MENINO SEM PACIÊNCIA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Num passado mais ou menos longínquo, o Rio Areado era largo e fundo, e até em secas prolongadas seguia seu curso com bastante água. Durante a temporada de chuva proporcionava enchentes alarmantes. Nesses áureos tempos, foi assaz frequentado por levas e mais levas de pescadores pelo motivo óbvio: era bom de peixe demais da conta, ou piscoso, para os mais estudados.

Certa vez, lá para as bandas da Capelinha do Chumbo, hoje distrito de Major Porto, o quarteto Fernando Dannemann, Manezinho Mendonça, João Cor-de-Rosa e Marlindo ajeitou-se no barranco com a tradicional esperança de todo pescador: encher as capangas de peixes os mais variados, principalmente de Dourados, que hoje em dia é tão difícil de achar quanto uma agulha no palheiro.

Não demorou muito, um menino de lá seus 10 anos de idade, filho de um peão da fazenda onde estavam, sentou-se próximo ao João Cor-de-Rosa e lá ficou só na observância. Foi-se uma hora e o jovem quietinho, de olhos em todos os movimentos do João. E o João começou a ficar implicado com isso:

– Que foi, menino, está querendo alguma coisa?

– Nada não, seu moço, só tô no reparo docê pescar.

Foi-se outra hora e o menino na maior tranquilidade, apreciando a destreza do pescador. E o João cada vez mais irritado, enquanto os outros três pediam calmo ao amigo:

– Ô João, deixa o menino em paz − salientou o Fernando Dannemann.

– Deixa de ser implicante − reforçou o Marlindo.

– Deixa o menino pescar um pouquinho − recomendou o Manezinho Mendonça.

Completadas três horas de pescaria com o menino sentado ao seu lado apreciando todos os seus movimentos, o João resolveu dar uma descansada dos olhos do dito. Levantou-se, espichou o corpo e falou:

– Tá bom, garoto, toma aqui a vara e pesca um pouquinho.

E o garoto, mastigando um talo comprido de capim, respondeu solenemente:

– Quero não, seu moço, tenho paciência prisso não!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

Compartilhe