TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1982)
No editorial anterior, fiz o registro do saldo altamente positivo, alcançado pelos alunos egressos do Colégio Estadual, nos diversos vestibulares realizados no país¹.
Entretanto, vejo-me agora obrigado, a fazer um outro registro, bastante negativo, em relação à nossa rede escolar.
Na última reunião do Conselho Patense de Defesa da Comunidade, estiveram presentes duas diretoras de grupos da cidade, com o objetivo de solicitar apoio para a difícil solução da construção e ampliação dos prédios dos estabelecimentos de ensino que dirigem.
Naquela oportunidade, ficamos os membros do Conselho, cientes de que:
a) O prédio do Grupo “Coronel Osório”, próximo à Antena, está interditado há quase um ano, em virtude de suas péssimas condições e agora, já foi quase totalmente destruído pela ação depredadora do povo, enquanto que seus alunos, têm que andar uma distância enorme, deslocando-se de seu bairro, para frequentar as aulas nas salas alugadas ao Colégio “Alto Paranaíba”, colocando em risco inclusive, as vidas dos pequenos alunos, que se vêem obrigados a transitar pelas perigosas avenidas Brasil e Paranaíba.
b) O Grupo “Monsenhor Fleury”, na Vila Garcia, necessita de uma reforma e além disso, salvo engano, quatro classes por turno, funcionam em dependências alugadas em um prédio onde funciona uma máquina de beneficiar arroz e ninguém precisa fazer qualquer esforço, para imaginar o barulho ensurdecedor e irritante daquelas máquinas, com o qual, convivem diuturnamente, alunos e professoras.
c) O Grupo “Frei Leopoldo”, no Bairro Brasil, está em condições as mais precárias e sua diretora e professoras, já se cansaram de pedir e aguardar qualquer solução.
Diante de tudo isto, pensamos em trazer o assunto a público, com o objetivo único de tentar ajudar e não de expor ou ridicularizar quem quer que seja.
Diante da ênfase maior, dada pela diretora do Grupo “Frei Leopoldo”, resolvemos procurá-la para uma entrevista, que você poderá ler aqui neste número².
Confesso, prezado leitor, que fiquei penalizado diante da situação daquelas dependências, que não chegam a condições piores, graças ao esforço, dinamismo e amor de sua diretora, professoras e funcionárias, que cuidam daquilo com uma dedicação enorme, trazendo tudo tão limpo, ao ponto de já haverem sido cumprimentadas por isso, pelo Secretário da Educação.
Vi cinco cômodos de um verdadeiro pardieiro, que servem de salas de aula para abrigar cento e sessenta alunos em dois turnos, nos quais não há claridade nem ventilação, comunicando-se todos por um corredor, sem terem ao menos uma porta de madeira, mas protegidos apenas por cortinas de pano.
E não bastasse a falta de ventilação, acrescente-se um sufocante cheiro de BHC ou qualquer similar, que ali é usado periodicamente, como única forma de se livrar dos bandos de morcegos, que chegam a cair “em bolos”, sobre alunos e professoras.
Vi um barracão, coberto de zinco ou seja lá o que for, onde o calor chega até a 46 graus nas tardes de verão e a chuva penetra com abundância, no qual, quatro salas maiores, recebem o mesmo número de alunos e fiquei triste em pensar que pobres e indefesas crianças são obrigadas, a permanecer ali durante quatro horas, diariamente enquanto que as professoras são obrigadas a trocar o conforto de suas casas por aquelas instalações.
Fiquei triste, ao ouvir daquela diretora, que não lhe foi possível avistar-se com o Governador para reforçar um pedido, “porque não temos liderança lá em cima”, para lhe conseguir a audiência.
Abro aqui um parêntese, para confessar que fiquei mais triste ainda, quando comecei a pensar que nossos votos, para Deputado Federal, segundo estou informado, estão para ser VENDIDOS uma vez mais. Aliás, pretendo por estes dias me certificar bem sobre isto e se forem confirmadas as informações, as trarei a público também.
Na esperança de que o clamor daquela e das outras diretoras e professoras, chegue aos ouvidos de quem de direito, ficaremos na expectativa de havermos trazido alguma colaboração à nossa comunidade.
* 1: Leia “Colégio Estadual e Cursinhos em 1982”.
* 2: Leia “Marlene Campos Pereira Ramos e o Drama da E.E. Frei Leopoldo em 1982”.
* Fonte: Texto publicado com o título “Nem Tudo São Flores” no Editorial do n.º 44 de 31 de março de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Br.depositphotos.com, meramente ilustrativa.