CASAMENTO JÁ ERA

Postado por e arquivado em ARTES, FERNANDO KITZINGER DANNEMANN, LITERATURA.

O casamento já foi uma instituição séria. Antigamente, quando noivos e noivas cumpriam ao pé da letra o preceito religioso do “até que a morte nos separe”, ambos cuidavam de aparar as arestas da vida a dois porque, como se dizia, o matrimônio era o fim da criancice e o começo da criançada. Sendo assim, quando menos se esperava lá estavam marido e mulher comemorando com parentes e amigos as bodas disso, as bodas daquilo, e as bodas daquilo outro.

Mas os tempos modernos trouxeram uma tal de emancipação, e com ela o verbo casar foi trocado em alguns casos pelo verbo ficar, conjugado em espaço de tempo que varia de acordo com o que se passa na cabeça de uma ou de outro, para azar da criançada. Por isso, como nos dias de agora rapazes e moças em número sempre maior consideram que casar de papel passado é coisa superada, do tempo do onça, cada um se vira como pode. E os motéis estão aí mesmo para contar a história.

Mas outro dia o Godofredo, dileto filho de Periquitinho Verde e ex-pára-quedista do exército, explicava no bar do Soneca o por quê da sua solteirice. Dizia ele que certa vez, ao entrar no elevador de um prédio da rua Belchior Fagote, pisou sem querer no pé de uma senhora. Ela lhe deu um empurrão violento e exclamou furiosa: “seu animal!”. Ele então se voltou para pedir desculpas, e a mulher, ao vê-lo, empalideceu, levou a mão à boca e balbuciou: “Oh, me perdoe, pensei que fosse o meu marido”. Nesse momento, garantiu o Godofredo, ele decidiu que o melhor mesmo era continuar solteiro…

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