PÉ TORTO

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Dizem que na década de 1950 havia um jogador do Mamoré que se chamava Canário, e que o craque tinha um pé literalmente torto, deformado mesmo. Certa vez num clássico com a URT, Canário ajeitou a bola com todo carinho para bater um tiro de meta. Deu dez passos para trás e mandou um canhão. Golaço! Sim, o becão marcou um golaço, mas, por incrível que pareça… contra. Como assim? O narrador e o repórter de campo da Radio Clube da época explicaram muito bem como foi o lance:

– Que gol, minha gente, vocês não vão acreditar. Eu não estou acreditando no que acabei de presenciar, um gol contra na cobrança de tiro de meta. O Canário acertou sua própria meta quando eram decorridos quarenta e dois minutos do primeiro tempo. Diga lá, Tavares, explica como isso aconteceu.

– É isso mesmo, Adonildes, inaaacreeeditáaavel, o Canário acertou o ângulo de seu próprio gol. Ele bateu forte com seu pé torto, a bola ao invés de ir para frente subiu estranhamente, fez uma curva fantástica para trás e foi se alojar no fundo da rede do gol de Benário. Que nem você, Adonildes, não estou acreditando no que acabei de ver.

O jogo continuou e num outro tiro de meta o Canário pega a bola com todo o carinho e a deposita suavemente no gramado. Foi quando o goleiro, com olhos arregalados, intercedeu:

– Canário, o que você pensa que está fazendo?

– Ora, Benário, vô batê o tiro de meta.

– Mas não vai mesmo.

– Cumé qui num vô?

– Você está louco, cara? Está querendo marcar outro gol contra?

– Ó, ocê pódi pará, viu? Tá mi gozâno?

– Pois o prezado não vai bater este tiro de meta. Deixa que eu mesmo bato.

– Não, eu é qui vô batê.

Enquanto os dois companheiros de clube discutiam, os outros jogadores olhavam uns pros outros, já aborrecidos com aquilo. Aí o juiz resolveu interceder e ameaçou expulsar os dois se continuassem o entrevero.

– Peraí, seu juiz, você viu o gol que este cara fez no primeiro tempo?

– Eu não tenho nada com isso. Olha lá o técnico de vocês gritando alguma coisa.

– Viu só, Benário, o professô disse pra eu batê, viu seu bobão.

– Ah! é? Seu juiz, eu quero barreira.

– Como é que é?

– Se este cara vai bater o tiro de meta eu quero barreira.

– Mas isso não existe. Onde já se viu barreira em cobrança de tiro de meta?

– Mas eu quero barreira.

– Tá bom, tá bom. Arrume a barreira.

Benário ajeitou a barreira com oito homens. Canário, enfezado, mandou outro canhão. Só que desta vez a bola foi cair lá na grande área da URT. Bem, se isso aconteceu mesmo, não sei, mas, de acordo com o ditado, onde tem fumaça tem fogo!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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