TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1982)
No editorial do penúltimo número¹, disse que estava informado de que nossos votos para Deputado Federal, estavam para ser “vendidos” uma vez mais e que se fossem confirmadas as informações, traria o assunto a público.
No último número, dada a importância da matéria, transcrevemos às páginas 12 e 13, o editorial do n.º 108 do Boletim Informativo, do Padre Tomaz, onde o articulista (O Patureba) afirma:
O que é indigno é “vender” os votos do PDS da região, seja por Cr$ 5.500.000,00, ou por qualquer preço, ao Sr… (o nome está registrado lá, mas deixo deliberadamente de transcrevê-lo, porque não tenho o menor interesse em divulgá-lo) rico empresário de Belo Horizonte, que NADA TEVE E NADA TEM A VER COM NOSSA REGIÃO².
Há muito tempo ouve-se falar na realização desse “negócio”.
Indícios há aos montões. Bastaria o repentino silêncio diante do microfones, de um dos nossos mais ardorosos companheiros na campanha em favor de candidatos nossos, elemento estreitamente ligado àquele partido, para gerar forte desconfiança…
Poderão pedir-nos provas. Mas como posso provar? Todo mundo sabe, que em “negócios” desta natureza, não se passam recibos, nem se firmam documentos, porque ninguém é tão bobo assim. Mas que “todo mundo” está ouvindo dizer, isto está.
Nos últimos dias, passei a não ter mais dúvidas mediante um fato aparentemente muito simples: um rapaz que todos em Patos conhecem, um dos nossos atuais tipos populares, com seu paletó muito comprido e com sua indefectível gravata, tendo em uma das mãos já amarelecida pela decomposição dos elementos do fumo, o seu constante cigarro e na outra, um pacote de calendários, onde se estampa a fotografia daquele “rico senhor”, com sua propaganda política, cercou-me na Rua Major Gote, para entregar-me um deles, com a recomendação: “é nesse que nós precisamos votar”.
Muitos dos leitores haverão de estar indagando o que tem a ver esta ação de um pobre rapaz que perambula por nossas ruas, com a “venda” de nossos votos.
Aí é que está a questão, que praticamente pôs fim às minhas dúvidas, pois o referido rapaz corteja diariamente os elementos da cúpula do PDS local e no meio deles, pode ser visto a qualquer momento, nas rodas do centro da cidade.
Tenho pois, razões de sobra para tê-lo como instrumento de seus protetores.
É muito triste, mas parece ser verdade que o “negócio” foi realmente concretizado.
Procurarei daqui para frente, demonstrar primeiro a “burrice” dos nossos “líderes” (que líderes, hein?), baseado em fatos passados e recentes, mas ocupar-me-ei muito mais, em alertar os nossos eleitores, quanto à responsabilidade de cada um, pois, se houve realmente o “negócio”, a “mercadoria” tão levianamente negociada não é de propriedade de quem a negociou, mas sim, de cada um de nós e é preciso que nós saibamos ter mais dignidade do que eles, dando valor aos nossos preciosos votos, infelizmente tidos como vulgar mercadoria.
* 1: Leia “Escolas Deprimentes em 1982” (penúltimo parágrafo).
* 2: Leia “Eleições de 1982: O Valor do Voto”.
* Fonte: Texto publicado com o título “É… Parece que o ‘Negócio’ foi feito!” no editorial do n.º 46 de 30 de abril de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Perguntaserespostas.jusbrasil.com.br.