da atmosfera para vigília. Sugiro enviarmos uma Adnosinim.

– Ótimo, faça-o imediatamente. Quem sabe a minisonda nos revele dados importantes. Tenho comigo que, se eles atacarem a Terra, vão primeiramente à Vila. Se ocorrer, comuniquem imediatamente a família Mantiqueira, mantendo-os na casa com o escudo protetor.

Enquanto os Deuses discutiam, a sonda Adnosinim singrava o negro vácuo em busca de vestígios. Passou pela nave dos sedrev e se dirigiu a Vênus. Nas salas de reuniões repletas de humanos condecorados com divisas militares, os vários olhos e ouvidos estavam atentos a todos os dados que chegavam de uma infinidade de satélites. Sim, havia uma nave extraterrestre espionando a Terra. Os sedrev faziam questão de serem notados. Telefones vermelhos gritavam desesperadamente em várias nações ricas. Os idiomas se misturavam às intempéries mentais de cada comandante. Era difícil um entendimento adequado. Era preciso uma atitude imediata. Para eles, os repletos de divisas, a presença de uma nave alienígena rondando o planeta significava um desejo de invasão. Tentaram todas as tecnologias possíveis num contato. Nenhuma resposta. Se não queriam conversa, imaginaram os gênios da estratégia, era óbvio que iriam atacar. Então, senta a pua. Ora, quem diria que a energia nuclear pudesse unir nações. Pois eis que sim. Aquelas nações possuidoras de armas atômicas estavam lado a lado, divisa frente à divisa, e se vangloriavam por, quem sabe, serem os salvadores do planeta. Vários caças munidos com ogivas nucleares levantaram voo. Várias bandeiras se misturaram no céu azul. Anos e anos de existência à espera de ação, à espera de um sim do presidente, para atacar a inimiga nação, eis que agora as máquinas voadoras de idiomas distintos partem lado a lado com a nobre missão de protegerem os incautos terrestres, aqueles ocupados em seus afazeres diários que não tinham a mínima noção da presença dos Deuses.

Alguns povos estranharam aqueles velozes pássaros de ferro e aço singrando o céu azul. Última geração de máquinas idealizadas e construídas com o único propósito de exterminar o próximo, eis que os próximos estavam próximos uns dos outros para tentarem garantir a sobrevivência da moradia deles. Vinte unidades executavam um plano de ação considerado excelente pelos possuidores de divisas militares. Os sedrev com estalidos de satisfação a tudo presenciavam. Os radares dos pássaros de aço localizaram o invasor nas latitudes e longitudes tal do espaço. Não tinham como chegar lá, mas as armas sim. Os sedrev se postaram bem acima de uma pequena porção do Oceano Pacífico. Um, dois, três, quatro torpedos atômicos foram disparados contra o sinal detectado nos radares. Quatro grandes explosões. O objeto não identificado continuou a se locomover, lentamente. Mais cinco disparos. Mais cinco explosões e o objeto não identificado continuou a se locomover, lentamente. Inacreditável, gritaram em conjunto os detentores de divisas militares. Mais inacreditável ainda foi quando um raio não identificado se chocou com um dos aviões. Depois, com outro, e assim sucessivamente. Foram vinte raios certeiros, vinte explosões que jogaram sobre as águas geladas do Pacífico pedaços contorcidos de ferro, aço e carne humana. Nas bases e escritórios estratégicos mundo afora, a consternação foi geral. A mais soberba tecnologia de guerra aérea humana foi esmigalhada como uma reles mosca. O que seria aquilo lá no espaço? Que poder fantástico eles possuíam. E agora, olharam-se assustados e temerosos. Os telefones vermelhos tornaram-se frenéticos. Não havia entendimento sobre o que fazer naquele momento.

Na morada celestial, os Deuses acompanhavam a tudo. O que planejariam os humanos depois da perda de 20 de suas melhores armas? Não interessava aos Deuses. Interessava o tempo se escorrendo entre os dedos em direção ao fim das 48 horas. Segundo a segundo os planos foram checados. A sonda Adnosinim havia perscrutado Vênus e Plutão. Estava em direção a Marte quando seus olhos mágicos vislumbraram uma frota enorme de naves. Lá estavam os sedrev, com também seus olhos mágicos e sensíveis ligados na aproximação do minúsculo invasor. Deu-se tempo apenas para verificar que se tratava de uma força robusta. Os olhos da pequena Adnosinim foram definitivamente apagados. O suficiente para que os siuza se aperceberem que a luta seria árdua. Por isso, todos estavam de prontidão para o primeiro gesto de defesa do plano pazoliano. A nave havia se postado bem distanciado da base para esperar o contato inimigo. Foi-se o tempo, o senhor da razão, e o contato se fez.

– Comandante Otap, canal aberto com o comandante Opas.

– Saudações, comandante Opas.

– Saudações, comandante Otap. Como vê, tenho honra o suficiente para cumprir com as minhas promessas. Não havia necessidade de nos espionar. Acredito não haver razões para perdermos tempo com delongas. Já tem a sua decisão?

– Sim.

– Espero que poupe a nós o trabalho de descermos na base da força.

– Não será possível.

– Seria uma resposta negativa?

– Sim.

– Tem certeza absoluta de sua decisão?

– Sim.

– Pelo que a sua sonda lhe vislumbrou, notou que não vai ser fácil se defender.

– Pode não ser fácil, mas é até bem realizável.

– Parece que o prezado comandante tem muita confiança?

– Sim.

– Por que está tão lacônico?

– Estou apenas atendendo a um pedido seu.

– Como assim?

– Você disse para não perdermos tempo com delongas.

– Quer dizer, então, que está decidido a não se juntar a nós na conquista do planeta?

– Evidente que não, por razões mais do que justificáveis. Estamos aqui há muitos anos com um plano de conquista em ação. Já consumimos muito suor neste trabalho. De forma alguma permitiremos quem quer que seja se arvorar em também o desejar. Portanto, para terem a Terra, terão que nos vencer. E sem mais delongas, sem mais perda de tempo, encerremos o contato. Dou-lhe dez segundos para se retirar do alcance de nossas armas. Afaste-se, junte-se aos seus e que vença o mais capacitado. Um, dois…

O contato foi interrompido. Os tripulantes da nave dos sedrev não esperavam uma reação tão incisiva. Durantes alguns segundos, o comandante Opas questionou a si mesmo a atitude do comandante dos siuza. Foi o suficiente para se esgotarem os dez segundos. Um forte estrondo se fez presente na nave. Foi o tiro prometido por Sued. Uma avaria se apresentou no lado direito. Outro estrondo e mais um rombo. A nave, enfim, se deslocou, saindo do alcance, enquanto os siuza se direcionaram para a base lunar com o intuito de se postarem de acordo com o plano de defesa estabelecido. Na superfície do planeta Terra, os detentores de divisas não tinham a mínima ideia do que estava por acontecer. Que dizer então dos incautos humanos comuns.

Nas trevas silenciosas do Sistema Solar, jazia uma grande estação espacial no lado escuro da lua que abrigava milhares de siuza.  Postado em três círculos, um imenso aparato bélico formava um escudo protetor à espera do ataque inexorável. Olhos orgânicos e tecnológicos buscavam todas as direções possíveis. Só se viam sinais coloridos em telas iluminadas. Só se ouviam sons vindos como dos confins do Universo. Ao longe, de todos os lados, vislumbraram uma massa escura de metal pesado. Foram se aproximando como uma nuvem de gafanhotos minúsculos. Os gafanhotos metálicos foram se tornando maior até que se transformaram aos olhos orgânicos e tecnológicos em imensos instrumentos de guerra ávidos de sangue. Foram segundos que pareciam uma eternidade. Os siuza e os sedrev, sem exceção, depois do último encontro sangrento na Galáxia de Andrômeda, estavam postados frente a frente para, quem sabe, travarem a derradeira batalha de suas vidas: as novas gerações que conheciam a história do ódio que dominavam ambos os povos desde que seus planetas originais foram consumidos pelo calor extremo. Os olhares se cruzavam através dos metais. Cada um estudava o outro e se admirava com o potencial do inimigo. Em pequenos lapsos neuronais, os dois comandantes diziam a si mesmos que aquele seria seu último confronto. O que deveria estar passando pelas mentes dos outros? O combustível principal que movia aqueles seres era o ódio incontido, que talvez a nova geração nem soubesse justificar adequadamente. Nada mais interessava agora. Ou eles ou nós, assim pensava cada representante dos dois povos.

Uma hora se passou. Milhares de toneladas de metal alienígena em frente a milhares de toneladas de metal alienígena suspensos no vácuo fatídico. Nenhum gesto, nenhuma atitude, nenhuma palavra. Era uma visão assustadora que inibia-os. Nenhum dos dois comandantes ousava ordenar o primeiro tiro. Em cada nave, as mãos tremiam nos botões assassinos. O suor escorria pelo rosto do mais intrépido. Era um silêncio mortal nas duas frentes de guerra. Otap e Opas estavam numa espécie de transe, cada um admirando o potencial do outro. Caminhavam para um lado e para outro na cabine central de comando. Depois sentavam com a mão direita apoiada no rosto. Mais um pouco e lá estavam a caminhar e trocar ideias com seus botões. Os subordinados trocavam insistentes olhares e a cada segundo buscavam nos superiores a resposta para toda aquela inércia. Mais alguns longos e ternos minutos, e nada. Cada um esperando o primeiro disparo. Os nervos alienígenas estavam a ponto de explodirem em emoções mentais, verborrágicas e musculares. Rompendo o silêncio, Sued comentou com Etnaduja que seria uma batalha de poucos sobreviventes. Ao mesmo tempo, o comandante Opas comentou com seu imediato que seria uma batalha de poucos sobreviventes. Pensamentos idênticos e num mesmo instante de quem se via num beco sem saída. Cada comandante dizia a seu imediato: “não contava com o poderio bélico deles”. E mais ainda: “que arma fatal teriam desenvolvido?”. Poucos minutos de silêncio após os dois comandantes se perguntavam em conjunto: “será que vale a pena nos escalpelarmos por causa de um simples planeta?”. Parece que cada comandante ouvia na outra nave o respirar arfante de seu inimigo. Após trocarem ideias com os imediatos, subitamente os dois comandantes ordenaram a abertura de um canal de comunicação com o inimigo. Na mesma fração de segundos, na imensa tela de contato de cada nave apareceu um comandante. Surpreenderam-se olhando-se mutuamente, assustados, tentando de todas as maneiras manter a postura de líder-mor de cada povo. Trocaram olhares sinistros e profundos, e porque não, de admiração. Nenhum dos dois teve coragem de disparar o primeiro tiro. Nenhum dos dois estava tendo coragem de pronunciar a primeira palavra. Que ficasse para o outro a iniciativa do contato. Olhavam para a tela e nada diziam. Andavam para um lado e para o outro. Paravam, olhavam para a tela e nada diziam. Até que, enfim, palavras guturais, sofridas e arrogantes se fizeram ouvir, no mesmo tom de ameaça e temeridade.

– O que quer, comandante? – perguntaram os dois ao mesmo tempo como se tivessem ensaiado o roteiro de um filme.

– Você abriu o canal de comunicação, portanto, que fale – disse Sued. Por um acaso acena com a bandeira branca?

– Eis um grande equívoco de sua parte. Foi você quem abriu o canal de comunicação. Não existe bandeira branca. Portanto, que fale logo, pois estamos prontos para atacá-los.

– Pois é exatamente o que estamos esperando. Por que, então, não nos atacam?

– Estamos lhe proporcionando uma grande chance de rever a sua decisão. Há pouquíssimo tempo para arrependimentos.

– Pouquíssimo tempo para arrependimentos? Que eu saiba, as 48 horas se foram. Estamos no aguardo do ataque. Ou será que não vem mais?

– Não nos subestime, comandante Otap. Já pensou em quantas vidas vocês perderão nesta batalha?

– Há estimativas, comandante Opas. Vocês também já estimaram o número de vidas daí que deixarão de existir?

– Obviamente, na certeza de que serão infinitamente inferiores às daí e proporcionais ao nosso desejo de vingança.

– Desejo de vingança! Responda-me: por que tanto ódio em relação a nós? Justifica esta perseguição de anos a fio, ininterruptos, geração após geração?

– Esqueceu-se de Atlover? Não foi ele o responsável por corromper a nossa bela Aneres? Por causa dele, a desgraça caiu sobre nossos ombros. Vocês, os siuza, nos arruinaram. Geração após geração os sedrev juraram que nunca mais os deixariam em paz.

– Oh, Atlover e Aneres. Você tem ideia de quantos séculos se passaram? Dois jovens cometem uma loucura e por causa disso vocês se condenaram a nos perseguir? O que as novas gerações têm a ver com isso? A geração do casal é que deveria ter se esmiuçado na vingança. Para você ter uma ideia de que Atlover e Aneres não representam absolutamente mais nada para nós, digo-te neste exato momento que nosso povo atual mal se lembra deste fatídico caso.

– O que você está me dizendo?

– Exatamente o que você ouviu. Foi uma postura acertada das gerações antigas. Por que transformar este fato num tabu, numa espécie de paradigma para o futuro? Não, mil vezes não. As nossas novas gerações nasceram e cresceram sem terem conhecimento deste fato. O nosso povo não tem qualquer tipo de contrariedade em relação aos sedrev. Todas as vezes em que nos defrontamos eles nos perguntam o porque deste ódio. Sempre respondemos que não tínhamos a mínima ideia do motivo. Assim o tempo passou e hoje qualquer um de nós está apto a reconhecer em vocês irmãos no Universo. Ao contrário, o seu povo tem enraizado no coração esta mácula de dois jovens e irresponsáveis representantes de nossas raças. É uma pena que vocês tenham esta mágoa infundada que lhe devora as entranhas a cada dia que se vai. Porventura já se perguntou por onde andam os descendentes de Atlover e Aneres? Se não, devia, e, a propósito, não devia se esquecer de que, quer queiram, quer não, são nossos descendentes. Sim, nos descendentes de Atlover e Aneres correm o nosso sangue. Por um acaso você já pensou nisso?

– Comandante Otap, não me venha com chorumelas. Não se apegue a sentimentalismos baratos para tentar fugir de uma realidade que está bem à sua frente. Não se apaga facilmente um passado macabro.

– Não se apaga facilmente um passado macabro? Meu prezado comandante, preste atenção. Vou citar um exemplo para ver se você consegue entender o que quero dizer. O planeta Terra é dividido em áreas particulares que eles denominam de países. Cada país tem o seu povo, seu comandante, sua língua e as suas próprias regras. Num deles, chamado Brasil, iniciamos o nosso projeto de conquista. Verificando nos arquivos deles, descobrimos que este país chamado Brasil foi, durante praticamente quatro séculos terrestres, dominado por outro país de nome Portugal. Este espoliou de todas as maneiras possíveis o país subjugado, quase o aniquilando. Mas o povo de lá lutou e conseguiu a sua independência. Pois bem, o tempo passou e hoje o Brasil não deve absolutamente nada a Portugal. Agora eu te pergunto: a geração que hoje vive no Brasil deveria manifestar ódio pela geração atual de Portugal? O que a nova geração de Portugal tem a ver com os antigos que espoliaram o Brasil? Por isso, por que a nova geração do Brasil deveria se vingar na nova geração de Portugal por causa dos desmandos do passado? Deu para entender? Estou querendo abrir a sua mente. Não há motivo nenhum para vocês e nem para nós, a nova geração, nos esfolarmos mortalmente em combates por causa do erro de dois jovens inconsequentes que queriam preservar as suas vidas. Fui claro?

– Foram palavras jogadas ao vento solar.

– Ora, ora, percebo que o coração do comandante Opas está tão conturbado de ódio que nenhuma palavra o demoverá de seu intento.

– Agora sim, foram palavras precisas.

– Vou tentar de todas as maneiras não derramar o sangue de inocente. Nem esta geração dos siuza e muito menos esta geração dos sedrev podem se estranhar por causa da atitude impensada de Atlover e Aneres. Que se poupem os inocentes. Faço-te a seguinte proposta: lutaremos apenas nós dois.

– Que loucura é essa, perdeu o juízo?

– De maneira alguma, meu prezado. Desafio-o a uma batalha, somente nós dois. Como eu disse, que se poupem os inocentes. Cada um de nós pilotará uma nave tipo Evel². As armas ficam a critério. Travaremos a luta na atmosfera de Marte, para não ocasionarmos riscos às nossas naves. Será uma luta de morte. Portanto, sairá vencedor aquele que eliminar mortalmente o seu oponente. Seremos os representantes de nosso povo. Se eu for eliminado mortalmente, os siuza abandonarão o Sistema Solar e vocês dominarão a Terra. Se o eliminado for você, os sedrev é que nos deixarão em paz. Há a possibilidade de ambos sermos eliminados. Se assim ocorrer, que os dois povos abandonem o Sistema Solar e deixem o planeta Terra continuar o seu ritmo cotidiano. É esta a proposta. Espero que o prezado comandante tenha a dignidade de aceitá-la. E, se aceitá-la, teremos 24 horas terrestres para os preparativos.

– Comandante Otap, se considera que vou aceitar esta esdrúxula proposta, acertou. Se for eu o eliminado ou se for você o eliminado, é indiferente, o que importa é que vou vencer, estou pronto para eliminá-lo. Até amanhã, prezado siuza.

1 – Laser de raios gama. São os mais energéticos e com menor comprimento de onda. Transporta 10 mil vezes mais energia que a partícula de luz.  Consegue atravessar camadas e mais camadas de concreto pelos espaços reais que existem entre os átomos e moléculas. No espaço, as explosões cósmicas de raios gama emitem tanta energia quanto o Sol vai emitir durante toda a sua vida (estimada em 10 bilhões de anos).

2 – Pequena nave exploratória para um ocupante com alto poder de fogo e dotada de altíssima tecnologia para filmagem e coleta de materiais de ambientes.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Desenho e montagem de Eitel Teixeira Dannemann.

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