São 105 anos de Patos de Minas. 105 anos de emancipação¹. As primeiras casas e ruas, marcos históricos que fazem parte da memória da cidade. Edificações que estão sendo inventariadas através de um levantamento que identifica os pontos históricos e culturais significativos da cidade.
O projeto “Travessia das Gerais” busca justamente isso: resgatar a memória de Patos de Minas. “A comunidade que não tem história não tem rosto nem fala, e o projeto procura resgatar essas lembranças. Não é dar o rosto e a fala, e sim mergulhar para buscá-los”, explica a chefe da divisão de Patrimônio Histórico, Myriam Xavier Furtado.
O “Travessia das Gerais” foi lançado no dia 22, em um desses patrimônios de Patos de Minas: a residência do major Jerônimo Maciel. O projeto é baseado nas ações espalhadas por todo o Brasil, que procuram resgatar a memória de diversas cidades do país.
A história de Patos de Minas está sendo identificada por placas que contam o passado já levantado das 16 construções inventariadas até o momento. A previsão é de que o projeto estenda-se por um período de quatro anos.
O resgate da memória histórica é um objetivo que inclui também a divulgação da história do município, para que possa ser desenvolvida uma consciência preservacionista que possibilite à comunidade a apropriação de suas origens. A melhor guardiã das informações culturais do ontem e anteontem é a própria sociedade comunitária, que registra e guarda as informações ligadas ao aspecto histórico-urbanístico, possibilitando dessa forma o enriquecimento do acervo documental dos órgãos ligados ao patrimônio cultural que nos foi legado por nossos antepassados.
Myriam Furtado também aposta na mobilização da população em torno da importância que se deve dar à conservação e preservação do que ainda resta de muitos e muitos anos atrás, pois esse é um fator primordial para a manutenção da qualidade de vida em relação à arquitetura urbana. O projeto foi batizado pela chefe da divisão e possui diversos significados: a “travessia”, onde através de Guimarães Rosa se tem notícia de que os tropeiros buscavam pouso nas terras patenses, e “gerais” devido à região.
Outra: Patos fica situada entre Brasília e Belo Horizonte, e por isso se constitui em um ponto de travessia. Além disso, as mais expressivas lembranças de nosso passado estão localizadas entre o prédio da cadeia e o do Fórum, e na última sexta-feira foi realizada uma caminhada pelo percurso que liga as duas edificações.
Myriam Furtado explica que a maior parte da população não tem acesso a livros que contam a história de Patos de Minas. “Com o projeto, o povo poderá tomar conhecimento dos fatos ligados ao passado da cidade através de placas. Serão cerca de 80 placas que se transformarão em uma espécie de livro de memórias”, mostra a chefe de divisão. As edificações estão sendo catalogadas levando-se em consideração a idade de cada uma delas, já que as datas de construção vão desde o final do século passado até a década de 1930.
Uma delas é a do major Jerônimo Maciel (rua Padre Caldeira), construída em 1881. Alguns historiadores contam que as paredes da casa foram levantadas com adobe e o esteio curtido durante 4 anos. Alguns materiais usados na construção foram importados da Europa, como o papel de parede e os lustres².
A “Travessia das Gerais” que aconteceu nesta sexta-feira foi encerrada com uma exposição de fotos históricas de Patos de Minas. Durante a caminhada foi feita uma apresentação teatral, que mostrou as casas em prosa e verso para o povo patense. “Nosso objetivo é também o de despertar na população a consciência de que a cidade é o próprio patrimônio, e se ela não cuidar dele estará omitindo sua própria história”, explica Myriam.
Ela conta que no dia 14 de abril seu departamento alcançou uma grande conquista: o tombamento da casa onde funciona a Divisão de Cultura, na avenida Getúlio Vargas³. Até agora já foram abertos quatro livros de tombos: bens arqueológicos, paisagísticos e etnográficos, bens históricos, das artes aplicadas e bens das belas artes. Também está em funcionamento o Conselho de Tombamento, que é composto por cinco membros efetivos: Antônio de Oliveira Melo, Marcelo Pereira Rodrigues, Marcos Antônio Caixeta Rassi, Maria Carmem de Castro Campos Bernardes e Valério Nepomuceno. Os suplentes são Altamir Fernandes, Risoleta Maciel Brandão, Vicente Nepomuceno, Edilson Domingos Vieira e Wando Pereira Borges.
O “Travessia das Gerais” prevê o tombamento de edificações histórico-culturais significativas. Nesta primeira fase, o processo deveria ficar limitado à colocação de placas indicativas com a finalidade de relembrar os dados relacionados com o imóvel. Segundo Myriam Furtado, o proprietário de uma das casas foi contatado durante o dia e derrubou a casa na mesma noite. “Não tivemos tempo de embargar a destruição. O proprietário ficou com medo de tombarmos seu imóvel e acabou ‘tombando-o’ o mais depressa que pode”.
A equipe técnica da Divisão de Patrimônio Histórico, chefiada por Myriam Furtado é composta pelos servidores Sebastião Cordeiro, Eduardo Oliveira, Vânia Inêz de Lima, Fernando Assim de Lima e Dagoberto de Souza Martins.
* 1: Na verdade, são 129 anos de emancipação, já que o fato se deu em 29 de fevereiro de 1868, na condição de “Vila de Santo Antônio dos Patos”. Em 24 de maio de 1892, a Vila foi elevada à categoria de Cidade, e o nome simplificado para “Patos”. Portanto, são 105 anos na condição de Cidade, e não de emancipação, de Município.
* 2: Leia “Casa do Major Jerônimo Dias Maciel”.
* 3: Casa de Olegário Dias Maciel, onde hoje funciona o Museu da Cidade de Patos de Minas-MuP.
* Fonte: Texto publicado com o título acima e subtítulo “Cidade ganha de presente o resgate de sua memória” no n.º 32 de 24 de maio de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: De Lázaro Machado, publicada em 04/08/2017 com o título “Casa de Jerônimo Dias Maciel na Década de 1990”.