Na esquina da Avenida Paracatu com a Rua Maestro Randolfo, cujo imóvel ainda está de pé e hoje é uma barbearia, funcionou uma mercearia nos idos tempos, daquelas típicas de bairro. Num belo dia de sol radiante, quando o comércio era tocado pelo Zulmar, isso lá pelo final da década de 1980, adentrou ao local o jovem Joaquim. Tinha oito anos de idade o garoto, e foi logo dizendo:
– Seu Zulmar, quero um bolo.
Zulmar pegou o bolo para mostrar ao garoto.
– Quanto custa?
– Dez cruzados.
– Eu quero um pudim.
Zulmar olhou de soslaio, voltou com o bolo e pegou um pudim.
– Esse tá bão?
– Não, Seu Zulmar, eu quero um bolo.
Zulmar olhou de soslaio de novo, voltou com o pudim e pegou o bolo.
– É quanto mesmo?
– Dez cruzados.
– Eu quero um pudim.
Já avermelhando as faces, Zulmar voltou com o bolo e pegou o pudim.
– Toma aqui dez cruzados, Seu Zulmar, vou levar o bolo.
Aí o calmo e tranquilo Zulmar não aguentou:
– Menino, decida logo o que você quer, bolo ou pudim?
– Eu quero o bolo, Seu Zulmar, vou levar pudim.
Aí, já quase arrancando os cabelos, Zulmar queimou:
– Você não vai levar é nada, e ainda vou reclamar com seus pais que você está me faltando com respeito.
– Seu Zulmar, eu quero é o bolo para levar pudim, pro meu dim, meu padrinho.
Dizem, não se sabe se é uma verdade oficial, por isso quando a lenda torna-se maior que a realidade a gente imprime a lenda, que foi depois dessa que o Zulmar começou a pensar em mudar o ramo de negócios.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.