PRESENTE FRUSTRANTE

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Estava próximo o aniversário de cinco anos do Celsinho, filho único do Alânio e Mariinha. E os dois não estavam dormindo direito por causa da pretensão do guri: um filhote de Dálmata. Faltava uma semana, e o menino não cansava de repetir:

– Eu quero um filhote de Dálmata, eu quero um filhote de Dálmata…

Era de manhã, de tarde e de noite até a hora de dormir:

– Eu quero um filhote de Dálmata, eu quero um filhote de Dálmata…

Aparentemente não havia problema em presentear o filho com um filhote de Dálmata. Mas havia um grave problema com o casal: estava arrochado financeiramente, com a renda batendo pau a pau com as despesas. Os dois tinham ciência que naquela altura do campeonato não teriam condições de manter um cão em casa por causa dos custos: a compra do filhote de raça, ração, vacinas, vermífugos, veterinário e por aí vai. E o Celsinho:

– Eu quero um filhote de Dálmata, eu quero um filhote de Dálmata…

O que fazer? Essa pergunta martelava na cabeça do Alânio quando transitava pelo Centro. Ao chegar à esquina das Ruas Major Gote e Olegário Maciel, um dos fatídicos camelôs que abundam para todo lado despertou sua atenção. E o produto que o camelô vendia provocou um grande sorriso em seu rosto: um cachorrinho movido a pilha que latia igualzinho um de verdade e, glória nas alturas, branco com pintas pretas parecidíssimo com um Dálmata de carne e osso. E o sorriso tornou-se do tamanho da Lagoa Grande quando ficou sabendo do preço: somente 20 reais. Sem pestanejar, comprou e já com uma ideia concebida, foi até a casa dos pais de Mariinha. O plano era os avós convencerem o neto que aquele cachorrinho era muito melhor que um de verdade, pois não precisava de banho, não fazia cocô e etc. E não é que o ardil funcionou?

Chegou o dia! Uma festa simples, só para familiares, mas agradável à criançada. Celsinho abre o presente com uma ânsia tremenda. O pai liga o bichinho, põe no chão e ele sai garbosamente a caminhar pela sala e… não late, nenhuma latidinha, unicamente o som do requereque da engrenagem. Que decepção para o Celsinho, para a Mariinha e o Alânio, que já ia tentar confortar o filho quando um parente falou:

– Alânio, por um acaso você comprou esse cachorrinho de um camelô lá no Centro?

– Foi sim, quem te contou?

– Ih, cara, você foi enganado. Aliás, todos que compraram esse cãozinho foram enganados, porque ele não late não. É que o camelô é ventríloquo. Depois que vendeu todo o estoque deu no pé e sabe-se lá para qual cidade foi.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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