O Godofredo é morador de um residencial lá paras as bandas do alto da Avenida Marabá, e que, como é de praxe, surgiu sem rede pluvial e com uma camadinha de asfalto nas ruas. Com ele reside sua esposa Magali e a Mônica, filha única de 6 anos mais conhecida como Moniquinha.
Como todo mundo tem pelo menos uma mania, o Godofredo, infalivelmente, todo sábado e domingo antes do almoço preparava um baita copo de caipirinha. E a Moniquinha embarcava na do pai, que caprichava numa saudável limonada enquanto a garotinha tinha certeza absoluta que bebia caipirinha. A Magali, entrando na brincadeira, dizia:
– Tá gostosa a caipirinha que o daddy fez, filhinha?
Claro, a filhinha respondia que sim. Ah, o daddy se justifica porque o casal é um típico casal brasileiro, adepto do portuglês. Voltando ao boi quente, assim os finais de semana caipirísticos foram transcorrendo na normalidade. Num determinado sábado, a mãe resolveu que no outro dia iriam a uma churrascaria. E realmente foram. Quando o garçom perguntou pelas bebidas, a Moniquinha, ligeira que nem gente correndo para o banheiro com disenteria, mandou ver:
– Caipirinha!
Sorrindo pela gracinha da menininha, o garçom perguntou novamente a ela qual a bebida. Caipirinha! Pai e mãe estavam rindo da gracinha, mas ela foi incisiva:
– Eu quero caipirinha, eu quero caipirinha, todo final de semana o daddy faz caipirinha pra mim, pergunta pra mamãe, eu quero caipirinha…
Tinha muita gente na churrascaria. Os que estavam mastigando, pararam de mastigar; os que estavam levando o garfo à boca, pararam com ele no meio do caminho. Um pai dava caipirinha para a filha de 6 anos? Essa era a pergunta que todos faziam.
Dia desses fiquei sabendo que alguém da churrascaria ligou para a polícia e que a polícia lá esteve com gente do Conselho Tutelar e que o Godofredo e a Magali tiveram uma trabalheira danada para convencer o delegado de que aquele focinho de porco não era tomada. Mais adiante me contaram que nunca mais o Godofredo preparou caipirinha em casa!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.