COLÉGIO ESTADUAL E CURSINHOS EM 1982

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TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1982)

Ano após ano, torna-se cada vez mais árdua a luta da juventude brasileira, em busca de uma vaga na Universidade, através da cruel guerra dos vestibulares.

Há muitos anos atrás, o aluno concluía o curso científico em princípios de dezembro e na segunda quinzena de fevereiro do ano seguinte, após dois meses de revisão de matéria, entrava na disputa, preparado e pronto para conquistar a sua vaga, graças sem dúvida alguma, ao bom ensino que lhe fora ministrado, pelo colégio por onde passara.

Os “cursinhos”, muito raros, eram então reservados na maioria dos casos, àqueles que não logravam êxito em sua primeira tentativa, apenas como recurso para “manter a forma”, durante o ano.

A coisa foi mudando, até que os referidos, passaram a proliferar de maneira assustadora e paralelamente, surgiram os “integrados”, criando-se o tabu, de quem não passasse por um ou por outro, já estaria derrotado.

Com isto, tem-se a impressão de que os colégios, de um modo geral, foram se acomodando e relaxando seu ensino, ao ponto de se transformarem quase que em meros fornecedores de certificados, que dariam aos seus alunos, o direito de se inscreverem nos vestibulares. O preparo “para valer”, seria dado nos cursinhos, ou então, àqueles alunos que se transferissem para eles, ao fim do segundo ano, para fazer o “terceiro integrado”, onerando e sacrificando cada vez mais a sofrida família brasileira, com seus custos altíssimos.

Montou-se uma verdadeira indústria, numa concorrência desenfreada, através da publicidade pela televisão, pelo rádio, pelos jornais e revistas e por todos os outros meios de comunicação.

Não podemos nos esquecer de que alguns educandários, sempre procuram ministrar um bom ensino, constituindo-se em exceções, que de acordo com a regra, sempre foram raras e honrosas.

Tomei conhecimento há poucos dias, com grande alegria, que o nosso tradicional Colégio Estadual − oficialmente Escola Estadual “Prof. Zama Maciel” − constituindo-se em uma dessas agradáveis exceções, está preparando convenientemente os seus alunos, ao ponto de neste ano, serem aprovados quase vinte deles, nos vestibulares de várias cidades, para os mais diferentes cursos, inclusive, aqueles considerados os mais difíceis.

Considerando-se que naquele educandário, são matriculados anualmente, oitenta alunos no terceiro científico, divididos em duas turmas de quarenta: uma diurna e outra noturna e sabendo-se que muitos deles, por várias razões, especialmente as de ordem financeira, são impossibilitados de continuar seus estudos, pode esse resultado, ser considerado excelente.

Como sempre tenho dito, nosso povo, lamentavelmente, se preocupa muito em mostrar o lado negativo de nossas coisas, relegando a um segundo plano, o muito de positivo que temos e foi por isto, que tão logo tomei conhecimento do fato, apressei-me em fazer este registro e o faço com grande prazer, cumprimentando os jovens vitoriosos, desejando-lhes novos sucessos e muito mais ainda, apresentando aos valorosos dirigentes  e professores do querido Colégio Estadual, os aplausos pela sua dedicação e pelo trabalho que que eles vêm desenvolvendo em favor de nossos jovens, sem o alarde dos comerciais bonitos e coloridos que há por aí.

* Fonte: Texto publicado com o título “Coisas que não foram ditas” no Editorial da edição n.º 43 de 15 de março de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Eeprofessorzm.wixsite.com.

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