MARLENE CAMPOS PEREIRA RAMOS E O DRAMA DA E.E. FREI LEOPOLDO EM 1982

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Em quantos turnos funciona esta escola e qual o número de alunos matriculados?

A escola funciona em dois turnos apenas, porque não temos condições de trabalhar no turno da noite, por falta de instalações elétricas. São 641 alunos matriculados.

Quantos destes alunos são assistidos pela Caixa Escolar?

Todos. Quase sempre eles vêm sem alimento; é comum chegarem aqui com dor de cabeça ou com dor de estômago, as quais acabam passando depois da merenda.

Quantas professoras trabalham aqui?

São 30 professoras e 5 funcionárias. Temos 18 regentes de classes, 5 professoras especializadas e mais o pessoal do gabinete: diretora e vice, secretárias e eventuais.

Quais os bairros que são atendidos por esta escola?

Bairro do Brasil, da Antena, Santa Terezinha, Vila Operária, São Geraldo, parte do Cristo Redentor e a parte ribeirinha do Rio Paranaíba.

De quantas salas dispõe a escola?

Temos quatro salas próprias e cinco alugadas, nesta casa de residência ao lado, a qual foi adaptada e é de propriedade dos padres capuchinhos.

Estas dependências alugadas atendem às exigências?

De jeito nenhum. Pelas normas, uma sala de aulas deve ter em torno de 40 metros quadrados e ali, temos salas com 22 e 23 metros quadrados abrigando 30 alunos, quando a exigência é de um metro quadrado por aluno. Além disto, lá não existe rede elétrica nem hidráulica. As condições da casa são péssimas; ela é de construção muito antiga: o piso é de cimento: todas as salas se comunicam com um corredor e não possuem portas, sendo suas entradas protegidas apenas por uma cortina de pano. Não há instalação sanitária e existe apenas um filtro de água para as cinco salas.
A casa não é forrada em se constitui em um verdadeiro depósito de morcegos. Para combatê-los, mandamos de tempos em tempos, dedetizar a casa e enquanto persiste o efeito do remédio, eles desaparecem, mas o cheiro é quase insuportável. No final do ano passado, fizemos um bazar e com os recursos, mandamos fazer a dedetização.
O madeiramento da casa está em péssimas condições e temos medo de que tudo aquilo desabe sobre as crianças.
Duas das salas não têm janelas e as janelas das outras são muito baixas e dão para a rua, ficando no alinhamento do passeio e muitas vezes têm que permanecer fechadas, porque transeuntes, quase sempre crianças, atiram pedras, pontas de cigarros acesos, água e outras coisas, dentro das salas. Até já pedimos um policiamento constante para evitar isto, mas responderam-nos que há falta de elementos para atender-nos.

Quais são as condições da parte de estrutura metálica?

Este prédio, só pelo fato de ser de estrutura metálica, já é ruim. Já trabalhamos aqui, com a temperatura ambiente de 46 graus e usamos até o recurso de jogar água na parte do cimento que contorna o prédio, na tentativa de baixar esta temperatura.
A rede elétrica é péssima e de reparo muito difícil. A cobertura está toda enferrujada, o que faz chover dentro das salas, quando a chuva é forte, ao ponto de os alunos terem que ficar com os pezinhos no ar, para não molhá-los. O forro é composto por placas de um material bem leve, que de vez em quando, em virtude da dilatação da parte metálica, se soltam e caem sobre os alunos, sem machucá-los, mas causando sustos muito grandes.
As portas estão totalmente apodrecidas e não oferecem qualquer segurança. Os tacos, apesar de já os termos trocado algumas vezes, com o auxílio da comunidade, estão totalmente podres também.

Quando foi construído este prédio de estrutura metálica?

Este é um dos vários grupos pré-fabricados, instalados em todo o Estado, no Governo Magalhães Pinto, os quais, seriam provisórios. Passamos a ocupá-lo em 1964 e nele deveríamos ficar apenas durante cinco anos. Havia apenas as quatro salas de aulas, esta salinha onde estamos, uma pequena cantina, uma salinha de espera e cinco sanitários: um para as professoras e quatro para os alunos.
Depois, com a ajuda da comunidade, que nunca nos faltou, fizemos algumas modificações e construímos alguns anexos, como o galpão, para abrigar as crianças que aguardavam o início das aulas, no sol ou na chuva, a biblioteca (que agora está interditada, em virtude do selamento de seu telhado), a cozinha e com a ajuda da Prefeitura, no tempo do Dr. Sebastião Silvério e do DER, aterramos o pátio, que mais parecia uma bacia.
No início, existiam as Escolas Reunidas, depois as Escolas Anexas ao Santa Terezinha; com o crescimento do número de alunos, passou a existir o grupo e finalmente, a Escola “Frei Leopoldo”. Fomos, então, obrigadas, em virtude da grande demanda de alunos, a alugar a casa ao lado.

Há quantos anos a senhora é diretora desta escola?

Há dezenove anos.

Quem é o proprietário do terreno onde está construído o prédio e qual é a sua área?

O terreno é de propriedade do Estado de Minas Gerais e sua área exata é de 746,95 metros quadrados.

Esta área seria suficiente para a construção de uma escola ideal?

Não, mas a área dos capuchinhos é de quase 700 metros quadrados e eles fazem negócio com a Prefeitura, caso ela se interesse. A CARPE, que é o órgão do Estado que constrói escolas, gosta de grandes áreas, para construir em um só pavimento, mas aqui em Patos mesmo, já houve exceções e o “Adelaide Maciel” e o “Guiomar de Melo”, foram construídos em dois pavimentos, para aproveitar terrenos onde as escolas ficassem melhor localizadas, em relação ao zoneamento.
Creio que se a Prefeitura adquirisse o terreno, por compra ou permuta, poderíamos conseguir a construção da escola aqui mesmo neste terreno, (Rua Minas Gerais com Avenida Brasil) que está muito bem localizado em relação à nossa clientela.

Caso a CARPE se recuse a construir um prédio em dois pavimentos, qual seria a solução?

É importante que a escola se localize dentro do próprio zoneamento. Existem terrenos bons para isto, não aqui tão próximo, mas dentro da área. Há um que ocupa um quarteirão inteiro, entre as ruas Carmo do Paranaíba, Acre, Várzea e São Paulo, que pertence ao senhor Ataidinho e que tem 5 mil metros quadrados. Quando procuramos aquele senhor, há cerca de dois anos, ele nos disse que faria negócio com a Prefeitura, vendendo o terreno todo ou parte dele.

Quais as providências que já foram tomadas para se tentar a construção da nova escola?

Em 1974, fizemos o primeiro pedido à CARPE, acompanhado de toda a documentação. Eles mandaram gente aqui e acabou ficando por isto mesmo. Depois organizamos a documentação e montamos um processo, que achamos que ficou espetacular. Anexamos pedidos do Prefeito, da Câmara, da Delegada de Ensino, da Inspetora e nosso. Fizemos o histórico do grupo, juntamos um mapa da cidade, com a localização dos terrenos possíveis e entregamos nas mãos do Governador Francelino Pereira, quando ele esteve aqui, por ocasião da Festa do Milho, em 1980.

Qual foi a manifestação do Governo?

Em 21/06/80, ele nos mandou um rádio, informando haver encaminhado o assunto à Secretaria de Educação, para exame. Datada de 03/07/80, temos uma comunicação do ex-Secretário Paulino Cícero, de que “a obra está listada em projeto rede física, a ser submetido ao Conselho Estadual de Educação em negociação de financiamento com a Caixa Econômica Federal”. Em 27/05/80, o Elmiro, quando era Diretor da CAMIG, nos enviou xerox de carta recebida, que diz: “em atenção ao pedido de V.S., referente a reforma ou construção de prédios das Escolas Estaduais “Monsenhor Fleury”, “Coronel Osório” e “Frei Leopoldo”, de Patos de Minas, temos o prazer de comunicar-lhe que tais obras se encontram listadas no projeto de rede física que está em exame final na CEF-FAS (Fundo de Apoio do Desenvolvimento Social)”. Depois disto, mais nada…

Parece que a senhora falou em uma verba que já existiu para essa construção e que não foi aproveitada?

Antes de entregarmos aquela documentação ao Governador, apareceu aqui um engenheiro da CARPE, dizendo que existia uma verba de 700 e tantos mil cruzeiros, para a construção de nossa escola. Foi um “corre-corre” enorme e conseguimos localizar o Dr. Dácio, até em hora imprópria. O engenheiro pediu quinze dias para a solução do problema do terreno e o Prefeito solicitou um mês e até hoje, nada se resolveu.
O engenheiro havia nos dito que a verba teria que ser gasta e caso não fôsse, seria desviada para outra cidade, onde houvesse maior facilidade de terreno e isto foi o que aconteceu, segundo informação que tive na própria CARPE. Não sei se o Prefeito terá outra informação.
Naquela ocasião, o Prefeito nos indicou um terreno da Prefeitura, próximo da Vila Rosa e muito perto do Rio Paranaíba. O engenheiro achou que fugia totalmente ao nosso zoneamento, além de ser muito perigoso, pela grande proximidade do rio. Além disto, tratava-se de uma região totalmente desabitada. O Dr. Dácio julgava que a construção da escola atrairia muitos moradores para lá, mas o engenheiro disse que o objetivo da CARPE não era fazer política, levando gente para lá, mas sim, o de servir à população e foi totalmente contrário àquele terreno.

O que será preciso fazer então, para se conseguir esta construção?

Na CARPE, informam que se a Prefeitura doar o terreno, a construção será executada.

E esta proposta já foi feita ao Prefeito?

Sim. Fomos em comissão à Prefeitura e depois, comparecemos à Câmara, onde fizemos uma exposição aos Vereadores, que naquele dia estavam quase todos presentes. O Dr. Dácio é um pouco desiludido, mais ou menos assim como eu sou hoje e nos disse que se eles fosse construir realmente, ele daria o terreno. Na Câmara fomos muito bem recebidos, mas houve apenas aquele interesse do momento.

Então o impasse está no terreno?

Sim. O Prefeito alega falta de recursos, para sua aquisição antecipada e a CARPE reafirma que só libera a verba, depois do terreno destinado.

Quer dizer que no momento, tudo está na estaca zero?

Sim. Tudo está paralisado, por isto resolvi ir ao Conselho de Defesa da Comunidade.

O que se precisa fazer agora, para movimentar de novo o assunto?

Creio que seriam novos entendimentos com o Prefeito, com a Câmara dos Vereadores, com a CARPE (que tem hoje outro presidente) e com o Secretário da Educação, que hoje é outro.

Por que isto não está sendo feito?

Parece que fomos vencidas pelo cansaço e pelo desânimo, além disto, o fato de Patos estar incluída no Programa Cidades-Dique, pelo qual segundo fomos informados deverá ser construída esta escola, nos deixou sem possibilidades de agir.

Nas vezes em que vocês foram tratar deste assunto em Belo Horizonte, foi fácil o acesso às repartições e às autoridades?

Não. É muito difícil, pois não temos representação lá. Inclusive, já tive que procurar por deputada da terra de meu marido, que nada têm a ver conosco. Não temos liderança em Belo Horizonte e por isto, não conseguimos falar com o Governador, para reforçar o pedido feito aqui. Se não tiver alguém “lá em cima”, nada se consegue.

O que se pode fazer no momento, para ajudar a solucionar o problema?

Conscientizar o povo de Patos de Minas, de que o Bairro do Brasil é um dos mais importantes e populosos e lembrar aos políticos, que vários deles têm sido eleitos com os votos deste bairro. Acho que o bairro tem dado muito aos políticos, sem receber nada em troca e penso que este é um bairro que pode exigir.

Qual é o apelo que vocês têm a fazer?

Primeiro seria um entendimento entre o Prefeito e a CARPE ou a APC (não sei, por causa do Programa Cidades de Porte Médio), sendo que ele deveria dar o primeiro passo.
Como sabemos que de qualquer maneira, a construção será demorada, gostaríamos de pedir à Prefeitura, que a curto prazo, resolvesse o problema do telhado de nossa biblioteca, que está ruindo. Solicitaríamos à Prefeitura, a mão de obra e se não todo, pelo menos parte do material.
Gostaria de relatar um fato interessante: o atual Secretário da Educação mandou aqui uma funcionária, que veio ao grupo à tardinha, quando não havia sol para aquecer a estrutura metálica e ela achou que nós cuidamos muito bem de tudo, que estava tudo muito limpo e depois, recebemos até cumprimentos da Secretaria por isto.

* Fonte e fotos: Entrevista de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada com o título “Profa. Marlene Campos Pereira Ramos” e subtítulo “Diretora da Escola Estadual ‘Frei Leopoldo’ de 1.º Grau” na edição n.º 44 de 31 de março de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

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