“Solidários, seremos união. Separados uns dos outros seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos”. (Bezerra de Menezes – 1831-1900)
Quando os siuza e os sedrev se viram unidos pela força de um encontro inusitado, uma nave de seus descendentes, uma pergunta se fez pertinente: será que teriam maturidade suficiente para se tornarem uma só raça? Como é sabido, uma parte dessa união ficou no Sistema Solar sob o comando de Otap. A outra parte partiu para o aglomerado de Andrômeda sob o comando de Opas. No transcorrer do tempo, ambos os comandantes ministravam os projetos com certa serenidade. Até que na base lunar houve a primeira desavença entre os moradores civis. Os sedrev não estavam concordando com a passividade dos siuza quanto à tática morosa de conquistar o planeta através de crença usando de alguns subterfúgios como os produtos lácteos. Eles, os sedrev, estavam querendo logo dominar o planeta e começar imediatamente a colonização. Os siuza rebatiam dizendo que tudo seguiria de acordo com os planos do comandante Otap. Pelos corredores das naves, o clima ainda era de cordialidade, mas uma cordialidade fria que não inspirava confiança. O alerta da chegada de um comunicado de Opas parecia propício a animar o ambiente. Era um comunicado direcionado ao comando, e dizia o seguinte:
Saudações, comandante Otap. Espero que por aí esteja tudo bem, pois por aqui a coisa não está nada agradável. Já estamos em Andrômeda e até agora nenhum sinal dos Sise. Encontramos um grande pedaço de carcaça de uma nave, mas não conseguimos identificar a origem. Tenho muitas esperanças de encontrar algum sinal. Mas o clima entre nós já não é o mesmo quando da partida. Os siuza acreditam que não vamos encontrar nada e pedem insistentemente para voltarmos. Nós ainda acreditamos e por isso determinei o prosseguimento da missão. Talvez eu não consiga controlar o seu povo. Por isso peço encarecidamente que lhes envie um corretivo para que tenham a paciência de honrar o compromisso que assumiram. Saudações.
O Comandante Otap imediatamente respondeu:
Saudações, comandante Opas. Por uma incrível coincidência, o mesmo está acontecendo aqui e talvez eu não consiga controlar os sedrev, que querem porque querem invadir o planeta e eu não concordo. Por isso também lhe peço encarecidamente que lhes envie um corretivo para que tenham a paciência de honrar o compromisso que assumiram. Saudações.
Ambos os comandantes ficaram preocupados com os comunicados. Com o tempo voando, tanto lá como cá a tensão estava aumentando e os dois povos já não se falavam com cordialidade. Por enquanto, ainda não houvera confrontos físicos, mas as palavras estavam afiadas como lâminas de bisturi e ricocheteavam pelos metais não deixando de atingir praticamente ninguém.
Para aumentar mais a tensão, surgiu um alerta vermelho vindo diretamente da cabine do Médico Legista siuza que fizera a necropsia do corpo encontrado em Marte. Imediatamente um campo magnético defletor reforçou as paredes e isolou-a totalmente do restante da base como mediada de segurança. De um momento para outro, o doutor começou a apresentar sintomas nervosos, com descontrole emocional. Andava de um lado a outro entre as quatro paredes e não falava coisa com coisa. Agiu assim durante três dias, até perder totalmente o controle e começar a destruir a cabine. Montaram à entrada uma pequena câmara de desinfecção que fazia contato direto com a cabine. Seis elementos entraram para dopá-lo. A reação do médico foi sobrenatural, demonstrando uma força descomunal. Segurando um siuza em cada mão, ele os jogou com tanta força contra a parede que caíram ao chão envoltos numa poça de sangue. Assustados, os outros quatro conseguiram sair para a câmara e trancar a porta da cabine. O médico corria de um lado a outro, trombando nos objetos destruídos no chão, que voavam para todos os lados. Trombava contra as paredes com tanta violência que o rosto ficou desfigurado. Até que estacou no meio do cômodo. A expectativa sobre sua próxima ação era enorme. Mas ele lá ficou estático, por uma, duas, três, quatro horas. Totalmente estático, como uma estátua de metal polido. Os olhos estavam fechados e a boca aberta, por onde escorria uma secreção amarelada. O sangue do rosto havia coagulado. A câmara era monitorada de todos os ângulos possíveis com todos os aparelhos disponíveis.
Mais uma hora e nada. Comandante Otap estava perplexo e preocupadíssimo. A todo o momento solicitava os dados sobre o monitoramento. Nenhuma partícula que fosse, por enquanto, havia deixado o interior da câmara. Mais uma hora, e nada. A tensão foi crescendo e se tornando insuportável. Até que perceberam que o corpo do médico apresentava pequenos espasmos. Estes espasmos foram se intensificando, passou para pernas e braços. Estes já se movimentavam de uma forma tal parecendo até que aquele corpo estava querendo alçar voo. Repararam que o corpo estava inchando, como se lhe tivessem injetando gás. O rosto estufou, tamanha era a pressão em seu interior. De tanta pressão, os olhos se esbugalharam para instantes após serem expulsos de suas órbitas. De repente, um estrondo e a cabeça do médico explodiu. O corpo caiu ao chão envolto numa espécie de gosma amarela. Não havia o vermelho característico de sangue. Era como se naquele corpo não houvesse mais sangue. Vários olhos estupefatos de fora da cabine presenciaram o inusitado. A gosma amarela apresentava movimento ou algo nela se mexia. O monitoramento captou as imagens em grande aproximação. Pareciam grumos de seres microscópicos. A aproximação adentrou àqueles grumos e revelou seres parecidos com bactérias tipo bastonetes ciliados. Estes se movimentaram em direção ao cadáver. As lentes detectaram que os micro-organismos estavam devorando o corpo como fazem as bactérias na putrefação de tecidos.
Durante pelo menos duas horas os olhos alienígenas acompanharam aquelas minúsculas criaturas tão alienígenas quanto eles. Os aparelhos captaram todo o necessário para os devidos estudos. Num momento, foi dado o alerta de perigo total. De alguma forma, estava para acontecer a fuga daqueles elementos. Imediatamente o comandante Otap ordenou uma desinfecção total daquele ambiente. Toda a cabine foi envolta por uma névoa esbranquiçada. Poucos minutos depois, os aparelhos não detectaram mais um único vestígio de metabolismo orgânico. Não mais havia vida naquele compartimento.
A base lunar dos Deuses literalmente tremeu. No outro dia, após o estudo minucioso dos dados captados pelo monitoramento, antes do início da reunião os superiores estavam tensos e terrivelmente preocupados com possíveis sequelas relacionadas com aquelas minúsculas criaturas. O Comandante Otap, fazendo o possível para demonstrar serenidade, fez uma preleção sobre os resultados dos estudos:
– Tudo começou quando as criaturas gelatinosas chegaram àquele planeta descoberto pela nave dos Sise, comandada por Surtap. Os animais daquele planeta tornaram-se vetores das criaturas, que se reproduziam no tecido muscular do coração. Elas não eram canibais, e se alimentavam dos animais. O problema é que as minúsculas criaturas também chegaram àquele planeta, sabe-se lá como, da mesma forma que as primeiras. E as últimas fizeram de vetores as primeiras. As minúsculas criaturas reproduziam-se no interior das gelatinosas. Da mesma forma como aconteceu com o doutor, elas inchavam e depois se liquefaziam, como que explodindo. A primeira impressão que tivemos era que as gelatinosas matavam as suas semelhantes para se alimentarem delas. Mas, na verdade, as minúsculas as destruíam e eram elas que se alimentavam das gelatinosas. A grande vantagem das gelatinosas era o incrível poder de reprodução. Por isso não foram extintas pelas minúsculas. Quanto mais eram destruídas, mas e mais nasciam. Quanto às estas, não há indício algum da presença delas na base e na nave que esteve em Marte. Portanto, o grande problema fica concentrado sobre os micro-organismos. Só nos resta monitorar todos aqueles que estão em quarentena. Todas as cabines estão bloqueadas com o campo magnético. Se o mesmo acontecer com eles o que se deu com o doutor, teremos uma enorme preocupação. Vamos torcer e muito para que nenhum deles tenha sido contaminado. Se por um acaso acontecer que somente um apresente os sintomas, a situação torna-se perigosa para nós, com risco de contaminar a Terra, pois, se aquelas criaturas chegarem lá, a vida no planeta será extinta, assim como os nossos planos. Teremos que ter paciência e aguardar aqui em cima um tempo a mais além do programado. Que fique muito bem evidenciado de que há a possibilidade de que tenhamos que nos retirar das proximidades da Terra. Enquanto não há um diagnóstico final, e para compensar este tempo, Etnaduja quer propor algumas ações:
– Os sedrev já têm conhecimento sobre algumas particularidades do nosso projeto. Também têm conhecimento sobre o comunicado que nos chegou do comandante Opas e da resposta do comandante Otap. Nós, siuza, temos certeza absoluta que os companheiros que estão com Opas acatarão a determinação o suficiente para por um fim às rebeliões brancas que estão acontecendo por lá. Da mesma forma, temos certeza que os sedrev daqui acatarão a determinação de Opas e igualmente encerrarão com as rebeliões brancas daqui. Os prezados aliados sedrev aqui presentes concordam?
– Que as determinações sejam cumpridas de ambas as partes – respondeu um sedrev.
– É o que esperamos. Portanto, vocês vão se enquadrar às normas estipuladas na convenção de paz assinada entre nós? − retrucou Etnaduja.
– Se depender de nós que estamos à frente dos comandos, sim, com certeza. Vamos trabalhar neste sentido com o nosso povo. E quanto a vocês, teremos reciprocidade?
– Com toda a certeza. Já recebemos um comunicado dos nossos de lá que fazem parte do comando com Opas que também vão trabalhar neste sentido. O que vislumbramos é que as discórdias estão acontecendo somente com a população civil. Quanto a vocês que nos auxiliam no comando e quando a nós que auxiliam Opas no comando, não há problemas, e a interação tem sido a melhor possível. Portanto, que vocês trabalhem aqui e que nós trabalhemos lá. Espero que consigamos acalmar os ânimos. Quanto ao problema de energia, tem males que vem para o bem. A chegada de vocês sedrev foi um alívio e a junção de forças em Netuno é um sucesso. Em breve teremos energia para dar e vender, como dizem os terráqueos. O que nos preocupa no momento é a presença daquele micro-organismo. Como há a possibilidade de sermos obrigado a nos retirar, tenho o esboço de um plano para, se realmente acontecer a nossa retirada, deixarmos representantes nossos para, juntamente com a família Mantiqueira, concretizarem a era pazoliana. De início, pretendo eliminar rapidamente milhões e milhões de terráqueos sem comprometer as nossas reservas. Aquela sonda que vocês desenvolveram, a… qual é mesmo o nome?
– Adnosaidem¹ – respondeu o sedrev. Desculpe a minha ingerência, mas há uma mudança de comportamento assustadora, prezado Etnaduja. Pelo que você me descreveu a respeito do projeto, o mote principal seria o uso da molécula Ranimod no intuito de esterilizar os terráqueos. Com isso, naquele prazo estipulado, só haveria representantes de nossas raças. Mas eis que, num rompante, você resolveu eliminar milhões de terráqueos. Por que esta mudança tão drástica?
– Houve muitos motivos para tal. Afirmo categoricamente que não foi uma atitude de rompante. Ela veio amadurecendo dentro de mim aos poucos, a cada vez que analisava os terráqueos. Com o desenrolar da conversa você vai perceber e, o mais importante, entender. Antes, preciso expor a vocês o como farei este extermínio que proponho. Sobre a sonda, pelo que já aprendi sobre ela, para os padrões terráqueos tem um poder de fogo fantástico com autonomia mais fantástica ainda. Quantas estão em disponibilidade no momento?
– Se não me engano temos trinta de prontidão.
– É pouco para o que pretendo fazer.
– Qual o plano?
– Pretendo usar a Adnosaidem para, em pontos estratégicos da Terra, eliminar milhões de humanos. Estes fatos vão acontecer ao redor do mundo. Serão notícias de primeira página. Ninguém conseguirá explicar e farão constantemente a pergunta: quem está provocando esta matança no mundo inteiro? A população mundial está assustadíssima com o passeio de nossas naves pelo céu terráqueo. De repente, logo depois do aparecimento de nossas naves em todos os cantos do mundo, fato que desta vez os militares não têm como esconder, começam a surgir as milhares de mortes. Podem ter a certeza absoluta que imediatamente vão relacionar aquelas mortes à presença das naves. E imediatamente vão nos relacionar a invasores extraterrestres que vieram ao planeta Terra para acabar com a raça humana. É este o plano. Mas, para ser bem executado, eu precisaria de no mínimo umas cem sondas.
– Acredito que dentro de quinze dias terráqueos teremos as outras setenta.
– Ótimo. Concordam então com este plano de ação? Muito bom, vamos decidir por quais locais começar com as trinta sondas disponíveis.
– Etnaduja, há um porém. E quanto aos Mantiqueira e aos nossos seguidores? Como vamos explicar a eles que nós, que nunca lhes falamos em extermínio, estamos eliminando uma imensidade de vidas? Com estas mudanças de ação no projeto, ainda assim será mesmo a necessidade da presença deles?
– Já havia pensado nisso, caro sedrev, e isso foi muito bem discutido com o Comandante Otap. Como vocês têm ciência, eles não sabem que somos aliados. Para eles, aquela nave que desceu sobre a Vila era de extraterrestres e que nós, os seus Deuses, expulsaram-na. Pois bem, as mortes serão de responsabilidade daquela nave, e não de nós, os seus Deuses. Vocês também têm ciência de que conseguimos provar a eles que o antigo Deus não era onisciente e onipresente como o papel demonstra e que, por causa destes fatores, aquele Deus não teve como intervir em várias tragédias que, se estivesse presente, poderia ter evitado. Mostramos a eles que nós também não somos oniscientes e onipresentes. Assim, quando as sondas começarem o extermínio, usaremos este artifício, prometendo que tentaremos localizar aquela nave para destruí-la. Quanto à necessidade dos Mantiqueira, sim, serão muito importantes no quesito genética, como já aconteceu com Asued e Sued Filho, assim como o povo da Vila será coadjuvante no processo. Por isso é essencial mantê-los. Todo aquele povo trabalhando em conjunto nos adiantará o processo da colonização em muitos anos.
– Tudo bem, Etnaduja, mas até quando conseguiremos manter esta versão, pois as mortes acontecerão por um longo período, não será assim?
– Sim, chegará o momento em que, para eles, nós não estaremos conseguindo conter as mortes, e eles, então, começarão a desconfiar de nossos poderes. Aí, caro sedrev, chegará o grande momento da verdade. Traremos a família Mantiqueira para a nossa base e eles descobrirão a grande verdade, a verdade de que não somos Deuses e que cá estamos para dominar a Terra. Será o tempo necessário para termos a resposta sobre o que fazer com respeito à ameaça biológica.
– De minha parte, ótimo. Para dizer a verdade, é mesmo o que nós desejamos o mais rápido possível, desde que aqui chegamos. Mas, que fique muito transparente, apoiamos o plano desde o início. Só mais um porém: e se eles, principalmente Januário, não aceitarem a verdade e se revoltarem?
– Antes de falar sobre os Mantiqueira, quero exprimir a minha opinião sobre os terráqueos, opinião aceita por Otap e que foi a responsável pela minha mudança no projeto. Antes da decisão de colonizarmos este planeta, nenhum de nós se preocupava com os humanos. Por isso não sabíamos o adequado a respeito deles. Quando elaboramos o projeto, fez-se necessário uma presença constante entre eles. A cada vez que eu os visitava, era uma decepção. Isso foi crescendo dentro de mim de uma maneira insuspeita e doída. Infelizmente, com as tradicionais exceções, os humanos estão completamente perdidos. São um bando de seres sem sentido e moral, sem comprometimento com o próximo e que, não demanda muitos anos, vão se engalfinhar numa terceira e fatídica guerra mundial. Será, para eles, como aconteceu com nossos povos, a destruição do planeta. Sim, há muitos retos e ordeiros, mas não temos como buscá-los, um a um. Aliás, nem teríamos paciência para tal. A grande realidade é que, como eu disse, precisamos da genética deles para nos fortalecer, e isso já conseguimos uma parte com Sued Filho e Asued. De comum acordo com o comando, ficou decidido aproveitarmos o povo daquela localidade. E, para falar a verdade, adquiri um carinho especial pela família Mantiqueira, que faz parte da exceção, juntamente com mais alguns que já tive o prazer de conhecer. Por isso estou fazendo questão, com a devida concordância de Otap, de insistir com eles até o final. Mas, como você salientou, se houver resistência inabalável, serei obrigado a relevar esta aproximação e, então, desistir do projeto e invadir a Terra, destruindo também todos da Vila. Primeiro, óbvio, resgataremos Asued e Sued Filho. Quanto ao poderio atômico deles, temos condições de desviar, com a velocidade de nossas naves, todos os foguetes nucleares para o espaço, sem risco de explosões em terra. Aliás, não posso afirmar categoricamente que não aja risco algum. Mas é mínimo, não suficiente para contaminar todo o planeta.
– Tudo bem, Etnaduja, entendo este seu zelo pela família Mantiqueira, mas temos que pensar em nós. Se, como você mesmo acabou de afirmar, já temos a genética humana presente em Sued Filho e Asued, por que se agarrar em sentimentalismos? Desculpe, Etnaduja, é neste ponto que não entendo o seu projeto. Se desde o início havia a possibilidade dos Mantiqueira rejeitarem o extermínio, por que não fizeram logo como é o nosso desejo?
– Muito simples, caro sedrev. Já faz muito tempo que estamos aqui. Quando chegamos estávamos com nossa frota bastante avariada por causa daquele confronto em Andrômeda. Não tínhamos energia suficiente para deslocarmos a base, que ficara para trás. Localizamos naquelas montanhas da Vila radiações que poderiam ser aproveitadas. Enquanto isso iniciamos a montagem de uma base em Netuno para processar mineral e aproveitamos o tempo para algumas aparições na Terra com o intuito de avaliar as condições físicas, químicas e biológicas. Para falar a verdade, nos divertimos com o espanto dos humanos, que se reuniam secretamente para analisar o que eles chamam de OVNI. Estão registradas em seus arquivos várias de nossas visitas. O mais interessante é que os dados registrados sobre os nossos aparecimentos ficaram restritos ao comando militar dos países, não chegando ao povo. E este, que nos via no céu, era desmentido pelos técnicos. Ridículo! Bem, nós estávamos com somente doze naves em funcionamento e a base muito afastada. Precisávamos constantemente de descer àquela montanha com o máximo de cuidado para não sermos detectados. Tínhamos que evitar que eles usassem armas atômicas contra nossas naves sem escudos defletores e as doze, somente, não poderiam desviar vários torpedos de uma vez só ao espaço. Sabíamos que o tempo seria longo até a base chegar e termos energia para todas as naves. Enquanto o tempo passava, percebemos atentamente que seria uma boa ideia nos apossarmos do planeta. Discuti com Otap sobre o projeto de começar a invasão com a tática da crença, principalmente porque já tínhamos decidido sobre inseminações. Já que tínhamos obrigatoriamente um longo tempo pela frente, poderíamos usar este tempo com o projeto pazoliano. O Comandante colocou o projeto em votação, no que foi prontamente aprovado. O tempo passou e foi necessária aquela retirada de cinco anos. Enquanto estávamos por lá, resolvemos aperfeiçoar o projeto com o uso da molécula Ranimod. Sim, esterilizando os humanos, calculamos que num prazo de cem anos, no máximo, não haveria mais humanos no planeta. Enquanto os humanos caminhavam para o fim, os nossos escolhidos em terra já teriam uma descendência enorme. Aí eu me desesperancei com os terráqueos, principalmente depois que descobrimos que já havia acontecido aqui uma guerra onde foram detonadas duas bombas atômicas e que alguns países estavam abarrotados com estas armas. De qualquer forma, através da molécula Ranimod, a raça humana seria extinta. Bem, com a chegada de vocês, primeiramente pensáramos que tudo estava acabado porque fatalmente haveria uma batalha entre nós que nos levaria praticamente à destruição. Por ironia do destino, Otap e Opas encontraram aquela nave dos Sise em Marte. A situação, então, deu uma reviravolta de 360º, e aqui estamos como aliados. O grande problema é que, paralelamente à chegada de vocês, veio o micro-organismo. Tenho também aquela preocupação quanto às armas atômicas. Não sobre nós, mas sobre o planeta.
– Você não disse que seria fácil desviá-las com as naves?
– Sim, mas pode acontecer de os terráqueos entrarem em desespero e, de alguma forma ou de outra algumas ogivas serem detonadas em terra. Aí…
– Radiação atômica.
– Sim, sim, exatamente. Bem, é apenas uma hipótese, mas temos que pensar em tudo, pois, com a radioatividade espalhada pelo planeta, encerra-se de vez a oportunidade de possuir a Terra neste momento. Além do que, ainda precisamos saber mais sobre o micro-organismo. Já pensando lá na frente, imaginemos a necessidade de nos retirar. Será preciso então adiantar o extermínio. Estão começando a entender o porquê da minha mudança brusca no roteiro?
– Plenamente compreendido.
– Pois bem, tudo acertado. Vamos então traçar o roteiro dos ataques. Ah, quase me esqueço de outro fator. Trata-se da imensidão de satélites artificiais que inundam o espaço ao redor da Terra. Vamos destruí-los sistematicamente, ok? Assim, sistematicamente, eliminaremos todos os meios de comunicação eletrônicos. Os humanos se verão cegos e mudos. Alguma coisa a mais, Comandante Otap?
– O plano é muito bom e concordo que o coloquem rapidamente em ação. Quanto aos nossos em quarentena, dependemos do que vai acontecer. Aproveitem e discutam sobre isso também, sobre aquelas duas possibilidades. Vou fazer uma visita aos sedrev da base para fortalecer a mensagem do comandante Opas. Bom trabalho a todos.
* 1: Os siuza têm uma mini sonda, a Adnosinim, que é utilizada para a exploração, com potentes câmeras, radares e gravadores. Esta sonda dos sedrev, 45 cm x 20 cm, além das características da dos siuza, é capacitada com escudo protetor e potente arma à laser que desintegra o alvo.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Desenho e montagem de Eitel Teixeira Dannemann.